Enquanto o presidente Luiz Inácio Lula da Silva sanciona a Lei do Combustível do Futuro, que aumenta a quantidade de etanol na gasolina, fabricantes têm deixado de lado a tecnologia flex em alguns motores lançados recentemente, inclusive em carros nacionais.
Atualmente, a gasolina vendida no Brasil pode ter entre 18% e 27,5% de etanol em sua composição total. Após a aprovação do presidente, este percentual passa a ser de 22% a 27%, podendo chegar a 35% nos próximos anos. De acordo com o deputado Arnaldo Jardim (Cidadania), relator do projeto, a mistura máxima de etanol poderá passar dos atuais 27% a 30% já em março de 2025.
Mas isso não impediu que a Honda trouxesse o ZR-V com motor movido somente a gasolina. O 2.0 aspirado de quatro cilindros rende 161 cv e 19,1 kgfm e foi adaptado para o combustível brasileiro, mas não transformado em flex. Fabricado no México e importado em volumes mais baixos, não compensaria o investimento.
É o mesmo caso do 2.0 Turbo Hurricane, fabricado na Itália e importado pela Stellantis para equipar Ram Rampage e os Jeep Compass e Commander. Ele rende 272 cv de potência e 40,8 kgfm.
No lançamento da dupla da Jeep, a Autoesporte apurou com exclusividade que a Stellantis já faz estudos para tornar bicombustível o Hurricane 2.0 turbo.
“Sempre estudamos e trabalhamos no desenvolvimento de motores flex. A questão é se o volume justifica. Temos que ver como serão as vendas”, disse à época Marcio Tonani, vice-presidente de desenvolvimento de produtos da Stellantis na América do Sul.
Caso as vendas justifiquem a operação, podemos esperar que o Hurricane se torne flex apenas em uma mudança de ano/modelo. Para a Stellantis, a vantagem dessa manobra seria pagar um IPI menor para os veículos equipados com o motor Hurricane. A adição de um sistema híbrido leve para melhorar os números de consumo também pode estar no radar.
Outro caso, dessa vez mais recente, é o do Hyundai Creta. A versão Ultimate trocou o antigo 2.0 aspirado flex por um novo 1.6 quatro-cilindros 16V turbo, com injeção direta, porém só a gasolina, de 193 cv de potência e 27 kgfm de torque. Esse propulsor pertence à família Smartstream, que é uma evolução do Gamma II que era oferecido aqui no Tucson e que, atualmente, equipa o Kia Sportage (com 180 cv).
"Quando você vai preparar um motor para a calibração flex, você tem um tempo de desenvolvimento e esse tempo não estava compatível para o lançamento que estamos fazendo. Então tomamos a decisão, obviamente depois de fazer pesquisas de mercado, de lançar [o novo Creta 1.6 TGDi] somente a gasolina”, explicou Airton Cousseau, presidente da Hyundai do Brasil, ao podcast CBN Autoesporte.
Segundo ele, não houve rejeição de consumidores pelo fato do motor não ser flex, mas deixar o etanol como opção para os consumidores já está nos planos da empresa.
“A gente tem planos [de tornar esse motor flex], mas a questão do desenvolvimento do motor flex demora um pouco. Então, no futuro, pode vir o motor flex, a gente ainda não tem a data, mas o motor a gasolina está aí e tenho certeza absoluta que as pessoas que adquirirem esse veículo vão ficar muito satisfeitas."
Executivos da Hyundai também descartam preocupações quanto ao aumento da quantidade de etanol na gasolina e dizem que os impactos já foram avaliados antes da decisão de lançar o novo motor.
"O aumento da quantidade de etanol na gasolina vem sendo discutido entre todas as partes envolvidas e afeta todos os veículos comercializados no País. A Hyundai participa dessas conversas junto à Anfavea e já avaliou eventuais impactos, eliminando qualquer preocupação antes de introduzir no Brasil o motor 1.6 Turbo de 193 cv a gasolina que equipa a versão topo de linha do Novo Creta", disse Alberto Hackerott, gerente de produto da Hyundai.
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