Idosos e jovens - que não são parentes - têm dividido apartamento em meio a alta dos aluguéis. Na Europa, no Canadá e nos Estados Unidos, a estratégia é até política pública. A ideia é combater a solidão e a depressão dos idosos, e solucionar a demanda de moradia de universitários com baixa renda que mudam de cidade para estudar. No Brasil, o fenômeno não é institucionalizado, mas já têm adeptos. Especialistas defendem a tática, apesar de pedirem cautela. Idosos e jovens relatam os pontos positivos e negativos da experiência. A universitária Sarah Faria é a caçula onde mora. Há um ano ela deixou a casa dos pais, em Taubaté, no interior de São Paulo, para fazer faculdade na capital paulista. Sarah tem 19 anos. Marlene e Creusa, que moram com ela, tem 64 e 68 anos. A separação de gerações não causa atritos. Sarah diz que isso, na verdade, gera trocas interessantes. E, apesar da diferença de idade, as três construíram uma amizade. A vendedora Creusa de Lima vê o convívio com Sarah como uma experiência gostosa. Ela conta que ficaria triste se morasse sozinha. Solidão e depressão em idosos Dados do IBGE do ano passado mostram que 16% da população mora sozinha. E, a cada cinco pessoas que estão nessa situação, duas delas são idosas. Os números preocupam especialistas. A professora de Saúde Pública da USP Yeda Duarte explica que o problema não é seniores morarem só, mas não terem uma rede de apoio próxima com que possam contar. A professora coordena há 20 anos o estudo Saúde, Bem-Estar e Envelhecimento. A pesquisa, realizada na capital paulista, mostra que oito mil idosos não têm a quem pedir ajuda caso precisem. Há quase dois milhões de pessoas com mais de 60 anos na cidade de São Paulo: 16% vivem sozinhos. A maioria está em processo de fragilização, o que os torna ainda mais vulneráveis a quedas, hospitalizações, e mortes. Uma pesquisa nacional realizada por ele mostrou que uma a cada três pessoas com mais de 50 anos têm sinais de depressão: 17% dos entrevistados também afirmaram sentir solidão. Para combater esse cenário, instituições no Canadá, Estados Unidos e Europa têm juntado universitários de baixa renda que mudam de cidade para estudar com idosos que vivem sozinhos. Mas nem todo mundo tem uma experiência positiva. A mineira Luisa Vieira se mudou para Toronto, no Canadá. E morou por sete meses com uma idosa de mais de 70 anos. Ela relata que a senhora era solitária, sem parentes próximos, e acabava criando dependência e sendo autoritária com os jovens. Um estudo realizado na Queen’s University, no Canadá, com quase quatro mil universitários mostrou que mais da metade gostaria que as faculdades apoiassem essas moradias intergeracionais. Mas só 13% ficaram “muito” ou “extremamente” interessados em morar com idosos. A maioria, apresentou ressalvas argumentando constrangimentos, dificuldade para receber convidados e falta de privacidade. Confira comentário de Marcio Atalla sobre relação entre saúde social e envelhecimento feliz Casas intergeracionais No Brasil, não existe nenhuma iniciativa institucionalizada. Mas já há adeptos. Dividir a moradia com outras pessoas tem sido uma solução pra muita gente com o preço salgado dos aluguéis. Nos últimos 12 meses até julho, os aluguéis subiram 16%, segundo o indíce FipeZap. O autônomo paulista Bruno Ferreira mora desde os 12 anos com idosos. No começo, ele viu a convivência como conflituosa e chata. Hoje, agradece aos colegas de casa mais velhos que teve. Aos 27, Bruno fala com carinho dos amigos que tem: diz que a maioria é de pessoas na terceira idade. O melhor amigo não é exceção. Os 50 anos de diferença entre os dois nunca foi empecilho a nada. Ao contrário, fortalece ainda mais a relação. Mais recente Próxima Sete policiais são suspeitos de participação no roubo metralhadoras do Exército