Fui traído pelos meus preconceitos. Quando recebi a missão de avaliar o Fiat Pulse Drive 1.3 com câmbio automático CVT, eu fiz questão de criar as mais baixas expectativas possíveis para não me decepcionar. Afinal, o que esperar deste conjunto mecânico, especialmente depois de ouvir dos meus colegas da Autoesporte boas referências das versões equipadas com o novo motor 1.0 Turbo de três cilindros, um dos responsáveis por fazer o novo SUV ser eleito o “Carro do Ano”?
A verdade, porém, é que o Pulse Drive foi escamando cada um dos julgamentos prévios que fiz a seu respeito durante os 11 dias que estivemos juntos. Depois de cerca 600 quilômetros rodados, o novo Fiat me convenceu que é sim uma boa opção de compra na categoria abaixo dos R$ 100 mil, mesmo sem o turbo sob o capô.
Será que o preço é bom?
Assim como todo jornalista se prepara para entrevistar uma celebridade que está despontando, eu fui atrás de algumas informações sobre o Pulse Drive 1.3 automático antes de acelerar. E de cara fiquei surpreso com o preço inicial: R$ 96.990. Não que seja barato (longe disso, aliás), mas SUV automático abaixo dos R$ 100 mil é raro no Brasil. Vale ressaltar que o carro já passou por alguns reajustes de preços em todas as versões.
E esse preço faz com que essa versão do Fiat não dispute o cliente do Volkswagen Nivus, Caoa Chery Tiggo 3X ou Nissan Kicks, mas aquele cara que está de olho nos hatches bombados metidos a aventureiros. Estou falando do Renault Stepway, ou mesmo do Tiggo 2.
E a lista de equipamentos?
Puxei então a lista de equipamentos de série e voltei a ficar surpreso, pois tem bons itens, como quatro airbags, ar-condicionado digital e automático, sensor de estacionamento traseiro, vidros elétricos nas quatro portas, travas elétricas, espelhos retrovisores externos com ajuste elétrico, volante multifuncional, central multimídia com tela de 8,4 polegadas com conexão para Android Auto e Apple CarPlay sem a necessidade de cabo (oferece entradas USB e USB do tipo C).
Entre os opcionais, três pacotes. O Pack Multimídia 10,1’’, que agrega tela de 10,1’’ para a central e sistema de navegação nativo; o Pack Plus, que instala carregamento do smartphone por indução (Wireless Charger) e câmera de ré; e o Pack Connect Me, que aplica o sistema Connect Me e navegação inteligente embarcada.
Somando tudo, o Pulse, aí sim, se mistura com a galera, passando dos R$ 100 mil.
Cara a cara, o Pulse se destaca
As laterais têm as portas do Argo e adotam grandes apliques plásticos nas caixas de roda para dar uma sensação de músculos. As rodas de liga leve são de 16 polegadas e usam pneus 195/60R16. No contexto geral, devo admitir que gostei mais das rodas de 17 polegadas, pois casam melhor com o visual do Pulse.
A traseira usa estratégias interessantes para transmitir a impressão de que o Fiat é maior do que realmente é, como o spoiler no teto para deixá-lo mais comprido e a área envidraçada menor para torná-lo mais robusto. As lanternas são em LED e há sensores de estacionamento no para-choque. As saídas falsas de escapamento estão lá, mas são pretas e não fazem questão de chamar a atenção.
Hora de acelerar!
Pulo para dentro do Pulse, coloco a chave no contato (infelizmente a ignição não é por botão nesta versão), mas antes dar a partida eu começo a me ajeitar no carro e percebo que a coluna de direção não tem regulagem de profundidade, somente de altura. Coloco o assento o mais baixo possível e mesmo assim ainda fico mais elevado ao volante do que em um hatch.
Ligo o Fiat, posiciono o câmbio em “D” e piso no acelerador em busca das qualidades que este conjunto mecânico pode oferecer. O comportamento surpreende. Não está nem perto de ser intenso como as configurações com motor 1.0 turbo, mas também não é fraco. Apesar de lineares e gradativas, as acelerações e retomadas não são apáticas, como eu imaginava que seriam.
