Quando criança, o engenheiro Carlo Abarth revestia as rodas de seu carrinho de rolimã com couro para melhorar a aderência ao chão e vencer mais corridas contra os amigos. Essa lembrança distante diz muito sobre o criador de uma das maiores preparadoras da Europa, que agora está oficialmente no Brasil com o lançamento do Fiat Pulse Abarth.
A versão especial chega às lojas por R$ 149.990 para ocupar o topo da gama do SUV. Essa é a primeira vez em que um carro da Abarth é projetado fora da Europa, ainda mais para um modelo que não é vendido por lá.
Legado
Ao longo de sete décadas, a Abarth se especializou em fazer upgrades nos carros da Fiat, Lancia e até Maserati. Isso ficou claro para os brasileiros quando a marca italiana lançou o endiabrado 500 Abarth, que chegava a 100 km/h em apenas 6,9 segundos e tinha uma dirigibilidade afiadíssima. Antes dele, o Stilo Abarth conquistou os jovens com seu motor 2.4 de Marea, ainda que sua fama fosse problemática.
Também podemos falar do Fiat 124 Abarth, um cupê baseado no Mazda Miata que nunca foi vendido no Brasil, mas que nossos hermanos argentinos puderam comprar até 2019.
Os valores dos Abarth originais aparecem no novo Pulse, mas de uma forma mais contida. Talvez este seja o menos Abarth dos Abarths na história recente da Fiat, e isso está longe de ser uma crítica.
O Pulse Abarth é um esportivo legítimo, e não uma versão esportiva do SUV, como a antiga linha Sporting que rendeu modelos especiais para Punto e Palio. Entretanto, há uma linha tênue entre o conforto de um carro familiar e a dirigibilidade mais direta de um esportivo que é muito perigosa de ser cruzada. Se exagerar no veneno (com o perdão do trocadilho), o Pulse poderia ficar muito brusco, duro e desconfortável para usar na cidade, como o antigo 500 Abarth.
O veneno do Pulse Abarth gira em torno do motor 1.3 turbo de 185 cv de e 27,5 kgfm, o mesmo que equipa Renegade, Compass e Commander, com câmbio automático de seis marchas. Tudo que foi feito na suspensão, na direção, no escape, na transmissão e nos freios é para segurar o incremento de potência e torque, já que o Pulse 1.0 turbo tem 130 cv e 20,5 kgfm de torque.
A suspensão dianteira recebeu nova geometria e deixou o Pulse mais baixo (apenas 10 mm). As molas e os amortecedores são novos e estão 13% mais firmes na comparação com o Pulse Impetus. A barra estabilizadora também cresceu para melhorar o equilíbrio nas curvas mais intensas.
Os componentes da suspensão traseira, de eixo de torção, também são novos e deixam a estrutura 15% mais rígida. Para completar, os pneus Dunlop estão mais largos, nas medidas 215/50 R17, para aumentar a área de contato com o solo (e, consequentemente, a estabilidade).
O acerto da suspensão era a minha maior curiosidade sobre o Pulse Abarth. Já dirigi vários carros com o motor 1.3 turbo e sei do que essa mecânica é capaz, mas essa é a primeira vez em que a Fiat de fato aplica uma proposta mais esportiva. De balaclava e capacete, entro pela primeira vez no Pulse Abarth para algumas voltas no Autódromo de Tarumã, no Rio Grande do Sul.
Diversão ao toque de um botão
O interior do Abarth colabora muito para uma tocada mais instigante. À minha frente, o volante traz o símbolo do escorpião e o botão “Poison” que basicamente aciona o modo sport e deixa o Pulse mais permissivo.
Afundo o pedal do acelerador com força e sinto um carro propositalmente áspero. Os SUVs turbo da Fiat costumam vibrar mais que os de outras marcas, mas o Pulse parece transmitir mais dessa sensação para a cabine. O som do motor é ligeiramente diferente, com uma afinação mais grave – mas nada que incomode um motorista casual no dia a dia.
