Casas

Por Carol Scolforo*

Enquanto o mundo celebra o slow design, esta casa reforça os conceitos de liberdade e a paciência de observar processos lentos. Em Delaware County, na Pensilvânia, Estados Unidos, a duas horas de Manhattan, o fotógrafo Bico Stupakoff encontrou seu santuário. O ano era 2018. “Escolhi porque não tem ninguém perto”, diz. De fato, o silêncio é interrompido apenas pelos cavalos, os grilos e as galinhas, que dormem no piso de baixo. “Às vezes, escuto uma patada no meio da noite”, conta o proprietário, que vive em viagens pelo mundo – a proximidade do local com o aeroporto não passou despercebida.

A casa, que já foi um estábulo com estrutura datada de 1830, tem um riacho por perto e uma horta diante da entrada — Foto: Ilana Bessler e Bico Stupakoff
A casa, que já foi um estábulo com estrutura datada de 1830, tem um riacho por perto e uma horta diante da entrada — Foto: Ilana Bessler e Bico Stupakoff

Bico cresceu brincando em meio às câmeras e filmes de seu pai, Otto Stupakoff, primeiro fotógrafo de moda no Brasil. Logo, foi natural a confluência entre a admiração por ele e o desejo de se expressar por meio da fotografia. Aos 18 anos já clicava para revistas nacionais como a Quatro Rodas – fanático por carros antigos, chegou a fazer um livro sobre o tema. Pouco tempo depois, vivendo em Nova York, trabalhou com Mario Testino e Bruce Weber, entre outros grandes nomes. Não demorou a ter carreira solo e fotografar ensaios para a Vogue Brasil. “Recebia malas de roupas aqui nos Estados Unidos, fazendo tudo acontecer com modelo, produtor...”, recorda.

Durmo melhor aqui do que em qualquer hotel do mundo. Sempre vem o sentimento de ‘olha o que eu tenho’
— Bico Stupakoff
A sala de jantar se beneficia do sol da tarde, que ilumina mesa feita por Jeremy Santucci e cadeiras Cab 413, design Mario Bellini para a Cassina – tudo sob pendente de Jo Hammerborg, dos anos 1950, na 1stDibs — Foto: Ilana Bessler e Bico Stupakoff
A sala de jantar se beneficia do sol da tarde, que ilumina mesa feita por Jeremy Santucci e cadeiras Cab 413, design Mario Bellini para a Cassina – tudo sob pendente de Jo Hammerborg, dos anos 1950, na 1stDibs — Foto: Ilana Bessler e Bico Stupakoff
A passagem para a varanda tem cadeira vintage encontrada no lixo, pintura a óleo do final do séc. 17 (à esq.) e tela de Otto Stupakoff (à dir.) — Foto: Ilana Bessler e Bico Stupakoff
A passagem para a varanda tem cadeira vintage encontrada no lixo, pintura a óleo do final do séc. 17 (à esq.) e tela de Otto Stupakoff (à dir.) — Foto: Ilana Bessler e Bico Stupakoff

Outro momento emblemático na carreira de Bico, que é Victor só no passaporte: o ensaio nu de Ariadna Arantes. Decidiu usar a câmera do celular, em uma disrupção da transição para o digital que a fotografia vivia pós-2008. “Ninguém queria fotografá-la, talvez por ser uma transexual. Gosto quando as pessoas rejeitam um trabalho e você faz algo maravilhoso. Vi uma luz incrível e foi um sucesso. A luz é a coisa mais importante para um fotógrafo, é como a tinta para os pintores de tela”, reflete.

