Nos últimos meses, as áreas de inovação no Brasil enfrentaram um dos maiores desafios para justificar sua existência, e a lista de problemas é extensa. Entre os argumentos mais mencionados, destacam-se o aumento do custo de capital, a pressão por resultados financeiros de curto prazo, a falta de estrutura nas organizações e a escassez de equipes capacitadas para executar as entregas. Mas seriam essas justificativas adequadas ou uma forma de encobrir a baixa maturidade de muitos projetos inovadores atualmente?
A visão de vários executivos, especialmente em conselhos de administração e diretorias, aponta para um desalinhamento entre projetos de inovação e as equipes de negócios. O entendimento é de que, ao focar em resolver problemas operacionais e demandas de clientes, muitos projetos de inovação, muitas vezes vinculados a equipes de pesquisa, desenvolvimento e tecnologia, acabam perdendo o foco no impacto direto e no valor agregado ao negócio. Esse distanciamento revela uma desconexão entre as práticas de inovação e as necessidades reais do mercado.
Algumas causas podem estar relacionadas ao processo de juniorização das equipes de inovação. Embora essas equipes, em geral, sejam compostas por pessoas bem-intencionadas e criativas, falta-lhes o entendimento profundo do negócio. Em um ambiente de inovação caracterizado pela busca de novas ideias e modelos de negócio, muitas organizações, inclusive grandes corporações, reduziram a importância das áreas de inovação e pesquisa. O resultado foi a eliminação de diretorias de inovação em favor de funções mais simplificadas, com equipes responsáveis por coordenar projetos de inovação aberta. Em vez de focar em projetos estruturantes e com orçamentos bem definidos, o que se observa são provas de conceito em modelos de testes, com pouca materialidade comprovada. Isso poderia ser interpretado como uma forma disfarçada de reduzir investimentos em inovação.
Ao mesmo tempo, essas mesmas equipes de inovação, com promessas de revolucionar os negócios e promover crescimento exponencial, acabam enfrentando uma realidade difícil, pois a viabilidade de suas propostas em termos de curto prazo ainda é incerta. Essa assimetria entre o que é prometido e o que é entregue tem causado desconforto em muitas organizações, resultando na redução de investimentos, diminuição de equipes e até perda de comprometimento com a inovação.
Por outro lado, as equipes de Tecnologia da Informação (TI) têm se destacado em vários aspectos. Com profundo conhecimento técnico em áreas como infraestrutura digital, análise de dados e visão estratégica, essas equipes têm demonstrado capacidade para desenvolver projetos alinhados às necessidades de negócios, gerenciar orçamentos e comprovar o retorno de seus investimentos. Isso tem sido crucial para o sucesso de muitas organizações.
Diante disso, talvez seja o momento de refletir sobre o que, até pouco tempo, se entendia por "projetos de inovação". Um bom ponto de partida seria vincular a inovação ao planejamento estratégico das empresas, definir um portfólio robusto de projetos, estabelecer métricas claras de resultados e investir em equipes altamente capacitadas. Além disso, criar um processo que inicie com boas agendas de Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) e passe por acelerações, incubadoras, parcerias estratégicas e fusões e aquisições de startups poderia ser um passo importante para um renascimento da inovação de fato. Integrar as agendas de inovação e TI pode gerar uma sinergia positiva para o negócio, trazendo benefícios mútuos.
Já passou da hora de a inovação retomar o seu devido lugar nas agendas estratégicas, com projetos estruturantes e de impacto real para o país. É hora de investir em patentes, desenvolver projetos sólidos e focados na criação de valor e geração de riqueza. Assim, os eventos superficiais e as modinhas de inovação sem profundidade técnica, as promessas vazias e os resultados questionáveis devem dar espaço para algo mais substancial, que realmente contribua para o avanço das empresas e da economia brasileira.
Hugo Ferreira Braga Tadeu é diretor do Núcleo de Inovação e Tecnologias Digitais da FDC. Conselheiro de empresas e coordenador de estudos com WEF, IMD e PwC.