Existem mais de 1.790 espécies de cactos no mundo. São tantas variações que uma delas até recebeu carroceria, suspensão, rodas, pneus, freios, motor e outros componentes para rodar pelas ruas. Se você conhece carros, sabe exatamente de qual eu estou falando: é o Citroën C4 Cactus. E eu sei, é clichê relacionar o SUV com a suculenta. Aliás, nem sei por qual motivo a fabricante francesa colocou esse sobrenome no carro. Ainda assim, é inevitável não fazer essa comparação, já que ele realmente faz jus ao seu nome.
Para começar, o C4 Cactus tem uma beleza exótica, exatamente como a planta. O desenho, mais arredondado, é pouco convencional se comparado com os principais rivais, assim como conjunto ótico, que é dividido em três partes. Por fim, o perfil de hatch (na Europa ele é um hatch) ajuda a distanciar o carro de seus concorrentes. Eu, particularmente, gosto. Aliás, acho que essa é uma das flores desse cacto.
Só que, vale lembrar, nenhuma espécie escapa de ter espinhos. Aqui os mais pontudos começam a aparecer quando a gente lembra que o crossover tem praticamente a mesma configuração desde 2018, quando chegou ao Brasil. Claro que, desde então, algumas pequenas atualizações foram feitas.
Na linha 2024, por exemplo, o C4 Cactus recebeu novas rodas de 17 polegadas na versão topo de linha Shine Pack. Outra mudança foi na adoção ousada de elementos na cor laranja ao redor dos faróis de neblina e nos airbumps laterais. Os logotipos que identificam o modelo na tampa do porta-malas também receberam detalhes na mesma tonalidade.
No interior, mais novidades para deixar o SUV compacto atualizado e apagar os sinais de defasagem de um cacto que está vivo há seis anos praticamente sem ser regado pela dona. Uma central multimídia de 10 polegadas, a mesma que equipa o Citroën C3 e o Peugeot 208, foi instalada para garantir conectividade com Apple CarPlay e Android Auto sem a necessidade de fio. A funcionalidade do sistema, aliás, é bem intuitiva, mas não é perfeita.
Durante o teste, percebi que falta suavidade nas transições do modo escuro das telas com o sensor de luminosidade. O controle de brilho da central ficava confuso toda vez que o carro passava por alguma sombra. Por detectar uma pequena falta de luz no ambiente, a tela escurecia com a intenção de fazer o motorista enxergar melhor. Só que a função, na verdade, só atrapalha quem precisa visualizar o GPS.
Fora isso, o crossover também recebeu três novas entradas USB (todas do tipo A), um porta objetos maior e carregador de celular por indução (com ventilação para o aparelho não esquentar). O SUV, é claro, está mais equipado, e agora só deixa a desejar em um item: sensor de estacionamento traseiro, vendido como acessório por R$ 560.
Traz ar-condicionado digital, assistente de partida em rampa, controlador e limitador de velocidade, câmera de ré, seis airbags, sensor de pressão dos pneus, faróis e limpador de para-brisas com acendimento automático, alerta de saída de faixa e de colisão, frenagem automática de emergência e indicador de descanso.
Um cacto dos pequenos
Os cactos também podem variar de tamanho dependendo da espécie, atingindo até 18 metros. Esse que estamos falando parece não ter crescido muito. São 4,17 metros de comprimento, 1,71 m de largura e 1,53 m de altura. O entre-eixos de 2,60 m é praticamente o mesmo dos rivais Nissan Kicks e Hyundai Creta (2,61 m), e maior do que de um Jeep Renegade (2,57 m). Quem acaba pagando a conta deste número é a capacidade do porta-malas, de apenas 320 litros. Os dois primeiros concorrentes citados têm pelo menos 100 litros a mais. Mais um indício de que o Cactus passou de hatch a SUV no mercado brasileiro quase de forta artificial.
Só que na prateleira de suculentas, o C4 Cactus é o que chama mais atenção quando a gente fala em motorização. O SUV compacto é equipado com o eficiente (mas veterano) motor 1.6 turbo THP nas versões mais caras. O câmbio é automático de seis marchas e também não decepciona. Assim, entrega 173 cv de potência e 24,5 kgfm de torque.
Na hora de acelerar, pode ter certeza que ele deixa de ser uma planta que cresce devagar. O modelo da Citroën é o mais rápido da categoria e acelera de 0 a 100 km/h em apenas 7,3 segundos. Portanto, fica à frente até dos esportivos Fiat Pulse e Fastback Abarth, que fazem esse trabalho em 7,6 s.
Um cacto, é claro, também não gosta de beber muito. Seguindo a metáfora, o consumo do C4 Cactus é de 8,2 km/l na cidade e de 9,5 km/l na estrada com etanol. Quando abastecido com gasolina, os números sobem para 11,7 km/l e 13,4 km/l, respectivamente. É um apetite mais comedido do que rivais modernos, como Chevrolet Tracker e Jeep Renegade.
Cacto macio
O C4 Cactus também não é um carro desconfortável (muito pelo contrário). A direção elétrica é extremamente leve e entrega uma sensação extra de conforto, mas não ao ponto de atrapalhar as manobras. A suspensão também é ajustada na medida certa, o que faz o C4 se dar bem até em asfaltos irregulares. A boa altura do solo colabora na hora de passar em valetas, mas não garante a posição elevada de dirigir que os SUVs normalmente têm.
O que pode incomodar o motorista é o ruído da ventoinha do radiador quando o ar-condicionado está ligado. O equipamento é mais barulhento do que o normal e, talvez por um isolamento acústico insuficiente, invade a cabine.
Mas, entre flores e espinhos, o Citroën C4 Cactus ainda é uma boa opção no mercado — ainda mais se considerarmos o preço. A versão topo de linha do SUV custa R$ 139.990. Os rivais (atualizados, vale ressaltar) são vendidos por esse valor em suas configurações de entrada.
O problema é que o cacto da vez recebeu muita água e agora está com os dias contados. Com a chegada do irmão cupê C3 X, prevista para o segundo semestre de 2024, o modelo ficará sem lugar no catálogo da marca e na fábrica de Porto Real (RJ). Portanto, deverá sair de linha em breve. Só que o que dizem por aí é que a vida de um cacto pode ser de até 200 anos. Parece que uma brecha apareceu na hora de dizer que o C4 Cactus faz jus ao seu sobrenome.
Citroën C4 Cactus Shine Pack 2024
FICHA TÉCNICA |
Preço: R$ 139.990 |
Motor: Dianteiro, transversal, 1.6, 16V, turbo, injeção direta, flex |
Potência: 173 cv a 6.000 rpm |
Torque: 24,5 kgfm a 1.400 rpm |
Câmbio: Automático, 6 marchas |
Direção: Elétrica |
Suspensão: Independente, McPherson (dianteira) e dependente por eixo de torção (traseira) |
Freios: Disco ventilado (D) e sólido (T) |
Pneus: 205/55 R17 |
Tanque: 55 litros |
Porta-malas: 320 litros (fabricante) |
Peso 1.214 kg |
Central multimídia: 10 pol., Android Auto e Apple CarPlay (sem fio) |
DIMENSÕES |
Comprimento: 4,17 metros |
Largura: 1,71 m |
Altura: 1,56 m |
Entre-eixos: 2,60 m |
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