A imagem do presidente Lula desfilando a bordo de um Volkswagen Virtus conversível pela fábrica da marca alemã em São Bernardo do Campo (SP), ao lado do vice-presidente, Geraldo Alckmin, foi um dos assuntos mais comentados da semana. Autoesporte foi conhecer esse projeto de perto e até andou no carro junto com um dos responsáveis pelo protótipo.
O sedã compacto conversível, chamado de Virtus Cabrio, simbolizou o anúncio da ampliação dos investimentos de R$ 9 bilhões da Volkswagen no Brasil até 2028. A equipe responsável pela criação teve seis semanas de prazo para concluir o projeto. O trabalho envolveu 30 pessoas.
Quando entramos na Garagem Volkswagen, dentro da fábrica, lá estava o único Virtus conversível do Brasil, cercado de tantos outros modelos lendários da marca. E antes de contar a história e se aprofundar neste projeto, é preciso voltar um pouco no tempo para entender essa tradição que junta carros conversíveis e presidentes.
Conversíveis e presidentes
Voltemos no tempo. Quarta-feira, 18 de novembro de 1959. A data ficou marcada como a inauguração da fábrica da Volkswagen em São Bernardo do Campo.
O então presidente, Juscelino Kubitschek, desfilou a bordo de um Fusca conversível para conhecer nada menos do que a primeira fábrica construída pela Volkswagen fora da Alemanha. A emblemática cena se eternizou e, certamente, sem ninguém imaginar, virou uma espécie de tradição.
O ritual se repetiu 34 anos depois, em 23 de agosto de 1993, quando o presidente Itamar Franco foi presenciar a volta da produção do Fusca no Brasil, durante o segundo ciclo de fabricação do carro mais famoso de todos os tempos. O primeiro ciclo foi de 1959 a 1986 e este segundo foi bem menos duradouro: se encerrando em 1996.
Sem o Fusca, uma década depois, em 2003, o conversível criado para o desfile do presidente Lula foi um Polo Sedan de quatro portas. A ocasião era a celebração dos 50 anos da chegada da Volkswagen ao Brasil.
Dois anos depois, na cerimônia de comemoração dos 15 milhões de veículos produzidos em São Bernardo, Lula desfilou em um Fox cabriolet.
Mais um conversível
Voltamos para a última sexta-feira, dia 2 de fevereiro.
Para simbolizar o investimento bilionário, o presidente manteve essa tradição e desfilou com o Virtus conversível na pintura azul Biscay. Segundo a fabricante, o modelo mescla itens de duas versões: Highline e Exclusive.
Para bom observador, já dá para ver essa espécie de Virtus Frankenstein logo no primeiro olhar. A dianteira é de um Highline, mas dentro do capô temos motor de Exclusive: 1.4 TSI de 150 cv e 25,5 kgfm de torque, atrelado ao conhecido câmbio automático de seis marchas. Nas laterais, as rodas são de 18 polegadas, também da versão mais cara do sedã — na Highline o aro é 17.
Para a criação do projeto, os engenheiros da VW removeram o conjunto do teto. Com a ausência das colunas B e C, precisaram reforçar outros pontos da estrutura do veículo para ter uma boa rigidez da carroceria. Ao abrir a porta traseira, é perceptível que o banco é mais estreito. E isso é proposital para dar mais espaço aos ocupantes e facilitar o movimento entre sentar e ficar de pé. Mas, como a equipe de engenharia fez isso sem mexer nos 2,65 m de entre-eixos? Alongando o assoalho.
Com o banco bem mais estreito, o desconforto sentado é maior. Uma pessoa de 1,87 m, como eu, tem praticamente metade da coxa para fora do assento e pouca firmeza no corpo. Por outro lado, não tenho a menor dificuldade para levantar e para ficar de pé com a ajuda da barra transversal na região da coluna B que fica na altura do encosto de cabeça dos bancos dianteiros.
Por causa dessa modificação, a capacidade do tanque de combustível diminuiu de 49 litros para 15 litros. O porta-malas, com 521 litros de capacidade, não sofreu qualquer alteração volumétrica.
Sem vidros (e cintos)
Outro ponto curioso é que não há vidro em nenhuma das janelas para deixar as portas mais leves. Sentado no banco dianteiro, a impressão de que o para-brisa é mais inclinado é apenas ilusão, pois, de acordo com os engenheiros, não houve qualquer alteração. E a barra transversal só incomoda o motorista caso ele vá com o ajuste do banco todo para trás.
Todos os equipamentos de conforto da versão Exclusive foram mantidos, como as duas entradas USB-C e saídas do ar-condicionado para quem vai atrás, e a central multimídia VW Play com tela de 10,25 polegadas, por exemplo.
Na hora de andar/desfilar com o Virtus conversível me deparo com um detalhe que tinha passado batido até então: não há cintos de segurança para passageiros. Mas, calma, que isso não é um problema, levando em consideração que o carro não será homologado para a rua e nem vai sair da área do 1,6 milhão de m² da fábrica.
E a velocidade também não é um perigo, afinal, é limitada eletronicamente em 25 km/h. Tanto que até o star-stop foi desabilitado para não incomodar o motorista. E lá fomos nós sob o sol escaldante do meio dia andar pela área externa do complexo.
A volta foi rápida e, claro, sem grandes emoções e sem exigir muito do motor 1.4 TSI — que deve sair de linha nos próximos anos para dar lugar a um 1.5 híbrido. Andar de pé no carro, que não oferece risco algum se você se segurar na barra transversal, até chama a atenção das pessoas por onde passa dentro da fábrica, mas sem causar qualquer aglomeração como costuma acontecer com chefes de estado.
Para ser preciso sobre a distância que percorremos: saímos da garagem com exatos 35 km no hodômetro e retornamos com 36,2 km.
Agora, o Volkswagen Virtus conversível usado para o desfile do presidente na fábrica do ABC Paulista ficará no museu da marca, ao lado do Polo Sedan e do Fox usados nas cerimônias de 2003 e 2005, respectivamente. O espaço, no entanto, não é aberto ao público.
Volkswagen Virtus conversível criado para Lula desfilar
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