Enquanto processava essas informações, vejo o velocímetro atingir 120 km/h e uma chicane de cones se aproximar a alguns metros. Piso no freio com força e dou dois toques no paddle-shifter atrás do volante para reduzir as marchas. Na primeira curva, a carroceria do Pulse inclina um pouco mais do que eu esperava, mas o volante está mais direto e responde bem aos meus comandos.
A Fiat diz que a direção do Abarth está 7% mais direta do que no Pulse convencional, melhorando sua resposta em 51%. De fato, o motorista sente a textura do asfalto pelo volante com bastante precisão, não apenas pelo acerto da direção, mas também pelos pneus com mais aderência.
Nas curvas rápidas, não há necessidade de ficar corrigindo a rota. Basta segurar o volante e deixar o controle de estabilidade agir para trazer o Pulse de volta à trajetória. Aproveito a última reta para castigar o acelerador e prestar mais atenção no som metálico e estridente do motor. O velocímetro chega a 135 km/h quando passo do último cone, sinalizando que o fim da pista se aproxima.
Deixo o volante reto e cravo o pé no freio. A traseira do Pulse dá uma “reboladinha”, como se quisesse ultrapassar a dianteira. Esse comportamento é normal, considerando a baixa concentração de peso no eixo traseiro, mas me deu um certo frio na barriga.
A Fiat divulga que o Pulse acelera de 0 a 100 km/h em 7,6 segundos. No teste da Autoesporte, realizado na TMT Campo de Provas em Tatuí (SP), o SUV levou 7,8 segundos para atingir a marca. Na comparação com o Citroën C4 Cactus THP, o Abarth ficou mísero 0,1 segundo mais lento de acordo com as nossas medições.
As retomadas de velocidade também chamam atenção no modo Poison. O Pulse Abarth leva 3,9 segundos para ir de 60 km/h a 100 km/h, e 4,6 segundos para ir de 80 km/h a 120 km/h.
O Fiat Pulse Abarth é o esportivo mais democrático que você pode comprar no Brasil. O SUV não chega a cruzar completamente a linha que separa os carros familiares dos esportivos, mas coloca só um dedinho do outro lado.
Talvez este seja um novo capítulo na história da Abarth no Brasil, com carros mais divertidos e versáteis. A Fiat ainda terá outros dois modelos da subdivisão esportiva no Brasil, e um deles será o 500 elétrico. O outro, provavelmente, será o Fastback.
Teste - Fiat Pulse Abarth
ACELERAÇÂO |
0 a 100 km/h: 7,8 segundos |
0 a 400 m: 15,6 s |
0 a 1.000 m: 28,3 s |
Veloc. a 1.000 m: 185 km/h |
Vel. real a 100 km/h: 95 km/h |
RETOMADA |
40 a 80 km/h: 3,27 s |
60 a 100 km/h: 3,92 s |
80 a 120 km/h: 4,55 s |
FRENAGEM |
80 a 0 km/h: 25,5 m |
100 a 0 km/h: 40,4 m |
120 a 0 km/h: 59,5 m |
Fiat Pulse Abarth - Ficha técnica
Motor | Dianteiro, transversal, 1.3, turbo, 4 cilindros, 16V |
Potência | 185 cv (A), 180 cv (G) a 5.750 rpm |
Torque | 27,5 kgfm (A e G) a 1.750 rpm |
Câmbio | automático, seis marchas, tração dianteira |
Direção | Elétrica |
Suspensão | McPherson (diant.), Eixo de torção (tras.) |
Freios | Discos ventilados (diant.), tambor (tras.) |
Pneus | 215/50 R17 (Dunlop) |
Dimensões | 4,09 m (compr.), 1,77 m (larg.), 1,57 m (larg.), 2,53 m (entre-eixos) |
Porta-malas | 370 litros |
Consumo | 7,9 km/l na cidade e 9,7 km/l na estrada (A), 11,3 km/l na cidade e 13,6 km/l na estrada (G) |
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