Clássicos são clássicos por uma razão. E o Hotel Unique, cujo edifício definido por um arco invertido suspenso por duas empenas compõe, há 22 anos, a paisagem paulistana, está aí para provar. Quem viveu sabe: logo de cara, lá atrás, o navio incrustado em plena Avenida Brigadeiro Luís Antônio causou impacto pela forma e pela ousadia tamanha de seu criador, o arquiteto Ruy Ohtake (1938-2021). Tamanha mesmo – são oito pavimentos, distribuídos por 20,5 mil m² de área construída, em total comunhão com a cidade, sem grades, muros e portões. Foi questão de meses para que se tornasse cartão-postal e passasse a habitar o imaginário (e o dia a dia) da metrópole.
Alcançar tal posto, porém, não dá direito a virar as costas para o passar dos anos. Ao contrário, clássicos são clássicos também porque acompanham o espírito do tempo, atualizando-se aqui e ali para manterem-se fiéis à própria essência. Por isso, o hotel atravessa sua primeira grande renovação, um trabalho bem executado pela equipe do Unique ao lado do arquiteto João Armentano, que acaba de reformar 30 dos 90 quartos do prédio. As mudanças começam nos corredores, agora revestidos por carpete azul e concreto aparente nas paredes, que recebem os hóspedes num caminho tão escuro quanto aconchegante, iluminado pelos janelões redondos durante o dia. As suítes, por sua vez, ficaram mais luminosas, arejadas, revestidas de uma madeira mais clara do que na encarnação anterior – e repletas de boas surpresas.
Entre elas, inusitadas banheiras vitorianas, tecnologia por todo lado e, onde antes muita coisa era italiana, móveis de design brasileiro: pense em Jorge Zalszupin, Sergio Rodrigues, Jean Gillon e Zanine Caldas. No quesito high-tech, o sistema de automação abrange som, iluminação, TV (escondida no espelho), cortina e ar-condicionado, enquanto uma película de cristal no vidro do boxe garante privacidade (ou não) ao toque de um botão. E sensores noturnos acionam uma luz-guia no piso durante a madrugada tão logo os pés deixam a cama para encostar no chão.
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Está bom para você? Para o Unique, não. Criada a partir da junção de dois quartos, a Mayfair, nova categoria de suítes, tem 60 mr e ostenta não apenas uma, mas duas janelas redondas. São os olhos do hotel, agora ainda mais abertos para São Paulo – que há 22 anos o tem como elemento indispensável da sua identidade.
*Matéria originalmente publicada na edição de setembro/2024 da Casa Vogue (CV 465), disponível em versão impressa, na nossa loja virtual, e para assinantes no app Globo Mais.