Bernardo Mello Franco
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O ministro da Defesa, José Múcio, afirmou que a prisão do general Walter Braga Netto, ex-ministro de Jair Bolsonaro detido na investigação sobre a tentativa de golpe de estado, constrangeu as forças armadas, mas já era esperada pelos militares. No sábado (14), o comentarista da CBN Bernardo Mello Franco afirmou que "não há reação exaltada de militares contra prisão de Braga Netto porque ele é visto na caserna como traidor". Nesta terça (17), Mello Franco destaca o distanciamento que militares tentam adotar em relação a Braga Netto após o general ser preso, acusado de tentar obstruir as investigações da tentativa de golpe bolsonarista:

"O Exército tenta se descolar do Braga Netto. Se você pega o noticiário do fim de semana para cá, as declarações do Exército e mais informações que são passadas em bastidor pelos atuais comandantes, é sempre no sentido de 'olha, o Braga Neto não tinha mais nada a ver com a caserna, ele na reserva se equipara a um civil, tem que separar o CNPJ do Exército, do CPF, dos envolvidos'. Mas o fato é que, se a gente pegar essa investigação, tem um DNA militar nessa tentativa de golpe."

O comentarista frisa que Walter Braga Netto tinha grande importância dentro do Exército e do governo Bolsonaro, ocupando cargos "de muita respeitabilidade" dentro das Forças Armadas -- é ex-chefe do Estado Maior do Exército, por exemplo.

Citando fala do ministro da Defesa do governo Lula, José Múcio, Bernardo Mello Franco relembra outros golpes e tentativas golpistas de militares e diz que é preciso não somente "responsabilizar CPF" mas também "mudar a cultura do CNPJ". Em relação a Bolsonaro, Mello Franco afirma que as Forças Armadas foram, de certa forma, "sócias" do governo e que as investigações "estão mostrando que parte da corporação militar foi sócia também dessa tentativa de golpe ".

"A gente tem que olhar com cuidado essas manifestações do Múcio, do Exército e tal, porque isso é uma marquetagem, uma tentativa de se descolar do sujeito que caiu, mas que não está amparada em fatos. E, segundo, que se a gente quer tirar alguma lição desse episódio, a lição é que tem que mudar a cultura. Tem que absorver uma cultura mais democrática nas Forças Armadas, o que passa, inclusive, por uma visão de autocrítica em relação ao que foi feito no passado, para que esse tipo de golpismo não se repita no futuro. Veja que, ao longo do século XX, tem cerca de 10 golpes ou tentativas de golpes no Brasil, todas elas com participação militar, mesma coisa que a gente viu agora nesse final do governo Bolsonaro. Então, vamos ver se, além da responsabilização dos CPFs, vai haver alguma mudança, pelo menos, de cultura no CNPJ."

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