A festa está pronta e os convidados começam a chegar. A lista tem cem deles. Todos falam português, mas com um forte sotaque húngaro. Pudera, viajaram mais de 9 mil km do país europeu até o Paraná. Chegando a São José dos Pinhais, o tratamento começa com a retirada das caixas, a passagem pela linha de produção e o casamento (entre conjunto mecânico e carroceria). Porém, a celebração em questão não é um matrimônio, e sim o aniversário de 1 ano da retomada da produção da Audi (e do Q3) no Brasil. Os convidados mencionados são os cem exemplares da série comemorativa Anniversary Edition, divididos igualmente nas carrocerias SUV e SUV cupê.
A edição especial foi a forma encontrada pela Audi para celebrar a reativação da linha de produção no Paraná, ainda que na modalidade SKD, em que os veículos chegam montados e pintados da Hungria e recebem apenas o conjunto mecânico e outros componentes aqui. Mesmo sem nenhuma peça produzida no Brasil, o Q3 é considerado um carro nacional.
E, como todo brasileiro, gosta de festa. Para a celebração, traje de gala. A série Anniversary Edition tem detalhes exclusivos na carroceria. As caixas de roda e a parte inferior dos para-choques são da cor da carroceria. Capas dos retrovisores têm acabamento preto brilhante, bem como a moldura da grade, os logotipos da Audi e o nome do veículo, que dispensam os cromados.
Para combinar com a boa vestimenta, um menu bem recheado. Afinal, o Q3 Anniversary Edition se baseia na versão topo de linha, a Performance Black, mas inclui ar-condicionado de três zonas, assistente de mudança de faixa, iluminação ambiente da cabine, faróis de LED Matrix e sistema de som da marca Sonos com 15 alto-falantes e amplificador de 16 canais.
Destaque para rodas de 20 polegadas com desenho exclusivo, bancos com ajustes elétricos e memória para o motorista, teto solar, quadro de instrumentos digital de 10,25 polegadas e central multimídia com tela da mesma medida.
Para beber, apenas uma opção: gasolina. Esse é o único combustível admitido pelo motor 2.0 turbo de quatro cilindros, um velho conhecido dos brasileiros. A versão atualizada alcança 231 cv e 34,7 kgfm e empurra o SUV de mais de 1.600 kg de 0 a 100 km/h em 7 segundos. Quase o mesmo tempo que uma criança leva para atacar a mesa de doces em festas infantis.
Um mau hábito, daqueles comparáveis a perguntar a idade do aniversariante, é o abuso da bebida. Mesmo com um câmbio automático de oito marchas que trabalha de maneira competente, o consumo de combustível fica em modestos 8 km/l na cidade e 10,3 km/l na estrada. Peso e arrasto extras trazidos pela tração integral quattro ajudam a explicar os números.
Mas antes que o clima fique ruim, é hora dos parabéns. Basta se acomodar no banco do motorista e dirigir alguns quilômetros para esquecer que o generoso tanque de 62 litros pode ficar vazio em menos de 500 km. Ao volante, o Q3 impressiona pela agilidade — mais do que um número frio na ficha técnica, o SUV se desloca com desenvoltura, demonstrando excelente entrosamento entre o motor 2.0 turbo e o câmbio automático de oito marchas.
O motorista ainda pode escolher entre os modos de condução Off-Road, Efficiency, Comfort, Dynamic e Individual. Completando a experiência, o acerto da direção deixa o condutor como uma criança que ganha um brinquedo de aniversário. As relações são diretas e o volante ganha peso conforme a velocidade aumenta. A suspensão filtra bem as imperfeições do solo, mas o curso curto dos amortecedores não evita algumas pancadas secas.
Se o Q3 de segunda geração, lançado em 2018, ainda não sente o peso da idade quando o assunto é dirigibilidade, começa a ficar datado no visual, principalmente se comparado ao grande rival, BMW X1, que estreou nova geração há um ano.
No caso do Audi, a cabine tem orientação horizontal, mas o console repleto de botões e a disposição das telas não seguem a mais recente identidade da marca de Ingolstadt. O acabamento é de ótima qualidade e o visual é agradável, inclusive o charme da iluminação ambiente que “pinta” frisos e o logotipo quattro de 30 diferentes tonalidades. Com ou sem cores, a impressão é de que o interior envelheceu mais rápido do que deveria.
Um vacilo: o ar-condicionado para os bancos traseiros não é digital. O ajuste analógico é feito por meio de um seletor circular semelhante ao que regula o fluxo de vento. Mas com os 2,68 metros de entre-eixos do carro, os passageiros que viajam ali não têm motivos para reclamar. Por fim, o porta-malas acomoda generosos 530 litros, suficientes para levar caixas e mais caixas de presentes.
Antes de os garçons começarem a levantar as cadeiras, é hora de acertar as contas. A etiqueta do Q3 Anniversary Edition é a mais alta da família. São necessários R$ 372.990 para colocar um dos exemplares na garagem. E esse é o momento em que o arrependimento pode bater. Afinal, basta atravessar a rua e entrar no buffet da BMW.
Audi Q3 Anniversary Edition
Ficha técnica |
Motor: Dianteiro, transv., 4 cil. em linha, 2.0, turbo, gasolina |
Potência: 231 cv a 5.000 rpm |
Torque: 34,7 kgfm a 1.700 rpm |
Câmbio: Automático, 8 marchas, tração integral |
Direção: Elétrica |
Suspensão: Independente, McPherson (diant.) e multilink (tras.) |
Freios: Discos ventilados |
Pneus: 255/40 R20 |
Tanque: 62 litros |
Porta-malas: 530 litros (fabricante) |
Peso: 1.673 kg |
Multimídia: 10,25 polegadas, Android Auto e Apple CarPlay |
Ponto positivo: Desempenho, espaço interno e acabamento |
Ponto negativo: É mais antigo e caro do que o grande rival |
DIMENSÕES |
Comprimento: 4,48 metros |
Largura: 1,85 m |
Altura: 1,57 m |
Entre-eixos: 2,68 m |
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