O que eu mais ouvi durante os dias de teste com esse carro foi: "Quem é essa Seres?". Confesso que nem eu sabia muito sobre a marca chinesa antes de confirmarem a chegada ao Brasil. O primeiro lançamento por aqui é o Seres 3, um SUV elétrico que custa R$ 239.990, mais caro do que um Volvo EX30.
Mas não crie expectativas para vê-lo exposto em alguma concessionária, pois a Seres não tem (e não terá) nenhuma no país. Para reduzir custos, a fabricante faz apenas vendas online. Sim, vai vender carro como qualquer outro produto que você compra pela internet, e ele será entregue na sua casa. Mas isso é bom? Vai dar certo? E, afinal... quem é a Seres?
Vamos por partes. A Seres é uma empresa bem nova, fundada em 2016. Foi concebida inicialmente como SF Motors, no Vale do Silício (EUA). Produz veículos elétricos e seus investimentos vêm de dois grupos empresariais chineses, Dongfeng e Sokon (DFSK).
A marca tem duas fábricas na China e duas nos Estados Unidos, além de um centro de pesquisa nos EUA e outro no Japão. Seus carros são desenvolvidos em conjunto com a Huawei, gigante chinesa de tecnologia conhecida pelos smartphones. E os veículos vendidos no Brasil serão importados de Xangai, na China.
Com apenas um motor elétrico no eixo dianteiro, que desenvolve 163 cv e 30,6 kgfm de torque, o Seres 3 acelera de zero a 100 km/h em 8,9 segundos. Em relação às medidas, o SUV tem 4,38 metros de comprimento, 1,85 m de largura, 1,65 m de altura e 2,65 m de entre-eixos, o que garante um bom espaço interno. Já o porta-malas comporta apenas 318 litros — mesma capacidade do bagageiro de um Renault Sandero, por exemplo.
Segundo o Inmetro, o conjunto de baterias de íon-lítio de 53 kWh proporciona 206 km de autonomia — número inferior aos 256 km do JAC e-JS4, aos 294 km do BYD Yuan Plus e aos 234 km do Peugeot e-2008, alguns dos possíveis rivais do modelo asiático.
O SUV pode ser recarregado em fontes de corrente alternada (AC) de 6,6 kW, nas quais leva oito horas para chegar aos 100%. Em fontes de corrente contínua (DC) de 50 kW, a capacidade da bateria vai de 20% a 80% em 38 minutos.
Agora entramos na parte de como comprar o Seres 3. As vendas funcionarão da seguinte forma: o site oficial da Seres terá recepção, cadastro de clientes, mecanismos de reserva e faturamento. A negociação será feita de maneira direta entre a marca e o consumidor final, seja pessoa física, seja pessoa jurídica. Após fechar negócio, o carro será entregue na casa do cliente. Quem quiser conhecer os carros pessoalmente pode agendar um test drive na sede da empresa, que fica em Alphaville, em São Paulo.
A Seres já tem pontos de atendimento de pós-venda para os clientes da marca e outros serão abertos nos próximos meses — todos focados nas regiões Sul e Sudeste, com exceção do Distrito Federal, onde há um centro de operação da fabricante chinesa. A marca ainda pretende instalar alguns showrooms, mas apenas em cidades com maior demanda. É provável que esses espaços sejam montados em shoppings ou em lugares públicos estratégicos.
O primeiro Seres Service Center, para atendimento ao cliente, fica na Mooca, em São Paulo, e entrou em operação em março deste ano. Três oficinas 24 horas da Porto Seguro também estão habilitadas a atender os clientes.
E o ponto é esse: comprar um carro desconhecido, de uma marca desconhecida e sem vê-lo pessoalmente não é recomendável, definitivamente. Caso o Seres 3 tenha lhe interessado, olhe de perto, faça o teste e tire as próprias conclusões.
Dito isso, vamos conhecer o Seres 3. Seu visual é bem conservador e até mais antigo — é dos carros dos anos 2000. O que faz passar essa impressão, principalmente, é a dianteira com faróis de luzes halógenas e desenho genérico, algo que não se espera em um carro dessa faixa de preço. Ainda mais de uma marca chinesa, que costumam ter LEDs sempre.
A grade é fechada, como nos carros elétricos, e tem vários triângulos azuis de diferentes medidas, o que dá um aspecto meio 3D e traz um pouco de estilo para uma dianteira bem discreta. Há também um filete azul que contorna toda a parte lateral inferior e a traseira.
As rodas são aro 18 e, atrás, as lanternas de LED ficam em uma posição alta, o que dá a sensação de que a traseira é mais robusta. Entretanto, o recurso estético não consegue tirar a percepção de que o novo carro parece ser bem antiquado.
Se há pouca ousadia no visual, a lista de equipamentos de série é bem atrativa, com destaque para seis airbags, ar-condicionado digital de uma zona, carregador de celular por indução, banco do motorista com seis modos de ajustes elétricos, teto solar panorâmico, aquecimento dos bancos dianteiros, assistente de controle de subidas, controle de descida, alertas de saída de faixa e de colisão frontal, câmera com visão 360 graus, duas entradas USB do tipo A e central multimídia com tela de 10,25 polegadas e conexão com Apple CarPlay sem a necessidade de cabo. O pareamento, inclusive, é feito de forma bem simples.
