Seguidores do mercado automotivo ficaram embasbacados quando se depararam com o novo logotipo da Jaguar. O velho desenho de um felino em posição de ataque será substituído por um letreiro minimalista com o nome da marca. O “gatinho selvagem” ainda existe, mas vai aparecer nos futuros carros da marca de outro jeito, desconectado do nome. Assim como, eventualmente, um brasão circular com dois ganchos invertidos representando as letras J e R.
Quem entra na conta da Jaguar no Instagram também percebe que todas as publicações antigas foram arquivadas. Restou apenas um vídeo conceitual, cheio de modelos e cores, apresentando esse novo logo, e o primeiro teaser do primeiro produto desta nova fase da marca.
No site oficial, tudo que remetia à antiga Jaguar também foi suprimido. Há apenas uma versão horizontal e alongada do mesmo vídeo, com os dizeres “Uma nova era. Uma grande mudança está a caminho”. Aventurando-se um pouco mais pela página, chega-se a frases de efeito sobre como a marca vai “sair do comum”, “explorar novas perspectivas” e “desafiar fronteiras”. Um pouco clichê, eu sei.
Em todos os seus canais de comunicação, a fabricante do grupo JLR (Jaguar Land Rover), que por sua vez pertence à gigante indiana Tata, avisa que apresentará um novo carro conceito não em um salão automotivo, mas na Semana de Arte de Miami (Estados Unidos), em 2 de dezembro de 2024. Antes, já havia divulgado imagens de um protótipo desse veículo em testes, ainda sob camuflagem zebrada.
Por que a Jaguar vai mudar?
Quando a Tata anunciou a reformulação da JLR, já se sabia que a Jaguar passaria por mudanças profundas. Na época, o grupo anunciou que só um produto do portfólio antigo da gama seguiria em linha, o SUV F-Pace, já com previsão para ser descontinuado até 2025. Só que ninguém talvez esperasse uma estratégia tão agressiva de reposicionamento e uma mudança tão radical de linguagem.
O logotipo minimalista já virou motivo de memes e alguns entusiastas do mundo automotivo estão demonstrando, digamos, descontentamento nas redes sociais — para não dizer preconceito. Isso também por conta da presença de modelos trans e a cor rosa como predominante nas peças publicitárias e no fundo da apresentação do novo logotipo.
Mas o time de marketing da Jaguar parece não se importar muito com isso. Afinal, quase nenhum desses supostos fãs estava mesmo comprando carros da marca. As vendas vinham despencando. E entre puristas reclamões de redes sociais e potenciais compradores efetivos de seus produtos, é óbvio que a empresa vai dar as costas para o chiado do primeiro grupo e correr atrás do segundo.
Entre 2018 e 2023, o volume global de vendas da Jaguar caiu 65% ou quase dois terços, passando de mais de 180 mil veículos comercializados no começo desse período para menos de 65 mil no ano passado inteiro. Ou seja, a fabricante regressou ao mesmo patamar de 2012, e sem qualquer perspectiva de recuperação se mantivesse a mesma estratégia.
Fato é que a Jaguar esteve perdida ao tentar se posicionar como uma marca premium nos moldes das alemãs Audi, BMW e Mercedes-Benz, ou da sueca Volvo. E como o grupo JLR enfrenta questões crônicas ligadas à confiabilidade dos produtos — Jaguar e Land Rover costumam ficar lá atrás em pesquisas de confiança do consumidor —, o felino passou a urrar cada vez mais baixo e para menos consumidores.
Como a Jaguar vai se posicionar no mercado
Com o reposicionamento, a Jaguar deixará de lado tanto o segmento premium quanto o volume de vendas, para apostar no mercado de super luxo, com modelos elétricos para concorrer com Rolls Royce e Bentley, especialmente em mercados como o Oriente Médio. A partir disso, o número de unidades vendidas no ano importará muito menos do que a rentabilidade obtida.
Tanto que o projeto prevê o lançamento de apenas três produtos, sendo todos elétricos e construídos sobre uma nova plataforma, chamada JEP (Jaguar Electrified Platform), até 2030. Ou seja, sua gama de modelos será tão minimalista quanto o próprio logotipo, mas de alto valor agregado.
Gostem os puristas ou não das mudanças, do jeito que estava não dava mais para ficar. Para não desaparecer de vez, a Jaguar precisava tentar um último bote. Se vai ser certeiro ou errado (de novo), só o tempo dirá. Mas uma mudança radical precisava acontecer. E vamos combinar? Até o momento, está dando certo, pois a atenção já foi chamada. Há quanto tempo você não falava ou sequer pensava na Jaguar? Pois é.
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