"Não salta, Pepê! Não vai dar para chegar ao fim. As condições estão péssimas, vou pousar agora". Pelo rádio, durante seu voo, o piloto de asa delta Philip Haegler soava aflito ao afirmar que o amigo Pepê Lopes deveria se recusar a participar do torneio internacional em Wakayama, no Japão, naquelas condições de tempo, com ventos fortes e pouca visibilidade. Mesmo assim, o carioca de 33 anos, ícone dos esportes radicais, deixou claro: "Por mim, não saltaria, mas se os organizadores obrigarem, eu salto. Estou em segundo lugar e não quero perder pontos".
Instagram: Siga nosso perfil, com 95 anos de memória visual
Cada piloto deveria percorrer 100 quilômetros até o alvo, num voo de cerca de três horas sobre uma área com poucas opções de pouso. Devido ao mau tempo, os responsáveis vinham sendo pressionados pelos atletas a suspender a prova, mas estavam irredutíveis. Pouco depois de saltar, vencido pelo temporal, Pepê tentou fazer um pouso de emergência numa clareira, mas foi sacudido por uma turbulência e se chocou violentamente contra um morro. Quando foi socorrido, horas mais tarde, ele estava gravemente ferido e gritava de dor. Dizia que amava sua mulher e seus filhos. Tinha certeza de que ia morrer.
Naquele dia 5 de abril de 1991, há 30 anos, Pedro Paulo Guise Carneiro Lopes faleceu a caminho do hospital, quando já anoitecia no Japão, mas ainda era manhã no Brasil. A notícia de sua morte gerou consternação no Rio. Pepê havia se tornado um símbolo da cidade, não apenas por causa do sucesso internacional em esportes como surfe e voo livre, mas também devido ao seu tino para negócios. Entre seus empreendimentos, além de um restaurante japonês no Leblon, estava a Barraca do Pepê, que, aberta na Praia do Pepino, em São Conrado, mais tarde se mudou para um trecho da orla da Barra da Tijuca que ficou conhecido como Praia do Pepê.
'Mando notícias': As últimas mensagens de Pepê Lopes, antes de morrer
A equipe brasileira, formada por Pepê, Paulo Coelho e Philip Haegler, foi convidada a participar da competição no Japão pela Japan Pro Sky Sports Association, que distribuiria mais de US$ 100 mil em prêmios. Pepê sabia que o esporte que praticava era um dos mais perigosos do mundo. Em março de 1989, ele comentou uma pesquisa que fora realizada na França e que apontava o vôo livre como o primeiro esporte em número de mortes (um para cada 93 praticantes).
— É um esporte superfascinante, mas extremamente perigoso. É fácil um piloto se descontrolar e se machucar, principalmente quando está começando. Somos como cobaias. Fui piloto de testes e hoje estou na linha de frente do esporte. Posso cometer erros, mas em escala menor. O importante é manter a frieza para controlar a asa e checar sempre o equipamento.
A tragédia no Japão não foi o primeiro acidente grave de Pepê. Em 1984, o piloto pousou de mau jeito sobre uma árvore em Governador Valadares, o que o fez perder o baço e um rim. Ele ficou 40 dias internado até voltar para o Rio. Alguns pilotos chegaram a dizer que, por causa desse episódio em Minas Gerais, ele não quis pousar em cima de uma árvore quando se viu em apuros devido às condições do tempo em Wakayama, em 1991. Outros dois pilotos, um japonês e um australiano, que saltaram depois dele sobreviveram ao pousar sobre a vegetação.