No futebol, vencer um campeonato mostra que um time foi mais regular e pontuou contra grande parte dos rivais. No setor automotivo, a situação é diferente. Para ser líder de vendas, um carro não precisa enfrentar o outro. Mas e se o líder competisse com seus principais concorrentes dentro das quatro linhas? Ou melhor, nas estradas e ruas? Quem vende mais é o melhor? Bom, chegou a hora de descobrir. O apito inicial para o jogo das picapes foi dado.

A líder aqui é a Fiat Strada, que venceu o torneio geral nos últimos dois anos no Brasil e já abriu vantagem em 2024: nos primeiros dois meses, somou 16.590 emplacamentos. O time adversário, a Chevrolet Montana, aparece mais abaixo na tabela, com 3.650 unidades vendidas no período. Na lanterna, a Renault Oroch, que teve ainda menos registros: 2.041.

E você deve estar se perguntando o porquê de Volkswagen Saveiro e Fiat Toro não terem sido classificadas. Isso acontece porque apenas as caminhonetes com câmbio automático e motor turbo participam desse campeonato. Enquanto a primeira delas não cumpre com nenhum dos dois requisitos, a segunda tem um elenco bem mais caro. Dito isso, pausa para a contextualização das equipes.

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Entre as três, quando falamos da atual geração, a primeira a chegar ao mercado foi a Renault Oroch. O modelo foi apresentado no final de 2015 e reestilizado sete anos depois, em 2022. Portanto, saiba que a picape tem o projeto mais antigo do trio.

Por outro lado, as demais foram renovadas recentemente. A Chevrolet Montana foi lançada em 2003 por aqui, mas chegou à sua atual e terceira geração em 2023. A Strada também tem uma boa trajetória entre os brasileiros por ter chegado às ruas em 1998. Só que a segunda geração foi apresentada em 2020, e sua linha com motores turbo foi revelada no ano passado.

Tudo esclarecido. Voltamos à partida. O modelo da fabricante italiana, na versão Ultra, ataca com um motor 1.0 turboflex de 130 cv de potência e 20,4 kgfm de torque. É o ataque que menos faz gols. Isso porque a picape da fabricante americana, na configuração LTZ, tem um propulsor 1.2 turboflex de 133 cv e 21,4 kgfm. A francesa, com sua variante Outsider, traz um 1.3 turboflex de 170 cv e 27,5 kgfm. Pois é. Você piscou e a Oroch abriu o placar.

Na hora de pisar fundo no acelerador, a diferença pouco aparece. De acordo com os nossos testes, realizados no Rota 127 Campo de Provas, a Oroch alcança os 100 km/h em 10,1 segundos. As concorrentes Strada e Montana fazem o mesmo percurso em 10,3 s e 10,2 s, respectivamente.

A diferença é mínima, ainda que a Renault tenha cerca de 40 cv a mais que as demais. E há uma explicação para isso: as últimas duas citadas são mais leves. São consideráveis 181 kg e 122 kg a menos.

Isso, claro, também impacta no consumo de combustível das caminhonetes. Quem sai na frente, nesse caso, é o modelo da Fiat, que chega a fazer 12,1 km/l na cidade e 13,2 km/l na estrada quando abastecido com gasolina.

A picape da Chevrolet fica com a medalha do segundo lugar: 11,1 km/l e 13,3 km/l. Já o rebaixamento cai no colo da Renault. São 10,5 km/l e 11 km/l, nos mesmos parâmetros, mesmo sendo a única com start/stop. Diferenças significativas para o bolso do dono. Gol da Strada.

Só que a desigualdade nas toneladas ainda afeta outro ponto importante: a frenagem. Por ser mais pesada, a Oroch sai dos 100 km/h e chega à inércia em longos 45 metros. As concorrentes fazem essa prova em uma distância menor e garantem mais segurança para os ocupantes. A Strada leva 41 m para parar, já a Montana precisa de apenas 37,8 m. Vale lembrar que, nos três casos, as picapes têm freios a discos ventilados na dianteira e tambores na traseira. Tudo empatado.

Observando os jogadores em campo, vamos falar como se comportam na vida real. E é aí que a Oroch dá seu principal sinal de defasagem. Enquanto as outras duas trazem direção elétrica, o modelo da Renault perde pontos por ser equipado com um conjunto eletro-hidráulico. Na prática, isso significa que a sensação de condução fica mais pesada e até cansativa em trajetos longos. O volante também é mais sensível aos buracos e emendas nas ruas.

Em relação à suspensão, a caminhonete francesa acerta com o uso do sistema multilink na traseira, que é um conjunto mais sofisticado do que os eixos de torção (Montana) e rígido (Strada) das rivais.

Mesmo assim, a Oroch é a que tem o acerto mais firme. Isso garante estabilidade e a faz encarar o off-road com facilidade (ainda mais com os pneus de uso misto). A Strada já oferece um ajuste flexível, mas os ocupantes acabam balançando bastante. O meio-termo é encontrado na Montana, que garante o conforto de um SUV nesse quesito.