Na cozinha, mesa de carpinteiro encontrada no antiquário de Sean Scherer, luminária sueca da Lummen e tapete curdo antigo, entre móveis e objetos garimpados — Foto: Ilana Bessler e Bico Stupakoff
Na cozinha, mesa de carpinteiro encontrada no antiquário de Sean Scherer, luminária sueca da Lummen e tapete curdo antigo, entre móveis e objetos garimpados — Foto: Ilana Bessler e Bico Stupakoff
O laboratório criativo do morador tem estante desenhada por Juliana Overmeer e fotografias e telas assinadas por ele mesmo — Foto: Ilana Bessler e Bico Stupakoff
O laboratório criativo do morador tem estante desenhada por Juliana Overmeer e fotografias e telas assinadas por ele mesmo — Foto: Ilana Bessler e Bico Stupakoff

Entre idas e vindas por vários lugares, sossegou nessa propriedade rural de cerca de 90 mil m². “Havia a casa principal e esse celeiro detonado. Antes do lockdown, convidei minha filha, o namorado dela e meu filho para ficarem aqui. Quando tudo fechou, vi que o local onde se guardava o feno para os cavalos daria um bom quarto”, lembra. “O começo foi a parte mais difícil. Depenamos uma estrutura forte de 1830, onde os holandeses secavam tabaco e enrolavam charutos no passado, vendidos a 1 centavo de dólar.” Pouco a pouco, Bico comprou os materiais de construção na região e viu muitas pessoas migrarem para perto, atraídas pela paz – Yoko Ono tem um refúgio a 20 minutos dali.

Este canto do living é composto por sofá Dream, da Cisco Home, cadeira vintage Eames Lounge Chair, de Charles e Ray Eames, na ABC Carpet & Home, mesa feita por Bico Stupakoff, decorada com vaso-colagem de Otto Stupakoff – tudo sob pendente de Isamu Noguchi — Foto: Ilana Bessler e Bico Stupakoff
Este canto do living é composto por sofá Dream, da Cisco Home, cadeira vintage Eames Lounge Chair, de Charles e Ray Eames, na ABC Carpet & Home, mesa feita por Bico Stupakoff, decorada com vaso-colagem de Otto Stupakoff – tudo sob pendente de Isamu Noguchi — Foto: Ilana Bessler e Bico Stupakoff

A referência de Bico era a atmosfera de um loft adaptado à cena rural, o que explica as janelas amplas que encomendou. O piso de castanheiro-branco formou a base, e o corrimão da escada veio de uma longhouse (construção longa e estreita, de um único cômodo, para habitação comunitária) de indígenas americanos. “Não quis nada novo. Alguns móveis são de 1800, outros construo ou compro em antiquários, leilões, e outros peguei no lixo”, comenta, citando a luminária de Isamu Noguchi que ele desejava para a sala e incrivelmente estava no descarte da vizinhança – com assinatura e tudo. Na sala, várias telas e esculturas do pai. O restante é adquirido durante as viagens.

Gosto de fazer minha casa aos poucos e encontrar as coisas, como um colecionador
— Bico Stupakoff
No quarto, figuram, sobre a parede da cabeceira, uma fotografia e duas colagens de Otto Stupakoff – na parede à dir., composição de quadros com obras de Wesley Duke Lee, Otto Stupakoff e Caio Prado — Foto: Ilana Bessler e Bico Stupakoff
No quarto, figuram, sobre a parede da cabeceira, uma fotografia e duas colagens de Otto Stupakoff – na parede à dir., composição de quadros com obras de Wesley Duke Lee, Otto Stupakoff e Caio Prado — Foto: Ilana Bessler e Bico Stupakoff
À esq., as galinhas criadas soltas na propriedade, localizada a cerca de duas horas de Nova York — Foto: Ilana Bessler e Bico Stupakoff
À esq., as galinhas criadas soltas na propriedade, localizada a cerca de duas horas de Nova York — Foto: Ilana Bessler e Bico Stupakoff

Pode ser que você cruze com Bico em alguma estrada do Brasil, a bordo de sua caminhonete velha, para encontrar a filha. “Coloco meu chapéu de palha e fico de olho em tudo. Sempre trago objetos de beira de estrada.” É pisar de volta na chácara americana, porém, e ele se dá conta: “Durmo melhor aqui do que em qualquer hotel do mundo. Sempre vem o sentimento de ‘olha o que eu tenho’”.

*Matéria originalmente publicada na edição de agosto/2024 da Casa Vogue (CV 464), disponível em versão impressa, na nossa loja virtual, e para assinantes no app Globo Mais.

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