Por quase 20 anos, a Renault apostou nos carros da Dacia, sua submarca romena de modelos mais baratos e simples, para atender países emergentes. Isso inclui mercados da América Latina, como o Brasil, onde carros como Sandero, Logan e Duster foram vendidos sem a “grife” da fabricante francesa.
No mercado europeu, o Dacia Duster chegou à sua terceira geração. Ela não está nos planos da Renault do Brasil, como confirmou o presidente da marca francesa, Ricardo Gondo, ao CBN Autoesporte. Entretanto, o Duster vai servir de base para um novo modelo que será produzido em São José dos Pinhais (PR) a partir do ano que vem. Por isso, alguns protótipos foram avistados no Brasil utilizando a mula do SUV romeno nos testes. Presume-se que os dois terão muitas similaridades.
Esse novo modelo sem nome, identificado pelo código interno R1312 (ou “C-Neo”), não virá para substituir o Duster nacional — os SUVs vão conviver nas lojas por alguns anos. O objetivo da Renault é fazer com que o utilitário inédito concorra com Toyota Corolla Cross, Jeep Compass e companhia no segmento dos SUVs médios. Já o Duster continuará disputando com modelos compactos, como Jeep Renegade e Volkswagen T-Cross. Por fim, mais abaixo, o recém-lançado Kardian será a porta de entrada dos SUVs da Renault no Brasil.
Enquanto o novo modelo não é lançado, voltemos nossas atenções ao Duster europeu. Ele é feito em Pitesti, na Romênia, em uma fábrica com capacidade para produzir um carro por minuto. Os elementos tradicionais de seu design foram mantidos, como o capô elevado, os largos arcos de roda e os apliques plásticos em torno da carroceria.
David Durand, chefe de design da Dacia, destacou a importância da conexão do design exterior com o ambiente interno. “Queríamos que a carroceria e o painel apresentassem uma imagem unificada, como no caso das saídas de ar projetadas no estilo dos arcos de rodas”, disse.
Por outro lado, a cabine robusta dá aos ocupantes a sensação de estarem bem protegidos, com o painel alto e uma ampla faixa decorativa. Outra característica marcante é que a letra “Y” aparece várias vezes. Ela está nas saídas de ventilação, nos apoios de braço, no painel das portas, nas rodas de liga leve e até na assinatura de LED nas lanternas traseiras.
O cockpit está mais focado no motorista, graças à nova central multimídia de 10,1 polegadas que é levemente inclinada em sua direção. Uma curiosidade: se esse Duster está distante do Brasil, uma série de componentes da cabine é compartilhada com o Kardian. O quadro de instrumentos digital de 7 polegadas é um exemplo. A central multimídia pode ser maior, de 10,1 polegadas, no entanto tem o mesmo sistema Media Nav com conectividade Android Auto e Apple CarPlay sem fio.
Todas as superfícies são duras ao toque, mas a construção da cabine é sólida. Por fim, vale destacar o uso de materiais reciclados; porém, a presença de parafusos aparentes denuncia que esse carro passou por um rigoroso plano de custos.
Pensando nos clientes aventureiros, o Duster tem funcionalidade três em um: é possível abrir uma cama dobrável na cabine (de 1,90 metro por 1,30 m), bem como transformá-la em mesa ou em um reservatório para guardar coisas.
O Duster tem 4,34 m de comprimento, 1,81 m de largura, 1,66 m de altura e 2,65 m de distância entre-eixos. Os bancos estreitos ajudam a otimizar o aproveitamento da cabine, principalmente na segunda fileira.
O porta-malas pode ter 358 litros (na versão 4x4), 430 l (na configuração híbrida) ou 474 l (com tração dianteira) — ou seja, trata-se de um dos maiores da categoria. Tendo em vista que a parte mecânica e os periféricos interferem diretamente na disposição do espaço, abordemos este tema imediatamente.
Vamos começar pela versão Hybrid 140, com bateria de 1,2 kWh. Esse é o maior nível de eletrificação que o SUV já atingiu em sua história. O conjunto consiste em um motor 1.6 de quatro cilindros atrelado a dois elétricos (dos quais um é gerador). Combinados, desenvolvem 140 cv e 15,1 kgfm.
A transmissão automatizada multimodo tem quatro marchas ligadas ao motor a combustão e outras duas para os elétricos — dessa forma, os engenheiros garantem que é possível dirigir na cidade sem emissões em 80% do tempo. Inclusive, o conjunto híbrido se mostra eficiente quando o assunto é economia de combustível: cheguei a anotar 20,4 km/l em circuito urbano, um resultado bem adequado.
A versão micro-híbrida também faz sua estreia nessa geração. Ela combina o motor 1.2 turbo de três cilindros com um pequeno gerador de 48V, entregando 130 cv e 23,5 kgfm. Pode ser adquirida com tração dianteira ou integral.
Na configuração aventureira, o Duster também recebe um seletor de modos de condução com seis combinações: Normal, Neve, Lama, Areia, Off-Road e Eco. Esse recurso é inédito na Europa. A suspensão do Duster é rígida, o que ajuda a controlar bem os movimentos da carroceria em curvas e rotatórias. Nos pisos irregulares, torna-se um pouco desconfortável, sobretudo nas passagens por lombadas e outras elevações. Essa afinação mais “seca” pode causar ruídos na cabine com o passar do tempo.
A resposta da motorização híbrida aos comandos do motorista é rápida graças à propulsão elétrica. Quando a carga da bateria está pela metade, o motor a gasolina começa a funcionar como gerador, tornando a experiência bastante ruidosa mesmo quando o condutor não está acelerando. A direção é desmultiplicada, o que auxilia em manobras na cidade. Já o conjunto de freios, que traz discos ventilados nas rodas dianteiras e sólidos nas traseiras, revela um comportamento linear e reativo.
O Dacia Duster custa 27,7 mil euros na versão híbrida, valor que chega a R$ 170 mil na conversão direta. Ele não será vendido no Brasil tão cedo, porém dá um gostinho do que esperar do SUV nacional que estará nas lojas em 2025. Enfim, chegou o momento da Renault deixar os carros de baixo custo para trás.
Ponto positivos: Conjunto mecânico, economia de combustível, espaço interno e porta-malas
Pontos negativos: Suspensão rígida, acabamento simples e desempenho
Dacia Duster Hybrid 140
Motor | Dianteiro, transv., 4 cil. em linha, 1.6, 16V, aspirado, gasolina |
Potência (comb.) | 140 cv a 5.000 rpm |
Torque (comb.) | 25,5 kgfm |
Câmbio | Automatizado, 6 marchas combinadas, tração diant. |
0 a 100 km/h | 10,1 segundos |
Bateria | 1,2 kWh (íons de lítio) |
Consumo (misto) | 19,6 km/l (fabricante) |
Direção | Elétrica |
Suspensão | Indep., McPherson (diant.) e eixo de torção (tras.) |
Freios | Discos ventilados (diant.) e sólidos (tras.) |
Pneus | 215/60 R18 |
Tanque | 50 litros |
Porta-malas | 430 litros |
Peso | 1.455 kg |
DIMENSÕES | |
Comprimento | 4,34 metros |
Largura | 1,81 m |
Altura | 1,66 m |
Entre-eixos | 2,65 m |
Tanque | 50 litros |
Porta-malas | 430 litros |
Peso | 1.455 kg |
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