O interior tem bom acabamento, com painel emborrachado e materiais de boa qualidade, mas inferiores aos usados no BYD e no GWM, por exemplo. O desenho da cabine, novamente, me faz lembrar carros de 15 anos atrás.
Sentado no banco do motorista, que te deixa com uma posição bem confortável e ereta, você se sente realmente dentro de um SUV compacto, com posição alta para dirigir. Digo isso porque há muitos utilitários em que você se sente dentro de um hatch. O volante tem apenas ajuste de altura e não é feito de forma elétrica. O importante no Seres 3 é entender os três modos de condução: Eco, Normal e Sport.
Começando pelo primeiro, que, como o nome já indica, serve para não gastar energia, confesso que tomei um susto logo de cara. Encarei a rampa do estacionamento da redação de Autoesporte com mais dois integrantes da equipe dentro do carro e o SUV simplesmente empacou. Ficamos sem entender o que havia acontecido. Então pisei até o fundo e o carro subiu lentamente. Conclusão: esse modo deixa o carro extremamente manso para poupar o máximo de bateria possível.
Depois fiz novos testes em subidas e, de fato, é preciso afundar o pé no acelerador. O lado bom disso é que a bateria fica muito bem preservada, já que a autonomia praticamente não muda no painel de instrumentos. Mesmo andando em linha reta dá para sentir que o carro não tem muito fôlego. Quer uma dica? Use esse modo apenas quando precisar, porque eficiente ele realmente é, mas sacrifica qualquer agilidade que o carro possa ter.
No modo Normal já se sente uma diferença bem grande em relação ao Eco e o Seres 3 desperta. É o modo que recomendo para andar no dia a dia, se você não precisar se preocupar com a autonomia no trajeto diário. No Sport a agilidade é um pouco maior do que no Normal.
Pense que o desempenho máximo do Seres é comparável ao de um SUV compacto com motor turbo. Prova disso, como já mencionamos, é a marca de zero a 100 km/h feita em 8,9 segundos; um Volkswagen T-Cross 1.4 TSI, que anda muito bem e tem 150 cv, faz o mesmo em 8,7 s.
A suspensão do Seres 3 é ajustada e confortável para enfrentar bem as irregularidades, e passa pouca vibração para o volante e a cabine. Os amortecedores são um pouco moles demais — um ajuste mais rígido cairia bem. Vale lembrar que esses carros são importados e não têm adaptações para enfrentar nossas condições de asfalto. Dentro do universo chinês, o Seres 3 não tem o acerto de suspensão confortável do BYD e do GWM, mas também não traz o desconforto de carros da Jac e dos mais antigos da Lifan, por exemplo, que eram totalmente desconfortáveis.
A Seres não está no mesmo patamar de BYD e GWM, apesar de ter (poucas) qualidades. O problema, na verdade, é o posicionamento. E, claro, o modelo de negócio. Se o Seres 3 ficasse na faixa de R$ 150 mil a R$ 200 mil, talvez tivesse maior chance de conquistar um pouco de espaço. Mas, pelo valor cobrado e pelo que oferece, temos, para ficar só em um exemplo, o Volvo EX30, que parte de R$ 220 mil — R$ 20 mil a menos.
Quem vai trocar um Volvo por uma marca desconhecida que nem sequer tem loja nos moldes de uma concessionária tradicional para ver o carro pessoalmente? Atrevo-me a dizer que quase ninguém. Vale lembrar que a Seres tem parceria com a Armor, empresa de blindagem, então você já pode comprar o SUV blindado por R$ 319.990, R$ 80 mil extras. Assim, ultrapassa (e muito) os R$ 279.950 pedidos pela Volvo pelo EX30, mas na versão topo de linha.
Outros quatro carros Seres chegam ainda em 2023: Seres 5, Seres M5 EVR e Seres M7 EVR — todos elétricos e não têm nada a ver com a BMW, apesar das siglas — e um SUV híbrido rival do Corolla Cross, o E-5 PHEV. Tudo depende dos preços, mas todos esses Seres desconhecidos devem permanecer no anonimato no Brasil.
Seres 3
Ficha técnica |
Preço: R$ 239.990 |
Motor: Elétrico, dianteiro |
Potência: 163 cv |
Torque: 30,6 kgfm |
Câmbio: Automático, uma marcha |
Direção: Elétrica |
Suspensão: Independente, McPherson (diant.) e eixo de torção (tras.) |
Freios: Discos ventilados |
Pneus: 225/55 R18 |
Bateria: 53 kWh |
Autonomia: 206 km (Inmetro) |
Tempo de recarga: Oito horas em carregador de 6,6 kWh (100%) |
Porta-malas: 318 litros |
Peso: 1.755 kg |
Multimídia: 10,25 pol., compatível com Apple CarPlay (sem fio) |
Ponto positivo: Bom espaço interno, itens de série com bastante segurança e conexão com Apple CarPlay sem fio bem simples |
Ponto negativo: Modelo de venda somente online e preço inicial de R$ 240 mil pelo que oferece |
DIMENSÕES |
Comprimento: 4,38 metros |
Largura: 1,85 m |
Altura: 1,65 m |
Entre-eixos: 2,65 m |
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