No último dia 6, uma sexta-feira, os líderes do Mercosul e da União Europeia anunciaram a conclusão das negociações do Acordo de Parceria entre o Mercosul e a UE após aproximadamente 25 anos.
Não entrarei na viabilidade ou não do acordo, pois a França, em especial na seara da agricultura, ainda tem questões para resolver que podem colocar tudo em risco. Além disso, o processo é longo e inclui as seguintes fases obrigatórias: revisão legal, tradução para 25 línguas entre os países que fazem parte do bloco, assinatura, internalização das normas discutidas (que no Brasil envolve Executivo e Legislativo) e, finalmente, a ratificação. Será um processo longo, afirmo.
Como o Acordo Mercosul-UE impacta a indústria automotiva?
Vamos ser otimistas. Vamos imaginar que estamos no futuro, que o Acordo seguiu todos os trâmites e já está vigente. O que cabe destacar é a capacidade de integração de dois blocos econômicos que, juntos, reúnem cerca de 718 milhões de pessoas e Produto Interno Bruto (PIB) de aproximadamente US$ 22 trilhões de dólares, sendo um dos maiores acordos, em volume de comércio, já assinados.
Segundo o Governo Brasileiro, "o Acordo deverá reforçar a diversificação das parcerias comerciais do Brasil, ativo de natureza estratégica para o país, além de fomentar a modernização do parque industrial brasileiro com a integração às cadeias produtivas da UE".
Entre outros, o Acordo prevê a redução de tarifas de importação e exportação de veículos e autopeças, podendo baratear custos e tornar nossos produtos mais competitivos. Nunca é demais lembrar que os efeitos plenos e práticos do novo regime tributário serão vigentes a partir de 2033 e provavelmente, apenas depois disso, este acordo entrará em vigor.
Os fabricantes de veículos automotores no Mercosul terão acesso a um mercado maduro, diversificado e robusto em que será possível, com os produtos certos, ampliar as oportunidades de comércio. Principalmente com aquilo que o Brasil sabe fazer de melhor: pequenos hatchs, sedãs, picapes e SUVs.
Importante destacar que o país poderá suspender por três anos o cronograma de alíquota zero para a indústria automotiva (ou mesmo retomar a alíquota de 35% de I.I.) sem necessidade de oferecer qualquer compensação à União Europeia. Para isso, basta que sejam observados riscos à indústria local. Essa suspensão pode ser renovada por dois anos e é uma segurança para as operações locais.
Novos produtos a preços competitivos vindos da Europa e o acesso a novas tecnologias incentivarão a produção e o desenvolvimento locais. A nossa tecnologia de veículos híbridos flex poderá ganhar escala, o que é benéfico para a nossa indústria e, por conseguinte, para o nosso país.
Entretanto, neste cenário, não observo mais espaço para a produção de veículos de luxo locais. Com a proximidade dos preços entre os mercados, a lógica seria manter a produção na Europa, que tem maior escala e maior mercado para este tipo de produto.
A qualidade também será um dos temas com maior destaque neste processo, pois a Europa é muito mais crítica neste quesito. Certificadoras Internacionais terão, assim, papel de destaque.
Um outro fator positivo diz respeito a colaboração entre fornecedores de autopeças presentes nos dois blocos, o que pode trazer benefícios para todos os lados.
Mas a competitividade não trará apenas boas perspectivas às indústrias aqui instaladas. As fabricantes do Mercosul enfrentarão dificuldades para competir com europeias, que dispõem de maior capacidade tecnológica e economia de escala.
Algo também negativo diz respeito a capacidade competitiva e de produção das autopeças que, com preços mais competitivos no exterior, poderiam abandonar a produção local. Nesse contexto ficaríamos mais dependentes de inovação externa, dificultando o desenvolvimento de soluções regionais.
Ainda serão necessários muitos elementos para o correto entendimento do que de fato será o Acordo Mercosul-UE. Potencial para o Brasil, obviamente existe. No entanto, como sempre, só o tempo e as medidas corretas dirão se acertamos.
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