Ciência e Saúde

Apesar de ter alta incidência globalmente e com mais de um milhão de novos casos anuais no Brasil, foram cerca de 30 anos sem que uma nova terapia para o câncer de próstata fosse disponibilizada. Esta realidade está prestes a mudar para os pacientes brasileiros. A farmacêutica Novartis recebeu aprovação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para aplicar a primeira terapia alvo radioligante do país.

O nome é complexo, mas a prática é simples de entender. A terapia combina uma tecnologia capaz de atingir diretamente o alvo — ou seja, as células cancerígenas que precisam ser atacadas — com um elemento radioativo que pode reduzir em até 38% o risco de morte em pacientes resistentes a outros tipos de tratamento.

Segundo Jorge Garcia, médico oncologista colombiano especialista em câncer de próstata e que atua nos EUA, apesar de a terapia estar aprovada apenas para uso em pacientes em estágio avançado da doença, a expectativa é que, com o tempo, o uso se amplie. O especialista esteve recentemente no Brasil para apresentar a nova terapia para a classe médica local.

“A qualidade de vida durante o tratamento é tão importante quanto a sobrevivência. Viver mais é ótimo, mas como você vive durante esse tempo é fundamental”, aponta o médico. Estudos mostraram que pacientes tratados com o radioligante tiveram menos efeitos colaterais prejudiciais do que aqueles que enfrentam métodos mais tradicionais.

O Brasil não é o primeiro a aprovar a terapia radioligante. A aprovação também foi concedida por agências regulatórias internacionais, como a FDA dos EUA, a Agência Reguladora de Medicamentos e Produtos de Saúde (MHRA) do Reino Unido, a Health Canada no Canadá, a Agência Europeia de Medicamentos (EMA) e a Comissão Europeia (CE).

O que é a terapia radioligante?

Segundo a Novartis, o Pluvicto, nome comercial do medicamento, é indicado para pacientes resistentes ao agente hormonal ARPI e à quimioterapia à base de taxano e que apresentam metástases — um quadro mais avançado de câncer, no qual a doença se espalha para outras áreas do organismo.

Além de se enquadrarem no estágio avançado, os exames laboratoriais e de imagem devem indicar um marcador específico — o PSMA, um antígeno de membrana específico da próstata. É nesse ponto que a vipivotida tetraxetana (177 Lu) atua, sem danificar células saudáveis, como ocorre com as terapias tradicionais.

Uma vez ligadas ao PSMA, as emissões de energia do radioisótopo danificam as células-alvo, comprometendo sua capacidade de replicação e/ou desencadeando a morte celular.

“É uma abordagem muito nova e inovadora para tratar homens com câncer de próstata porque, em primeiro lugar, mecanicamente, tem uma ação diferente de tudo o que foi desenvolvido antes”, explica Garcia.

No Brasil, a aplicação da nova terapia conta também com o trabalho do oncologista Diogo Rosa e de Dalton Anjos, especialista em medicina nuclear.

Logística complexa

Lidar com elementos radioativos já exige cuidados especiais, mas, no caso do Pluvicto, a logística é ainda mais complexa. Até o momento, o produto que abastece o Brasil é produzido apenas na Itália.

Quando algum paciente necessita da medicação no Brasil, toda a logística precisa ser feita em até cinco dias. Isso porque o fármaco tem uma deterioração gradual — chamada meia-vida — e deve chegar ao paciente ainda na dose indicada para o tratamento.

Com a expertise desenvolvida em outros países, a Novartis conseguiu desenhar uma logística eficiente que não compromete o tratamento dos pacientes.

A embalagem para o transporte do fármaco é feita de chumbo, para evitar contaminação radioativa, mas é fácil de carregar, já que o cilindro não ultrapassa 15 centímetros. O medicamento é produzido sob demanda na Itália e despachado quase que imediatamente para os pacientes.

Para garantir o prazo, a Novartis firmou parceria com várias companhias aéreas. É preciso alinhar os horários de decolagem e as rotas para garantir que não haja atrasos na entrega. Caso isso aconteça, o medicamento perde sua eficácia.

“A Novartis sozinha não faz nada se não houver essa integração e colaboração bem sincronizada entre todos os parceiros. O remédio tem que chegar ao Brasil na dosagem necessária para o paciente”, explica Lenio Alvarenga, diretor médico da Novartis Brasil. “O remédio sai da Itália, pega o primeiro voo disponível, geralmente no próprio país ou na Suíça, e vai até o aeroporto de Guarulhos. De lá, segue para o centro de tratamento onde o paciente está.”

Para agilizar o processo, a companhia facilita algumas das etapas burocráticas necessárias junto a agências reguladoras, como a Comissão Nacional de Energia Nuclear, a Anvisa e a Receita Federal.

“A colaboração com as agências do governo foi fantástica. A abertura e o interesse que eles demonstraram por esse novo tratamento, pela inovação, e como isso pode beneficiar os pacientes, foi muito positivo”, explica Alvarenga.

Apesar da logística complexa, a Novartis já está ganhando experiência em outros territórios, como os Estados Unidos, onde milhares de pacientes recebem o tratamento diariamente. Antes de efetivar o trajeto escolhido, a companhia realizou testes com placebos radioativos para entender exatamente como a cadeia de suprimentos da medicação funcionaria.

Segundo a Novartis, a companhia está preparada para iniciar as aplicações do Pluvicto ainda este ano e tem toda a capacidade necessária para atender à demanda mensal do país de forma eficiente.

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