Nos últimos anos, setembro tem sido um mês especial para algumas importantes causas sociais vistas como tabu no passado, entre elas a luta pelos direitos das pessoas com deficiência. Quanto mais avançamos no século 21, mais se torna impossível ignorar um tema de tamanha relevância e que a cada dia mais empresas compreendem o seu papel na solução de questões sociais tão delicadas. “
A inda temos muito a avançar, mas o crescimento das corporações passa necessariamente pela estruturação de uma estratégia de diversidade e inclusão, que tenha como foco a institucionalização do pensamento equitativo nos processos, práticas, políticas e programas de todas as áreas da organzação”, reflete Tiago Betti, líder de inclusão, diversidade e equidade para América Latina da Dow, um dos participantes da live “Inclusão, Diversidade e Equidade: Por que devemos nos importar?”, promovida nessa quinta-feira pela empresa.
Mediada pela comunicadora Rafa Ferraz, a live também contou com a participação de Priscila Siqueira, psicóloga clínica e fundadora da organização Vale PCD, uma comunidade voltada às pessoas com deficiência e LGBTQIA+, e Silvana Bahia, fundadora da OLABI, espaço dedicado à aprendizagem e a trabalhos na área de tecnologia, inovação social e criatividade.
Durante a troca de experiências de cada um deles, são perceptíveis os avanços nas relações de trabalho, mas como destacou Silvana: “Não vamos resolver uma questão de mais de 500 anos, no caso da discriminação e abusos sofridos pelos negros, da noite para o dia, ou num seminário”. Para ela, as ações afirmativas são importantes, mas é preciso constância. “O investimento precisa ser permanente para nos tornarmos uma sociedade mais inclusiva e responsável”, diz.
Durante a live, a mudança estrutural destacada por Silvana ganhou mais força no depoimento de Priscila, que teve uma condição especial em seu crescimento e, por sua característica física (ela tem nanismo), em algumas ocasiões, foi vista como incapaz. “É frustrante estar em um ambiente de trabalho onde as pessoas acreditavam que eu não daria conta de cumprir com as minhas obrigações por ser como sou”, revela. “As lideranças duvidam da capacidade da pessoa com deficiência”, descrevendo assim como o capacitismo (a discriminação e o preconceito social contra pessoas com alguma deficiência) funciona.
“Nos últimos cinco anos, as empresas têm se esforçado para eliminar comportamentos inadequados de discriminação. Há 15, 20 anos, esse esforço quase nunca era visto”, comenta Umberto Brito, technical manager da Integrare, instituição criada para intermediar a inclusão de fornecedores das mais diversas características junto às organizações.
Umberto foi um dos convidados a fazer uma fala na live. Também foram convidadas Linda Murasawa, da Fractal Business, e Marta Gucciardi, sócia-fundadora da Pontos e Conexões. Em sua participação, Linda enfatizou a necessidade de a governança corporativa estar de mente aberta à diversidade. “O lucro das empresas é consequência das suas ações afirmativas”; e Marta ressaltou que a inovação acontece quando todos são ouvidos. “É o diverso que apresenta a diferença, o novo.
”E como disse Tiago: “É importante ter um olhar distinto para cada grupo social e garantir uma intencionalidade da ação a fim de construir metas de mudança de médio e longo prazo”.
Pratique e mostre: empresas deverão incorporar ações efetivas para comprovar que realmente fomentam diversidade
A live promovida pela Dow trouxe aspectos relevantes para pensar a atuação das empresas em ações afirmativas. Esse tema encontra eco junto a movimentos da sociedade, como verificado em uma iniciativa que promete mudar o ambiente profissional no Brasil.
No dia 16 de setembro, a bolsa de valores brasileira (B3) encerrou uma das suas audiências públicas em que a pauta era a importância do aumento da diversidade nos cargos de liderança.
A diretriz, chamada de “pratique ou explique”, determina que empresas listadas na bolsa sejam transparentes quanto às suas ações de diversidade.
A partir da vigência da norma, prevista para ser publicada no começo de 2023, as empresas deverão ter, ao menos, uma mulher e um integrante de grupos sociais de pessoas pretas, membros da comunidade LGBTQIA+, ou pessoas com deficiência em seu Conselho de Administração e/ou Diretoria Estatutária.
Para companhias sem capital aberto ou fornecedores da iniciativa privada (de qualquer tamanho), essa regra gera significativa reflexão: Se a partir de 2025 a nova composição no quadro de administração existirá, como será possível mudar a cultura corporativa para atrair, reconhecer, reter e desenvolver talentos diversos? Há caminhos para responder a esse questionamento e a Dow, como pioneira na criação de uma estratégia e agenda de inclusão, tem exemplos práticos.
Há mais de 30 anos, a Dow criou grupos de afinidades chamados Employees Resource Groups (ERGs), para desenvolver iniciativas de fomento a diversidade, equidade e inclusão dentro e fora da organização; e os resultados são objetivos.
Atualmente, 70% dos funcionários da empresa e 100% dos seus líderes integram os ERGs, ampliando, assim, as possibilidades de desenvolvimento pessoal e profissional para além dos limites da companhia.
Durante a live, Tiago Betti, líder de Inclusão, Diversidade e Equidade para América Latina da companhia, detalhou o tema. “O trabalho dos ERGs influencia decisões de negócio e pessoas e, como consequência, impacta diretamente na relação com a cadeia de valor e com nossas comunidades, gerando crescimento e melhores resultados para todos os parceiros que estão envolvidos na agenda de inclusão.”
A importância de ambientes de trabalho mais dinâmicos
A Organização Internacional do Trabalho (OIT) reforça a importância da reflexão sobre inclusão, diversidade e equidade para o desenvolvimento dos ambientes corporativos. Seu mais recente relatório sobre o tema Transforming E n t e r p r i s e s t h r o u g h Diversity and Inclusion (Transformando Empresas pela Diversidade e Inclusão) alerta para o fato de que grande parte das organizações não associa o processo de inovação à diversidade. O relatório descobriu que só para a metade dos entrevistados a diversidade e a inclusão são relevantes recursos de fomento à cultura e estratégia em seus trabalhos.
Esse resultado foi obtido pela OIT seguindo uma metodologia distinta daquela de levantamentos anteriores. A novidade dessa vez foi o fato de a OIT ter elaborado uma amostragem de pesquisa considerando tamanhos variados de empresas, em economias de renda média- -baixa e média-alta. Antes, o foco do levantamento estava em empresas grandes, majoritariamente multinacionais, sediadas em países ocidentais de alta renda.
Nesse estudo, a organização reuniu informações de um espectro mais diversificado de colaboradores, considerando níveis gerenciais e executivos seniores, sobretudo, a diversidade etária, de gênero, orientação sexual, grupos étnicos, raciais e religiosos, além de pessoas com deficiência e pessoas que vivem com HIV (vírus da imunodeficiência humana, causador da aids).
“Um local de trabalho igualitário, diversificado e inclusivo é fator-chave de resiliência e recuperação”, afirmou Manuela Tomei, diretora do Departamento de Condições de Trabalho e Igualdade da OIT, no relatório da organização. O levantamento concluiu que a diversidade e a inclusão desempenham um “papel crítico para o alto desempenho dos trabalhadores, consequentemente ampliação da atuação das empresas, melhora das economias e das sociedades”. O estudo ainda ressalta: “Se a inclusão continuar sendo um privilégio de quem está em níveis hierárquicos superiores, o desempenho das empresas estará comprometido”.
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