Conheci Olga Stankevicius Colpo, 72 anos, na década de 1990 quando eu era repórter de economia e negócios e ela já despontava como uma estrela no mundo das consultorias. Foi a primeira mulher a ser sócia de uma grande firma do setor (a extinta Coopers & Lybrand), quando tinha pouco mais de 30 anos. Filha de pais poloneses, Olga sempre se destacou pela altivez, elegância e pela receptividade às entrevistas, que geralmente tratavam de gestão de pessoas, liderança e mudanças organizacionais. Recentemente, nos reencontramos, e hoje ela brilha no universo dos conselhos de administração. Desde maio, é presidente do colegiado do Banco BMG, instituição mineira que cada vez mais está conectada ao público 50+. Ela, que é casada há 51 anos, mãe de dois filhos e avó de uma menina de 8 anos, também é membro do conselho da São Martinho e integra o Comitê de Sustentabilidade da RaiaDrogasil. A seguir, trechos de uma entrevista por vídeo na qual falamos sobre seu atual momento e inquietações.
Desafios de ser chairwoman
Para Olga, seu papel é manter uma agenda estruturada no conselho, equilibrando discussões entre o presente e o futuro e garantindo que o grupo desafie a gestão. Segundo ela, dois dos principais papéis de um conselho são aprovar a estratégia e escolher o CEO, decisões que têm impacto direto no sucesso da empresa. Olga destaca que o conselho deve ser espaço de confiança, onde os CEOs compartilhem não só sucessos, mas também dificuldades e incertezas, permitindo um suporte mais efetivo.
Uso de IA nos conselhos
Olga expressa preocupação com a possibilidade de, no futuro, uma inteligência artificial ocupar um assento em conselhos de administração. “Isso me assusta, porque você não sabe a qualidade do algoritmo por trás, certo?”
Nota: até o momento, não há conselheiros de administração totalmente baseados em inteligência artificial oficialmente reconhecidos em grandes corporações. No entanto, IAs estão sendo usadas como ferramentas de suporte à decisão em várias áreas de governança corporativa, auxiliando em análises de dados, previsões financeiras e em processos de tomada de decisão estratégica. Há casos experimentais em que IA foi integrada em conselhos consultivos, como na Deep Knowledge Ventures, uma empresa de capital de risco, que usou uma IA chamada “VITAL” (Validating Investment Tool for Advancing Life Sciences) para analisar investimentos e auxiliar o conselho na escolha de portfólios de empresas. No entanto, a IA não tinha poder de voto, mas influenciava as decisões ao fornecer insights baseados em análise de dados.
O conselho do futuro
Para Olga, os conselhos do futuro devem reunir profissionais de diversas áreas do saber, discutindo e definindo o que significa inovação em governança e como ela deve ser monitorada e gerida nas organizações. Esses conselhos também precisarão interpretar tendências globais e seu impacto nas estratégias empresariais. “O conselho do futuro será composto por especialistas em vários temas, capazes de agregar valor de forma diferenciada”, explica.
Reuniões presenciais
Olga prefere as reuniões presenciais nos conselhos dos quais participa. Para ela, confiança e intimidade são essenciais ao bom funcionamento de um conselho, e esses aspectos se constroem mais facilmente no contato pessoal. “Olhar no olho” faz toda a diferença.
Aprendizado contínuo
A conselheira conta que assumiu, há muitos anos, o compromisso de fazer ao menos um curso por ano, alternando entre Brasil e exterior. Quando deixou a carreira executiva (de 2009 a 2016, foi CEO da Participações Morro Vermelho, holding dos controladores do grupo Camargo Corrêa), participou de uma turma na Singularity University, ao lado de Roberto Campos Neto, atual presidente do Banco Central, e Fábio Coelho, presidente do Google. Ela também frequenta seminários temáticos para se manter atualizada. “É importante sair da zona de conforto e se expor a novos ambientes e pontos de vista”. Em novembro, fará parte da Jornada Técnica do IBGC para a China.
Tendências globais
Olga busca estar conectada com o que acontece no mundo, lendo relatórios das quatro grandes consultorias (Deloitte, PwC, EY e KPMG) e do Fórum Econômico Mundial. Suas principais preocupações incluem o futuro da globalização, as transformações das “guerras frias” em “guerras tecnológicas” e o impacto da tecnologia nos modelos de negócios.
Envelhecimento da população
Embora ainda pouco discutido, Olga acredita que o envelhecimento da população será um dos maiores desafios do futuro. Ela destaca o foco do Banco BMG em atender o público 50+, especialmente nas classes C, D e E.
Quer viver até os 100 anos?
Olga conta que cuida muito bem da sua saúde, faz check-ups anuais e, mesmo sem gostar, há 20 anos começou a praticar exercícios físicos. “Não planejo viver até os 100 anos. Acredito que o mais importante é viver com qualidade. Vi familiares chegarem a idades avançadas, mas com muitas complicações nos últimos anos de vida. Então, tudo depende de como será a vida até lá.”
*Maria Tereza Gomes é jornalista, mestre em administração de empresas pela FEA-USP, CEO da Jabuticaba Conteúdo e mediadora do podcast “Mulheres de 50”