Só que a sensação de dirigir também acaba sendo diferente entre as três em função das regulagens disponíveis. Ainda que todas ofereçam acertos de altura nos bancos, a picape da Chevrolet é a única com ajuste de altura e profundidade do volante. Apesar de parecer apenas um detalhe, essa questão interfere (bastante) na comodidade do condutor. Bola na gaveta.

E quando falamos em dimensões? Bom, a menor é a Strada. Afinal, é justamente a única caminhonete compacta do confronto. São 4,45 metros de comprimento. Montana e Oroch já se enquadram na categoria de intermediárias e, por isso, são 27 cm maiores, com 4,72 m.

Essas informações já revelam que o time da Fiat sai perdendo com o menor espaço interno: apenas 2,74 m de entre-eixos. No entanto, a equipe da Chevrolet não fica muito atrás ao oferecer 2,80 m. Quem vence aqui é a Renault com seus 2,83 m. É, aliás, a única que garante que os passageiros viajem de forma confortável na segunda fileira.

Nesse caso, o que fica comprometido é a caçamba. E isso importa, pois não podemos esquecer que as picapes têm atributos de carros de passeio, mas não fogem do trabalho. A francesa oferta somente 683 litros. Até a pequena italiana ganha nesse páreo, com seus 844 l. Contudo, o topo do ranking fica com a americana, que entrega 874 litros — 191 l e 30 l a mais que as concorrentes, respectivamente.

Mas a Montana perde pontos importantes em um quesito crucial para quem busca uma picape, especialmente se ela for usada para trabalho. A estrutura da caminhonete da Chevrolet não foi reforçada para receber um engate e puxar peso adicional. Nesse caso, Strada (400 kg de capacidade de reboque) e Oroch (750 kg) agradecem.

Como estamos falando de modelos compactos e intermediários, outro ponto de atenção é o diâmetro de giro das caminhonetes. Em outras palavras, é essa grandeza que vai facilitar ou não a vida do motorista nas manobras. Strada e Oroch ficam empatadas com seus bons 10,8 m e 10,7 m, respectivamente. A Montana, por sua vez, pode demandar mais um esforço por parte do motorista, uma vez que tem 11,5 m — a Toro, um dos piores números do segmento, precisa de 12,9 metros, por exemplo.

Já estamos na metade do segundo tempo. Hora de decisão. Para isso, vamos aos equipamentos. Quando falamos de segurança, a Montana leva boa vantagem por ser a única do trio com seis airbags — Strada tem quatro e Oroch, apenas dois. E há ainda alerta de colisão frontal e de ponto cego. Fora isso, todas oferecem câmera de ré e sensor de estacionamento de série, bem como controle de cruzeiro.

Em relação aos itens de conforto, Oroch, Strada e Montana trazem Apple CarPlay e Android Auto (sem fio). A Strada só fica devendo em relação ao tamanho da central multimídia, que é de 7 polegadas, menor que a das concorrentes. O painel de instrumentos não é totalmente digital em nenhuma delas.

E também perde ponto a Oroch por só oferecer bancos de tecido. Para finalizar, a picape da Chevrolet se destaca por ser exceção quando o assunto é chave presencial. Nas rivais, é preciso ligar o carro no modo antigo: com chave na ignição.

Se você está acompanhando o placar, já sabe que a Montana está na frente. Basta saber se vai continuar depois (do VAR) dos preços. A telinha mostra que a Oroch é a mais cara do trio e não sai por menos de R$ 151.760, mesmo não oferecendo tantos equipamentos, gastando mais combustível e sendo mais antiga. A potência extra e o bom espaço interno não valem o valor. Terceiro lugar e medalha de bronze.

Hora da decisão. O juiz informa que a Strada é vendida por R$ 136.990. A Montana custa R$ 144.900. A diferença entre elas é de R$ 7.910. E é aqui que escutamos o apito final. Título da Chevrolet sem nem precisar de prorrogação e pênaltis.

O valor extra paga por mais equipamentos, maior caçamba, conforto extra e um pouco mais de potência. Pronto. Não tem como negar: o futebol e o mercado automotivo têm lá suas semelhanças. Afinal, nos dois casos, nem sempre o líder é o melhor.

Apesar do pequeno espaço interno e da cesta de peças mais cara do comparativo, a picape intermediária da Chevrolet se destaca pelo conforto, pela capacidade da caçamba e por ter mais equipamentos de conforto e de segurança.

*Seguro: O valor é uma média entre as cotações das principais seguradoras do país fornecido pela Minuto Seguros com base no perfil padrão de Autoesporte, sem bônus

**Cesta de peças: Retrovisor direito, farol direito, para-choque dianteiro, lanterna traseira direita, filtro de ar (elemento), filtro de ar do motor, jogo de quatro amortecedores, pastilhas de freio dianteiras, filtro de óleo do motor e filtro de combustível (se aplicável)

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