Uma nova proposta de financiamento para ações contra a crise climática foi divulgada hoje, último dia oficial da COP 29, em Baku, no Azerbaijão. A ideia é ajudar países em desenvolvimento contra a crise climática. Apesar de esta sexta marcar o encerramento programado, a COP não deve terminar ainda. O rascunho prevê um fundo por ano de pelo menos 1,3 trilhão de dólares ou 7,5 trilhões de reais até 2035 e também estabelece que a contribuição das nações ricas será de até 250 bilhões de dólares anuais. O novo valor passaria a valer em 2026 se fosse aprovado. A ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima do Brasil, Marina Silva, fez balanço da COP em entrevista a Daniela Chiaretti, repórter do Valor Econômico enviada a Baku em parceira com a CBN, e aos âncoras do Estúdio CBN, Tatiana Vasconcellos e Fernando Andrade. Marina Silva declarou que, na conferência, 'o essencial não está adequadamente contemplado' ainda, já que não se definiu o financiamento para os países em desenvolvimento: "Essa COP tem o objetivo principal de viabilizar os meios de implementação, os recursos, de países desenvolvidos para ajudar os países em desenvolvimento, principalmente os mais vulneráveis, a cumprirem com suas metas de redução de CO2 na agenda de mitigação. Infelizmente, o valor que foi colocado pelos países desenvolvidos, de 250 bilhões de dólares por ano, não é suficiente. E o que nós estamos propondo é que se tenha um compromisso de 300 bilhões até 2030 e, a partir de 2035, 390 bilhões, para um montante que precisará chegar, segundo os especialistas de alto nível sobre mudança do clima e finanças, chegar num montante de 1,3 trilhão de dólares para poder fazer jus ao desafio de enfrentar o grave problema da mudança do clima. Então, esse é um texto que ainda não resolve, mas estamos todos imbuídos aqui de encontrar um caminho." Sobre a possibilidade de não se chegar a uma resolução nesta COP, e postergar as discussões para a COP-30, que acontece no Brasil, Marina Silva diz que "não é mais um problema para a COP-30, é um problema para o sistema de multilateralismo climático, sobretudo no contexto geopolítico da possível, provável saída dos Estados Unidos do Acordo de Paris." "E mais do que é um problema para a COP30, para o sistema em relação às convenções de mudança do clima, biodiversidade, desertificação, é um problema para a humanidade. Porque nós não podemos ter metas robustas de redução de emissão, de adaptação, se não tiver os meios financeiros e tecnológicos para implementar. É como você fazer uma declaração de amor para o seu filho e você não cuidar dele. Então, esse filho, a Terra, que precisa do nosso cuidado, já tem bastante regulação, o que precisa agora é de meios de implementação para que a gente possa combater desertificação, ter contribuições de redução de emissão de CO2, fazer a transformação do modelo de desenvolvimento, ter uma agenda forte de adaptação para as situações de vulnerabilidade, como acontece no Rio Grande do Sul, como aconteceu em Petrópolis, como está acontecendo na Amazônia, em vários lugares. Os países em desenvolvimento de renda média baixa, eles não têm como fazer isso sem ajuda, por isso que os países desenvolvidos têm que honrar o compromisso do Acordo de Paris, fazendo um aporte de recursos que esteja à altura do compromisso assumido." A ministra ainda abordou os impactos da eleição dos Estados Unidos, com Donald Trump escolhido para ser presidente do país. Marina Silva reconhece problemas com o posicionamento de Trump em relação a sair de acordos climáticos, mas defende que empresários e estados americanos comprometidos com essa agenda não cancelarão seus investimentos. "Nós temos sim uma clara sinalização do presidente Trump de sair do acordo de Paris, obviamente que sendo o segundo maior emissor do mundo, é um prejuízo enorme para toda a questão dos esforços de enfrentamento da mudança do clima, para o multilateralismo climático, mas os países que estão comprometidos com essa agenda têm a obrigação de fazer agora o mesmo que já fizemos no passado. No passado, os Estados Unidos não aderiram ao protocolo de Kyoto, ao Acordo de Paris e o mundo caminhou com essa agenda, mas esse mundo mudou muito. Então, os estados americanos que são independentes, que têm uma agenda robusta de enfrentamento à mudança do clima, eles não vão parar por causa do governo Trump, eles têm autonomia. Os empresários que já estão fazendo investimentos robustos, de quase um trilhão de dólares, do governo Biden para a questão de combate à inflação, que era um nome que ele botou, mas na verdade é investimento em infraestrutura voltada para o enfrentamento da mudança do clima. Esses empresários também já estão dizendo que não aceitam qualquer paralisação. E acho que uma coisa importante que o governo Biden pode fazer é anunciar as NDCs americanas antes de sair do governo. Se isso acontecer, será muito importante para a sociedade americana e será também muito importante para os governos estaduais e também para o mundo. É a partir daí que a opinião pública global vai poder ter uma referência do que os Estados Unidos deveriam estar fazendo e o que não estão fazendo." Além da ministra, o secretário-executivo do Observatório do Clima, Marcio Astrini, também se manifestou sobre a COP-29. Para Astrini, o investimento ajudaria o Brasil no combate ao desmatamento e seca na Amazônia. O documento apresentado, segundo ele, será rejeitado por líderes de países em desenvolvimento: "Muitos projetos não conseguem sair do papel porque não tem dinheiro. Os países não querem se comprometer com mais ações e os países ricos simplesmente não colocam o dinheiro na mesa. Esse é um impasse muito grande, que paralisa a conferência". O rascunho do texto também não estabelece metas precisas para redução do uso de combustíveis fósseis, que são os principais responsáveis pelo aquecimento global. Os Estados Unidos declararam em nota oficial que reforçam o entendimento de que parte desses recursos dependerá da participação ativa do setor privado e de bancos multilaterais. Mais recente Próxima Impasse sobre valor repassado a países em desenvolvimento permanece na COP-29, que não termina nesta sexta (22)