“Na natureza, nada se cria, nada se perde, tudo se transforma”. A máxima do francês Antoine Laurent de Lavoisier, considerado o pai da química moderna, é uma das metas dentro da CBA (Companhia Brasileira de Alumínio), uma das maiores mineradoras da América Latina. Desde 2018, a empresa pesquisa alternativas para reaproveitar os resíduos da produção de alumínio, usando-os em seus processos internos ou transformando-os em matéria-prima de novos produtos.
O primeiro passo foi fazer um inventário dos resíduos, e o levantamento apontou a existência de 152 resíduos gerados em duas unidades da companhia. Desses, 38% tinham viabilidade econômica. Outros 33,5% são reutilizados em outros processos. E 28% deles serão estudados futuramente, segundo a mineradora.
Hoje, os coprodutos já representam 33% do total de resíduos gerados somente na fábrica de Alumínio, principal planta da companhia, localizada na cidade de mesmo nome, no interior de São Paulo.
De acordo com Leandro Faria, gerente-geral de Sustentabilidade da CBA, em 2023 a companhia investiu R$ 14 milhões no processo de transformação de resíduos. No mesmo ano, a receita obtida com os novos materiais reutilizados foi de R$ 18 milhões, uma alta de 27% em comparação com 2022.
Para o desenvolvimento dos novos produtos, foi montada uma equipe multidisciplinar, com profissionais de diversas áreas da CBA: Meio Ambiente, Suprimentos, Engenharia e Tecnologia. Todos os materiais possíveis de serem reciclados são encaminhados para empresas parceiras para transformá-los em alternativas para o mercado.
Produtos novos
Um dos principais produtos fabricados a partir de resíduos de mineração é o cimento, vendido pela Votorantim, dona da CBA.
Junto com a Universidade Federal de Viçosa (UFV), em Minas Gerais, a CBA criou o Tecnosolo, substrato mineral enriquecido em nutrientes produzido a partir de rejeitos da mineração --- principalmente da argila, que deixou de ser utilizada para a retenção da água nas barragens.
“Desenvolvemos uma tecnologia que elimina a necessidade de barragens na mineração de bauxita, o beneficiamento móvel. Com o processo, devolvemos ao pequeno fazendeiro condições de solo iguais ou melhores aos que ele tinha antes [da mineração]. É uma vantagem econômica”, explica Faria.
Outro resíduo com potencial de circularidade é a sucata de anodo, que pode ser usado como combustível nos fornos em metalurgia de ferro fundido.
Um dos resíduos ainda em estudo é a alumina secundária. A CBA desenvolveu um sistema para armazenar o material até sua secagem, o que até então era um impeditivo para seu uso. Agora, a companhia avalia a aplicação desse produto na indústria cimenteira, e a estimativa é de geração média de 7.000 toneladas por ano.
Outro exemplo é o carbonato de cálcio, resíduo gerado no processo de captação de água da barragem na refinaria de Alumina. Ele pode ser usado na indústria cimenteira e também na agricultura, para a correção de acidez do solo.
Desafios em vista
Embora 28% dos resíduos da empresa ainda não tenham destino, o gerente-geral da CBA afirma que o maior desafio da empresa atualmente é o de logística, ou seja, distribuir os produtos reutilizados, como o cimento, em todo país. “Nosso gargalo é viabilizar a utilização [desses produtos] do ponto de vista econômico. A tecnologia e o produto a gente tem. O desafio é conectar isso com os parceiros da indústria”, analisa.
A sustentabilidade energética é outro desafio, uma vez que a indústria de alumínio é eletrointensiva. A empresa consome 3,2 toneladas de CO2 por tonelada de alumínio líquido produzido e tem meta de reduzir esse uso em 40% até 2030, seguindo os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU (Organização das Nações Unidas).