Indústria

Por Marli Olmos

Repórter especial do Valor Econômico e tem grande foco na indústria automobilística

Nos últimos anos, muitas montadoras se juntaram. Alguns desses casamentos prevalecem, em harmonia. Outros, acabaram em divórcio no meio do caminho. Poucos, no entanto, nasceram tão fortalecidos e organizados como o que se viu nesse início de ano com a criação da Stellantis, a “supermontadora” que surgiu da união da Fiat Chrysler com a Peugeot Citroën.

A começar pelo nome. Apesar de não ser ainda familiar para a maioria, há fortes indícios de que a Stellantis logo será uma empresa conhecida e com boa reputação, como as antigas FCA e PSA.

Em vez da sopa de letrinhas em que se transformou a denominação de outras parcerias, que optaram por simplesmente unir no mesmo nome cada uma das marcas, a Stellantis traz uma palavra fácil de pronunciar em qualquer língua, de sonorização forte e significado belo. O termo tem origem no latino “stello”, que significa “iluminar estrelas”.

O grupo que surge como o quarto maior fabricante de veículos do planeta tem só alguns meses de vida. A nova organização, porém, se impôs de tal forma que as fábricas de cada uma das marcas parecem já pertencer a um novo dono. Os funcionários da companhia, com sede na Holanda, já têm identificações, como endereço de e-mail, padronizadas em todas as regiões.

No que diz respeito a produto, a fusão também começa a aparecer. No início de fevereiro, a fábrica da Peugeot Citroën em Porto Real (RJ) celebrou 20 anos. Para marcar a data, a Stellantis confirmou a chegada de uma plataforma inédita no segundo semestre que dará origem a uma nova família de carros.

O projeto resulta do investimento de R$ 220 milhões anunciado em outubro de 2019 ainda pela antiga gestão da PSA. Mas quem comentou o assunto na nota à imprensa foi Antonio Filosa, o ex--presidente da FCA na América do Sul e agora no comando da Stellantis na região.

Dirigirão a companhia 45 executivos em posições globais ou regionais. Foram criados nove comitês para a gestão estratégica da empresa, que nasce com receita anual de 167 bilhões de euros, 400 mil funcionários e fábricas em 30 países.

Na primeira entrevista para a imprensa, por vídeo, o executivo que vai comandar o grupo, Carlos Tavares (ex-PSA), garantiu que nenhuma fábrica será fechada. Disse que a aliança visa justamente “proteger” empregos no mundo inteiro.

A união de forças buscará aumentar escala para reduzir custos. Isso será possível graças à junção de áreas-chave, como setores de compras e desenvolvimento de produtos. O objetivo é chegar a um ganho de 5 bilhões de euros em sinergias, dos quais 80% em quatro anos.

A Stellantis resulta do sonho de Sergio Marchionne, um dos executivos mais respeitados na comunidade automotiva mundial, que morreu aos 66 anos, em 2018. Responsável pelo casamento entre Fiat e Chrysler, Marchionne ia se aposentar sem realizar o desejo de achar um segundo parceiro forte para a empresa italiana que também comandou. “A indústria automotiva é muito fragmentada e o capital necessário para fazê-la seguir adiante é excessivo”, disse em 2014, ao concluir a união das montadoras.

Nos últimos anos, alianças salvaram muitas empresas da bancarrota. O casamento com a Fiat livrou a Chrysler da falência e ainda fortaleceu a montadora italiana. Nissan foi salva em 1999, ao unir-se à Renault, e a Opel, marca europeia do grupo GM, só não desapareceu porque a PSA a comprou, há quatro anos.

A necessidade de investimentos em novas tecnologias, como carros elétricos e autônomos, exige uma soma de esforços nunca vista na história da indústria automobilística. A Stellantis dá mais uma reviravolta nesse sentido e confirma o que há anos Marchionne perseguia.

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