E olha que o motor 1.3 Firefly Flex de quatro cilindros aspirado já atende às novas normas de emissões do Proconve L7, e por isso é ligeiramente mais fraco que o 1.3 Firefly que já equipa outros modelos da marca. No Pulse, este propulsor gera até 98 cv (gasolina) / 107 cv (etanol) de potência e torque de 13,2 kgfm (g) / 13,7 kgfm (e).
Com estes números, a Fiat fala em uma aceleração de 0 a 100 km/h em 12,2 s (gasolina) / 11,4 s (etanol) e velocidade máxima de 173 km/h (gasolina) / 177 km/h (etanol).
Cravo o pé no acelerador e as rotações sobem na casa dos 6.000 rpm. O motor grita e o silêncio na cabine é quebrado. Apesar de simular sete marchas, o câmbio automático do Pulse não deixa de ser CVT. Não existe milagre. Importante destacar que na versão Drive 1.3 automática não há aletas atrás do volante. No lugar das populares “borboletas” estão botões de comando do áudio da central multimídia.
No dia a dia, este conjunto mecânico entrega o que propõe: conforto. E faz isso muito bem, aliás. Quem quer um Pulse com DNA de performance tem que pagar mais para ter o turbo. Esse é o jogo! Aqui, na versão Drive, a emoção é substituída pela comodidade. A escolha é sua!
Resolvo então apertar o botão “Sport” no volante, que é na cor preta e não em um escandaloso vermelho, como nas versões turbinadas. Instantaneamente a personalidade do Pulse muda…um pouco! O motor passa a trabalhar em uma faixa de giro mais alta, a direção elétrica, que é muito leve e confortável, apesar de anestesiada, fica um pouco mais firme. No entanto, o que mais chama a atenção é o acelerador, que fica mais sensível. Desta maneira, as arrancadas antes suaves ficam mais espertas.
O Pulse é equipado com controles de tração e estabilidade, mas por conta de sua personalidade calma, praticamente não entram em ação. Para ser sincero, durante toda a avaliação eles não trabalharam.
Depois de algumas centenas de quilômetros rodados, olho os números de consumo e me surpreendo. Apesar de a Fiat falar em 9,2 km/l na cidade, quando abastecido com etanol, o computador de bordo mostra 9,5 km/l. Uma boa surpresa. Depois, em uma viagem, o consumo rodoviário ficou em 11,9 km/l (também no etanol), mesmo a fabricante anunciando 10,4 km/l.
Somente a título de informação, com gasolina os números são 12,9 km/l e 14,3 km/l na cidade e na estrada, respectivamente.
Rodando, ainda vale ressaltar o comportamento da suspensão. A engenharia da Fiat conseguiu um bom compromisso entre o conforto e o não ser molenga. Resultado é um Pulse que absorve bem as imperfeições do asfalto e mesmo abusando em lombadas e valetas, não há batidas secas. Ponto positivo para os bons ângulos de entrada (20,3º), saída (31,4º) e distância em relação ao solo (224 mm), que não deixam o Pulse raspar em nada.
Espaço ok
O espaço interno do Pulse é ok. Não é um latifúndio, mas está longe de ser apertado. Com 4,09 metros de comprimento, sendo 2,53 metros de distância entre os eixos, pessoas com cerca de 1,70 metro de altura viajam tranquilas. O porta-malas tem 370 litros, de acordo com a marca. Um tamanho bom para compras da semana ou mesmo para um casal viajar no final de semana. Famílias com crianças pequenas que precisam levar algumas parafernalhas a mais podem sofrer um pouco.
Fim do preconceito
O Pulse Drive 1.3 automático acabou com meus preconceitos. É um carro que entrega o que promete. Nem mais, nem menos. É confortável, econômico, tem bons equipamentos de série, pacotes de opcionais interessantes e espaço ok interno por menos de R$ 100 mil. Não é a melhor versão do primeiro SUV da Fiat totalmente desenvolvido no Brasil, mas tem tudo para ser a mais vendida do modelo.
Devo admitir que meu preconceito se transformou em aposta de sucesso…
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