O dólar fechou em forte alta nesta quarta-feira (18) e bateu mais um valor recorde de cotação: R$ 6,2672.
Além do mau humor do mercado financeiro com os debates sobre o pacote fiscal no Congresso Nacional, a cotação também foi influenciada por uma fala do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, sobre especulações do mercado financeiro.
No início da tarde, o governista disse não descartar que esteja acontecendo um ataque especulativo, mas afirmou acreditar que o dólar vai se acomodar. De acordo com ele, o câmbio flutua devido a pendências e clima de incertezas, mas disse que crê numa acomodação.
"Nesse momento em que as coisas estão pendentes, tem um clima de incerteza que vai fazer o câmbio flutuar, mas eu acredito que ele vai se acomodar. Tenho conversado muito com as instituições financeiras sobre previsão de câmbio para o ano que vem. Até aqui, nas conversas com as grandes instituições, as previsões são melhores do que aquelas que os especuladores estão fazendo. Mas, enfim, o câmbio flutua, o Banco Central tem feito intervenção, o Tesouro hoje passou a atuar também na recompra de títulos."
Corte de juros nos EUA
No final da tarde, o Federal Reserve (Fed), banco central dos Estados Unidos, deu o pontapé que faltava para o dólar disparar no Brasil: anunciou corte de 0,25 ponto percentual na taxa de juros, que agora está na faixa entre 4,35% e 4,5%.
Trata-se de uma decisão já esperada, mas não foi unânime: um dos membros do Comitê Federal de Mercado Aberto votou por manter o índice na taxa anterior, em estabilidade. A medida foi justificada pelo fato de o mercado de trabalho dos Estados Unidos ter desaquecido e da inflação ter ficado próxima da meta de 2%, mas ainda elevada.
O presidente do Fed, Jerome Powell, afirmou que a economia dos Estados Unidos está forte e que a inflação faz um progresso expressivo em direção à meta; destacou que o desaquecimento do mercado de trabalho não traz preocupação inflacionária; e defendeu cautela nas próximas reduções de juros no país.
As projeções do Fed são de que haja menos reduções nos juros por lá nos próximos meses do que se previa antes. Existe uma preocupação de que um corte muito abrupto pode prejudicar os esforços para reconduzir segurar a inflação por lá.
A expectativa é de que a taxa chegue a uma faixa entre 3,75% e 4%, e há projeções de que ela chegue à faixa entre 3,25% e 3,5% até o fim de 2026.
Depois do anúncio, as Bolsas de NY aprofundaram a queda e o dólar disparou nos mercados internacionais.
"Tem um sentimento no mercado e também dos analistas de que a conjuntura política é desfavorável ao ministro Haddad", diz especialista
O Viva Voz, com Vera Magalhães e Marcella Lourenzetto, recebeu Bruno Carazza para falar sobre o assunto -- Carazza é mestre em Economia, doutor em Direito, professor da Fundação Dom Cabral e colunista do Valor Econômico e comentarista de Economia do Jornal da Globo.
O especialista afirmou que não vê a situação fiscal brasileira como "drástica" ou de "descontrole". Carazza frisa que "Haddad tem sido a voz sensata dentro do governo", mas que a conjuntura política é desfavorável ao ministro.
"Tem um sentimento, acho que no mercado e também dos analistas, de que a conjuntura política é desfavorável ao ministro Haddad. Acho que ficou muito claro quando ele apresentou as medidas de corte fiscal, tendo que apresentar, do outro lado, as medidas de reforma da renda com a isenção do imposto de renda para quem ganha até R$ 5.000,00. Então, isso foi lido pelo mercado como um sinal de fraqueza do ministro e essa situação vem se arrastando já há muito tempo, essa sensação de que as medidas fiscais são insuficientes e que o ministro Haddad não está contando com o respaldo político, e aí, tanto dentro do governo quanto também dentro do Congresso Nacional, para manter de pé o arcabouço para os próximos anos. A dívida pública brasileira está crescendo de forma significativa desde o início do governo Lula. Então, é um conjunto de situações que preocupa e isso explica muito dessa disparada do dólar e dos juros nos últimos dias."
O analista também diz que as medidas fiscais "não são necessárias apenas para acalmar o mercado".
"Muitas vezes a gente coloca esse quadro como se fosse o mercado contra o governo, o governo contra o mercado, mas há motivos concretos de preocupação. A dívida pública brasileira está crescendo muito nos últimos tempos. É uma dívida que é alta comparada a outros países emergentes que são países que competem com o Brasil na atração de investimentos, de capital estrangeiro."
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