Foi preso nesta quinta-feira (19) um dos suspeitos de participação no "Golpe do Pix", como foi apelidado o esquema de desvios de doações feitas a pessoas em situação de vulnerabilidade através do telejornal "Balanço Geral", da Record Bahia/TV Itapoan.
Carlos Eduardo do Sacramento Marques Santiago de Jesus foi encontrado no bairro do Cabula, na capital baiana, após ter a prisão preventiva decretada na quinta (18) pela Justiça, e levado para o Departamento Especializado de Investigações Criminais (Deic).
Além dele, Thais Pacheco da Costa também teve o mandado de prisão decretado, mas ainda não foi presa. Os dois são acusados de atuarem como operadores no esquema. Já o apresentador Marcelo Castro e o editor-chefe Jamerson Oliveira, que lideravam o grupo, não tiveram prisões decretadas.
"Ele [Carlos Eduardo] era um dos titulares das contas correntes em que era depositado o dinheiro", detalhou o delegado Adriano Moreira ao g1.
Ao todo, 12 pessoas foram denunciadas pelo MP-BA por crimes como associação criminosa, apropriação indébita e lavagem de dinheiro. Alessandra Silva Oliveira de Jesus, Daniele Cristina da Silva Monteiro, Débora Cristina da Silva Monteiro, Eneida Sena Couto, Gerson Santos Santana Junior, Jakson da Silva de Jesus e Lucas Costas Santos também são réus no mesmo processo, mas também não tiveram prisões decretadas.
O grupo teria se apropriado de R$ 407.143,78, o equivalente a 75% dos R$ 543.089,66 doados pela audiência do programa.
Como era aplicado o Golpe do Pix
Entre 2022 e 2023, o programa "Balanço Geral" da Record Bahia/TV Itapoan exibia reportagens sobre pessoas em situação de vulnerabilidade, seja por problemas de saúde ou financeiros, e divulgava uma chave Pix para que o público pudesse ajudá-las.
O objetivo era angariar doações dos telespectadores, que deveriam ser integralmente repassadas às pessoas necessitadas. Mas, segundo a investigação do Ministério Público da Bahia (MP-BA), a maior parte do valor arrecadado era desviada pelos suspeitos.
Na época, Castro e Jamerson trabalhavam no programa — o primeiro como um dos principais repórteres e o segundo como editor-chefe. Castro entrevistava as vítimas, contando suas histórias e pedindo doações, enquanto Jamerson era o responsável pela transmissão. Na função, ele autorizava a exibição da chave Pix destinada ao recebimento das doações. De acordo com o Ministério Público, ambos estavam cientes de que a chave Pix pertencia a integrantes do grupo.
A suspeita de desvio veio à tona em março de 2023 após uma denúncia informal feita à Record. O jogador de futebol Anderson Talisca doou R$ 70 mil para a família de uma criança que enfrentava problemas de saúde, mas estranhou a diferença entre o valor doado e o que a família recebeu. Ao entrar em contato diretamente com a mãe da menina, a equipe do jogador foi informada que a mulher não recebeu o valor da emissora.
A Record logo iniciou uma investigação interna, identificou casos semelhantes, acionou a Polícia Civil e demitiu os profissionais envolvidos.
O inquérito policial contabilizou 12 casos de desvios, todos eles com participações "efetivas e estáveis" dos jornalistas e de Lucas. Os suspeitos foram indiciados pela Polícia Civil em julho de 2023.
Castro e Jamerson negam as acusações. Em nota, a defesa dos jornalistas destacou que a denúncia ainda não foi recebida pela Justiça.