O futuro presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, disse não acreditar que haja um ataque especulativo do mercado contra o real. A declaração é dada um dia após o ministro Fernando Haddad não descartar um ataque desse tipo com a subida do dólar dos últimos dias. A moeda norte americana chegou a bater R$ 6,30. O BC tem feito várias intervenções, com a venda de dólar à vista, numa tentativa de frear a alta da moeda. Só hoje, foram dois leilões, após o segundo, a moeda baixou um pouco. Galípolo disse que há um ruído na comunicação, mas que tem explicado o que pensa o mercado ao ministro da fazenda e ao presidente da república. 'Eu acho que não é correto tentar tratar o mercado como um bloco monolítico, vamos dizer assim, como se fosse uma coisa só, que está coordenada, andando num único sentido. Basta a gente entender que o mercado funciona geralmente com posições contrárias. Para existir um mercado, precisa existir alguém comprando e alguém vendendo. Então, toda vez que o preço de algum ativo se mobiliza em alguma direção, você tem vencedores e perdedores, que a ideia de ataque especulativo enquanto algo coordenado não representa bem. Essa minha interpretação é bem compreendida e aceita nas minhas interlocuções, seja com o ministro Fernando Haddad, seja com a ministra Simone Tebet e seja com o presidente da República.' A alta do dólar foi um dos motivos apontados pelo Banco Central para alta da inflação. O BC admitiu, pela primeira vez, que a inflação vai estourar o teto da meta neste ano, fechando 2024 em 4,9%. A probabilidade de o índice ultrapassar a meta era de 36%, segundo o último relatório. Agora, o BC diz que essa probabilidade é de 100%. Além da atuação do Banco Central, Galípolo defendeu mudanças na política fiscal do país. Para ele, o pacote de corte de gastos é um passo nessa direção, mas não vai funcionar como bala de prata. Galípolo citou regras de crescimento complexas e até rigidez do orçamento público. 'Sinto isso na conversa que eu tenho com o presidente Lula, que eu tenho com o ministro Fernando Haddad. Um reconhecimento, primeiro, do diagnóstico, de que existem, sim, problemas fiscais a serem endereçados no país. Nenhum programa que vá ser anunciado vai ser uma bala de prata, que vai dar conta de resolver. Devem ser, sim, uma demonstração de reconhecimento do problema e do diagnóstico e passos na direção correta. Mais um passo na direção correta. Isso, muitas vezes, vai fazer com que esses projetos andem numa velocidade que não é exatamente a velocidade que todos nós gostaríamos, mas essas são as dores da democracia e, como eu já disse várias vezes, eu prefiro essas dores do que qualquer tipo de falso atalho para isso.' O futuro presidente do BC chegou a dizer que todos sabiam que qualquer pacote não resolveria de vez o problema da dívida pública e que é preciso fazer um trabalho contínuo. Inclusive, disse ter ouvido do presidente Lula que confia no trabalho do BC de fazer o que for possível pra levar inflação pro centro da meta. Além da venda de dólares, o Banco Central tem elevado a taxa de juros para frear a alta da inflação. Na última reunião, aumentou a taxa em 1 ponto percentual. E já adiantou que deve promover o mesmo aumento nas próximas duas reuniões - uma sinalização ao governo que segue criticando a alta dos juros. Mais recente Próxima Dólar bate novo recorde e chega a R$ 6,30