A Binance, maior corretora de ativos digitais do mundo, pretende ampliar sua presença entre investidores institucionais também no Brasil. A chefe da área de clientes VIPs e investidores institucionais da corretora, Catherine Chen, veio ao Brasil na semana passada com o objetivo de impulsionar a iniciativa junto ao mercado local. Na mira da empresa estão fundos de investimento, family offices e outras pessoas jurídicas interessadas em entrar no mercado de criptoativos.
Em um ano marcado pelo aumento da exposição do capital institucional a criptomoedas graças aos fundos negociados em bolsa (ETFs) de bitcoin à vista nos EUA, a corretora tem investido na área, que fornece soluções para gestores de patrimônio. “É essencialmente uma plataforma que permite que consultores financeiros trabalhem com a Binance. Por meio dela, eles podem acessar a liquidez e a gama completa de produtos, enquanto continuam servindo seus clientes finais”, disse Chen ao Valor.
De acordo com a executiva, o Brasil é um mercado muito relevante, com um crescimento perceptível da demanda de indivíduos de alto patrimônio líquido para alocar parte do capital em ativos digitais. “Estamos em conversa com diversos escritórios de consultoria financeira independente que demonstraram grande interesse nas nossas soluções.”
A Binance diz que está atingindo 100% de crescimento no seu número de clientes institucionais registrados desde o início de 2024. A companhia atua com um sistema de triangulação envolvendo bancos tradicionais, no qual os investidores pessoa física deixam recursos depositados em uma instituição financeira — em caixa ou títulos de alta liquidez — e os libera como garantia para investimentos e chamadas de margem em criptoativos, em vez de investirem diretamente pela plataforma.
O modelo está chegando agora também investidores institucionais no Brasil. “Na Binance, emitimos ao cliente um empréstimo para que ele possa usar na negociação na exchange. Essa forma é muito eficaz para mitigar o risco de contraparte e alcançar o objetivo de negociar criptomoedas sem precisar se expor totalmente ao mercado cripto”, explica. Chen reconhece que grandes institucionais, como fundos de pensão, ainda estão se movimentando lentamente em direção a criptoativos em razão de limitações regulatórias.
“O que observei em relação ao investimento desses grupos em criptomoedas até agora é que alguns já estão no espaço, mas o fazem por meio de veículos ou estruturas de investimento com os quais estão mais confortáveis. No passado, isso geralmente significava investir por meio de fundos de private equity ou venture capital.”
Para a executiva, a curva de aprendizado em relação a criptoativos deve mudar conforme o mercado amadurece e as soluções se aproximam do modelo com o qual os grandes investidores já estão acostumados. “Uma vez que esses grandes investidores decidam entrar, eles o farão em grande escala. Hoje, estão ainda conduzindo suas diligências, mas quando entrarem e começarem a acumular posições em larga escala, precisarão acessar nossa liquidez e a profundidade do nosso livro de ordens.”
Um dos negócios mais importantes para a Binance conseguir continuar escalando atualmente entre os institucionais é área de derivativos, na qual a empresa não pode atuar no Brasil por restrições regulatórias. Neste segmento, a empresa enfrenta, por exemplo, a concorrência da Bolsa de Mercadorias & Futuros de Chicago (CME), com futuros de bitcoin e ether.
A executiva lembra que nas finanças tradicionais existem os chamados “delta one swaps”, derivativos financeiros que permitem obter exposição na performance do ativo sem que o investidor tenha que comprar o próprio ativo. Contudo, ela destaca que apenas um número limitado de participantes tem acesso a esses swaps. “É necessário entrar em contratos da ISDA [International Swaps and Derivatives Association], e o processo é extremamente complexo. Com a introdução dos PERPs [contratos perpétuos da Binance Futures], nós basicamente democratizamos essa classe de ativos. Agora, todos podem acessar o equivalente a um delta para criptomoedas”, disse.
Para ela, a próxima etapa de crescimento da Binance será expandir a presença no mercado de opções, olhando para como foi a evolução do mercado financeiro tradicional nos últimos cem anos. Em relação ao CME, Chen afirma que a empresa de Chicago continua a ser um concorrente respeitado e renomado, mas com diferenças importantes. “Entendemos que para muitos investidores das finanças tradicionais começar com algo familiar, como o CME, pode ser mais fácil. Porém, o diferencial da Binance é ser uma empresa de tecnologia. Podemos nos mover extremamente rápido, sempre ouvindo nossos usuários, coletando feedbacks e ajustando nossa abordagem conforme necessário.”