Ainda em 2024, vou completar 60 anos. Como não venho de uma família de longevos (minha mãe morreu aos 65, e meu pai aos 58), é óbvio que fico encucada com a minha expectativa de vida. Quanto tempo ainda me resta? Há alguns dias, o IBGE me deu um tronco no qual posso me agarrar: segundo a Tábua de Mortalidade 2023, eu posso viver até os 84 anos, uma vez que a esperança de vida aos 60 anos para mulheres brasileiras é de 24 anos; para os homens, 20,7. Nada mal, certo? São mais de duas décadas pela frente para continuar sendo produtiva, desbravando o mundo, aprendendo e ensinando. Só para colocar em contexto: em 1940, quem chegava à minha idade esperava viver, em média, mais 13,2 anos.
É interessante avaliar como esses dados mudaram ao longo do tempo - no geral, a expectativa de vida do brasileiro aumentou mais de três décadas desde 1940, para 76,4 anos -, mas também como eles divergem entre países. Vejamos alguns exemplos com base em dados disponíveis em 2023, sempre pensando nos sexagenários:
- Japão: +24,2 anos. O país mais longevo do mundo é conhecido por seu sistema de saúde eficiente e estilo de vida saudável, mas enfrenta doenças crônicas, como hipertensão e diabetes, que afetam a mortalidade após os 60 anos.
- Suécia: +25,1 anos. Os países nórdicos, como a Suécia, geralmente apresentam boas condições de saúde pública e qualidade de vida até o fim da vida.
- Estados Unidos: +23,5 anos. Apesar de ter um sistema de saúde avançado, o país mais rico do mundo enfrenta desigualdades socioeconômicas e questões de saúde pública que impactam a esperança de vida.
- Índia: +18,3 anos. Com 1,4 bilhão de habitantes (muito próximo ou já ultrapassando a China como país mais populoso do mundo), a esperança de vida aos 60 anos no país asiático é impactada por fatores como pobreza e acesso limitado a serviços de saúde.
- África do Sul: +15,6 anos. A prevalência de doenças transmissíveis e a desigualdade social afetam a expectativa de vida dos idosos sul-africano.
Voltando ao Brasil, o aumento geral da longevidade reflete melhorias nas condições de vida, maior acesso a serviços de saúde e à educação. São boas notícias, mas que impõem desafios para o país. Se temos mais pessoas vivendo mais tempo após a aposentadoria (aquela paga pelo INSS, que é diferente de parar de trabalhar), precisamos pensar em quem vai pagar a conta. Também não vejo nosso país preocupado em promover políticas públicas para garantir qualidade de vida aos idosos pobres. Viver mais não significa necessariamente viver melhor. Como pensar em saúde preventiva se nem das emergências damos conta?
Eu tomo diariamente três medicamentos para doenças crônicas que me custam uma boa parcela da renda mensal, mas eu tenho de onde tirar o dinheiro. Sabemos que a maioria das pessoas chega aos 60 sem poupança alguma. Para as mulheres, parece ser uma coisa boa viver mais que os homens, mas não é tão simples assim. Passamos a vida ganhando menos que nossos pares masculinos e, portanto, chegamos aqui com menos dinheiro guardado. E viver mais pode significar novas e mais graves doenças crônicas e necessidade de mais cuidados com o bem-estar. Temos que fazer mágica para o dinheiro não acabar antes de nós. Da minha parte, vou aproveitar a virada de idade (e de ano) para a tradicional reflexão sobre o que fazer com os 24 anos que me restam. Aceito sugestões.
*Maria Tereza Gomes é jornalista, mestre em administração de empresas pela FEA-USP, CEO da Jabuticaba Conteúdo e mediadora do podcast “Mulheres de 50”