No último domingo de setembro, eu, meu marido Geraldo e o casal Heloísa e Sandro, amigos vindos de Ubá, Minas Gerais, saímos de casa às 15h. Fomos de metrô até a Barra Funda e caminhamos mais um quilômetro até o estádio onde Eric Clapton, aos 79 anos, faria seu último show no Brasil pela turnê comemorativa de seus 60 anos de carreira. O sentimento do quarteto era de uma aventura jovial, carregada de memórias afetivas dos tempos em que ir a shows de rock era algo comum. Chegamos cedo, pois nossa meta era conseguir boas cadeiras, de onde pudéssemos ver e ouvir o ídolo. Embora o jornalista Gabriel Zorzetto, do Estadão, tenha escrito que Clapton “fez sua guitarra brilhar”, para nós o artista era um ponto distante no imenso palco e, devido à acústica ruim, mal conseguimos distinguir um sucesso do outro.
Pode parecer, mas não é sobre nossa experiência negativa que quero escrever. O que me fez trazer o show à tona é a quantidade de roqueiros na faixa dos 80 anos que estão em turnê pelo mundo neste momento. O também britânico Paul McCartney, de 82 anos, esteve por aqui novamente esta semana com a turnê Got Back Tour, que o manterá na América do Sul e na Europa até 19 de dezembro, quando encerra em Londres. Nos Estados Unidos, os Rolling Stones (com Mick Jagger aos 81 anos) fizeram 19 shows entre abril e julho com a turnê 2024 Hackney Diamonds, passando por lugares como Las Vegas, Orlando, Los Angeles e Chicago. Ainda nos EUA, os Beach Boys, com 60 anos de carreira, têm agenda de shows até março do ano que vem. Brian Wilson, fundador e líder da banda, considerado um dos maiores músicos do século 20, está com 82 anos.
E há Bruce Springsteen, de 74 anos, que, com a banda E Street Band, iniciou sua turnê em agosto nos Estados Unidos e tem agenda de shows na América do Norte e Europa até julho do próximo ano. Springsteen é famoso por seus shows longos e animados e, de acordo com notícias, a idade não reduziu seu ritmo. Nesta turnê, ele tem se apresentado por três horas seguidas sem demonstrar sinais de fadiga, frequentemente começando a próxima música enquanto a última ainda está tocando. Um crítico do blog de música americano Stereogum escreveu: “Tive que sentar várias vezes para descansar as pernas; enquanto isso, um cara da idade do meu pai estava correndo pelo palco, balançando sua famosa bunda em uma passarela e cantando hinos no volume máximo.” A análise desses casos me leva a algumas conclusões sobre longevidade e envelhecimento ativo:
Saúde física e mental: Ícones como Eric Clapton, Bruce Springsteen, Paul McCartney e Mick Jagger demonstram que a idade avançada não é um impeditivo para a realização de performances extenuantes e longas turnês. Esses artistas, com idades entre 74 e 82 anos, ainda estão ativos, destacando-se pela boa saúde física e mental.
Paixão e propósito como combustíveis: A persistência e o entusiasmo com que esses músicos continuam trabalhando sugerem que ter um propósito, como a música para eles, pode ser fundamental para se manter ativo ao envelhecer. Isso mostra como o amor pelo que se faz pode motivar e dar sentido a essa fase da vida.
Resiliência e adaptação: Esses artistas passaram por mudanças culturais e tecnológicas ao longo das décadas, desde a evolução do mercado musical até a transformação do entretenimento digital. Eles se reinventaram, se adaptaram a novos contextos e se mantiveram relevantes.
Combate ao preconceito: O fato desses músicos continuarem lotando shows ao redor do mundo mostra uma mudança no conceito de “idade adequada” para o trabalho e o lazer. Para o público, o valor da experiência e a qualidade da música superam a expectativa tradicional de que alguém "é velho demais" para alguma coisa.
A importância da conexão humana: Springsteen e sua banda, por exemplo, são descritos como “um espetáculo de alegria pura e conexão humana”, refletindo a importância das relações e interações sociais para o bem-estar na idade avançada. Isso mostra que o envelhecimento saudável também está ligado ao pertencimento e às interações sociais.
*Maria Tereza Gomes é jornalista, mestre em administração de empresas pela FEA-USP, CEO da Jabuticaba Conteúdo e mediadora do podcast “Mulheres de 50”