Queda do tempo de entrega de duas semanas para 7 dias, diminuição da ruptura de estoque de 14% para menos de 2% e menor tempo de estocagem dos produtos no Atacadão (de 50 para 35 dias). Estes foram alguns dos resultados gerados na Mondelez após reformular toda a logística da empresa em parceria com a Accenture.
A logística da multinacional de alimentos é bastante complexa. Primeiro, porque ela tem diversos produtos em seu portfólio - é dona de marcas como Trident, Chiclets e Halls, os chocolates Lacta, Bis e Sonho de Valsa, os biscoitos Club Social, Oreo e Trakinas, os refrescos em pó Tang, Clight e Fresh, as sobremesas e o fermento em pó Royal e o cream cheese Philadelphia. Além disso, porque a companhia vende para uma extensa cadeia de varejistas. Em meados de 2022, a Mondelez, então, contratou a Accenture para identificar e resolver os problemas estruturais da sua logística e da cadeia de distribuição aos clientes.
Para essa missão, a empresa de consultoria desenvolveu uma tecnologia de "gêmeos digitais", uma linguagem de programação em Python para, com a base de dados da Mondelez dos últimos dois anos, identificar as reais necessidades dos clientes da companhia.
“Usando técnicas de simulação e otimização, eu comecei a olhar qual deveria ter sido a política de estoque que otimizava ruptura, de um lado, e investimento em estoque, do outro", explica Renato Ribeiro, diretor-executivo de Supply Chain da Accenture e responsável pela implementação do projeto com a Mondelez. "A gente ia testando números para identificar o ponto ótimo de estoque [para cada cliente]."
Foram identificadas as principais questões da logística da companhia que precisavam ser trabalhadas: o tempo de duas semanas para atendimento dos clientes, desde a venda até a entrega, e a lógica de priorização de venda, que acabava privilegiando os grandes varejistas. “Se, em média, eu entrego tudo em 14 dias, eu tenho que faturar tudo até a metade do mês para reconhecer o faturamento até o final do mês e fechar os números desse período”, diz Ribeiro. “Isso gerava uma corrida muito forte para a colocação de pedidos”.
Outra problemática importante para a Mondelez, e também solucionada pela tecnologia de “gêmeos digitais”, foi a quantidade de produtos vendidos para cada cliente. Em alguns casos, o varejista acabava com mais produtos do que conseguia vender e, em outros, havia a ruptura de estoque, ou seja, a falta de produtos específicos na ponta da venda. Com a análise dos dados dos últimos dois anos, a tecnologia determinou quanto cada cliente deveria receber, diminuindo o tempo de estocagem daqueles produtos e otimizando a logística da fabricante.
Implementação e resultados
A Accenture está implementando as mudanças desde o primeiro trimestre de 2023, quando terminou a identificação dessas questões. O processo de transformação na logística da Mondelez teve início com o maior cliente da empresa: a rede Atacadão. O processo começou com o treinamento do time comercial da empresa de alimentos para comunicar ao cliente a real necessidade dele – o que, muitas vezes, significava o fechamento de um pedido menor.
“Quando o cliente pedia 100, a gente falava: ‘Você precisa de 50. Você já tem estoque deste produto”, exemplifica Renato. “Às vezes, os clientes ficavam receosos. Mas falávamos: ‘Vamos investir nessas outras categorias, um mix de produtos que vai te deixar mais forte, melhorar sua rentabilidade e margem [de lucro]. Era bom para os dois lados”.
E os resultados apareceram depois de 16 semanas: a ruptura de estoque diminuiu de 14% para menos de 2%, o tempo de estoque caiu de 50 para 35 dias e a companhia de alimentos conseguiu cumprir a entrega em 7 dias. Os clientes ainda perceberam que estavam vendendo mais de outros produtos, segundo o diretor-executivo da Accenture. “O próprio Atacadão começou a divulgar isso”, afirma Ribeiro.
Além disso, a nova logística transformou a cultura das equipes da Mondelez para a venda do estoque mais otimizado e personalizado possível para cada cliente – possibilitando, assim, a continuidade dessa logística, mesmo após o fim da sua implementação direta com a Accenture. “Com o projeto, já atingimos cerca de 40% da nossa carteira de clientes do varejo e a meta é expandir para 100% até o fim de 2024”, diz Juliana Bonamin, vice-presidente de vendas da Mondelez.
A partir do começo de 2025, segundo a Accenture, a empresa de alimentos vai continuar a nova logística por conta própria. A consultoria, por sua vez, já recebeu outros clientes interessados na mudança, especialmente da indústria de bens de consumo e de empresas que têm franquias.
* Sob supervisão de Maria Carolina Abe