O Oscar é a maior premiação do cinema mundial. A cada ano, filmes concorrem em mais de 20 categorias, como roteiro, fotografia e direção. Algo similar acontece no mundo dos carros: o vencedor de um comparativo precisa ser melhor que a concorrência em vários aspectos, tais como motor, espaço e tecnologia. No duelo entre Chevrolet Spin e Citroën Aircross, não é diferente. Ambos são carros de sete lugares com propostas acessíveis, ainda que carreguem uma série de distinções. Qual leva a melhor?
Autoesporte colocou as versões topo de linha em um embate. O modelo francês estreou no Brasil no começo do ano como o SUV de sete lugares mais barato do país. Já a veterana minivan acaba de receber a linha 2025 mais moderna, para ter mais fôlego no mercado.
No quesito preços, muito se leva em consideração. É importante entender as implicações da tabela no resultado final. O Aircross Shine está disponível por R$ 136.590. A Chevrolet Spin Premier custa R$ 144.990. Ou seja, uma diferença de R$ 8.400. De forma prática, o francês dispara na frente. Mas a que custo?
A primeira categoria da premiação é figurino, quer dizer, design. O Aircross é um produto inédito e, por isso, tem projeto mais novo que o da Spin. Tem visual moderno, mas há detalhes que merecem mais atenção; um exemplo são os faróis halógenos, que poderiam ser de LED, como os do rival. O visual não é revolucionário e se propõe ao básico.
A Spin, para se recuperar, traz cara nova. Está mais bonita, com luzes full-LED divididas e dianteira robusta. Parece até um SUV. A renovação funciona, mas não tanto na traseira, que tem um aplique pouco harmônico entre as lanternas. Nem parece o mesmo carro quando olhamos o conjunto inteiro. Então, embora a minivan tenha melhorado, o vencedor, por pouco, é o Aircross em virtude das linhas mais atuais.
Espaço é essencial
Segue a premiação com a categoria porta--malas. A Spin tem capacidade de 553 litros. Os bancos da última fileira são apenas rebatíveis e, quando montados, a litragem cai para 162 litros.
No Aircross, a terceira fileira é removível. Cada banco pesa, em média, 8 kg, metade da massa da estatueta do Oscar e nada muito pesado que exija um treino prévio de bíceps. Além da simplicidade (com conotação positiva), é uma solução prática. Entretanto, mesmo sem os assentos adicionais, o Citroën é superado nesse quesito, com 493 litros de volume. Com os dois últimos bancos montados, sobram meros 50 litros. Diferença de 112 litros para a Spin. Não teve jeito, é a minivan que leva (com folga) a estatueta de porta-malas mais espaçoso.
Na categoria conforto, a disputa é acirrada. A Spin só não é maior que o rival em entre-eixos. Tem bom espaço na segunda fileira, que é bipartida e corrediça em até 11 cm — uma solução inteligente para ajudar no espaço da última linha de bancos. A saída dedicada de ar-condicionado é um sopro (literal) de frescor para quem viaja ali.
Mas essa mordomia não chegou à terceira fila. No entanto, pelo menos o acesso ao conjunto extra de assentos é simples. Basta puxar duas alavancas para rebater o banco. O que não é simples? A vida de quem viaja atrás. Os últimos assentos são apertados. Em contrapartida, a minivan tem seis airbags, e o de cortina chega até os últimos bancos.
No C3 Aircross, uma contradição. A versão de cinco lugares tem a segunda fileira de bancos corrediça, mas a configuração para sete pessoas, não. Ao menos ali o espaço é razoável. Mas o encanto vai embora quando o passageiro precisa baixar o vidro e descobre que houve uma economia expressiva de fiação.
O único comando fica no console central, atrás do freio de estacionamento, posição nada prática, não importa onde você esteja sentado. Ainda na seção de cortes de custo, um detalhe curioso é que, em vez de uma saída de ar-condicionado convencional, a Citroën optou por uma espécie de climatizador, com uma peça grande no teto.
Funciona? Menos do que se espera. Tem comando independente e quatro saídas. No entanto, quando está ligado, faz um barulho alto na cabine, além de não ser muito efetivo para gelar o ambiente.
O acesso à terceira fileira também é fácil, com hastes para rebater o assento. O espaço, contudo, é inferior ao da minivan, especialmente para as pernas, que ficam em uma posição elevada. Ademais, são apenas quatro airbags. Dessa forma, após a análise de acesso e conforto, a Spin 2025 acaba de ganhar mais uma estatueta.
Categoria de peso
A premiação avança e chegamos à tecnologia. No Aircross, painel digital de 7 polegadas e central multimídia de 10”, ambos menores em relação à Spin, que se defende com telas de 8 e 11 polegadas, respectivamente. As centrais dos dois carros oferecem conexões sem fio para Android Auto e Apple CarPlay. As telas de ambos são configuráveis, mas a Spin, traz soluções mais eficientes e possibilidades mais amplas de personalização. Além disso, o conjunto de telas que une o painel de instrumentos e a central tem aspecto mais moderno.
No acabamento, prevalece plástico rígido. No Aircross, o design é simples, até minimalista demais. Mas o modelo peca mesmo é na lista de recursos. O ar-condicionado, por exemplo, não é digital. A chave faz as médias caírem ainda mais. Não é canivete, nem presencial. Tem estilo conhecido como “espeto”. É fato, houve uma forte economia (que chega a fazer falta) no SUV da Citroën. O modelo é equipado, no máximo, com um sensor de estacionamento e câmera de ré.
É exatamente na lista de equipamentos que a minivan deixa o rival “no chinelo”. Ar-condicionado digital (item necessário em um carro de R$ 145 mil) e carregador de celular por indução quebram aquele galho. Há ainda uma série de recursos de assistências à condução, como frenagem autônoma de emergência e alertas de saída de faixa e ponto cego.
Mas existem falhas. A chave “presencial” não permite destravar a porta se não for apertado o botão. Ao menos a partida é remota. Além disso, tem outros detalhes que entregam a idade da Spin (e incomodam), como o ajuste de altura do banco do motorista por roldana, que levanta apenas o assento e deixa o banco mais ou menos inclinado.
Nenhum deles tem ajustes de altura no cinto ou de profundidade no volante, itens que fazem falta para uma melhor posição de dirigir. Porém, mais uma vez, para a academia Autoesporte, a Spin leva tanto o prêmio de tecnologia quanto a estatueta de conforto na cabine.
Reviravolta?
Chega a hora de o Aircross revidar: categoria motorização. Aqui, o trunfo do Citroën é o motor 1.0 turbo de 130 cv e 20,4 kgfm. O câmbio é automático do tipo CVT, que simula sete marchas. O conjunto é eficiente, com boas respostas de acelerações e retomadas. Arrisco-me a dizer que temos aqui a melhor combinação de motor e câmbio entre todos os carros da Stellantis com esse conjunto. Um baita elogio. Além disso, o grande acerto da Citroën é o ajuste de suspensão do Aircross. Não se sente trepidação e vibração ao volante, muito menos imperfeições da via.
Agora, há pontos negativos. Em primeiro lugar, a ventoinha do SUV faz questão de lembrar que o motor está ligado. O barulho é alto e reflete de forma significativa na cabine.
Em seguida, vem a Spin. A minivan mudou muito — menos no conjunto mecânico. O motor 1.8 aspirado não empolga com os 111 cv e 17,7 kgfm. Recebeu um “tapa” para ficar mais econômico. E até conseguiu superar o rival turbinado na estrada, mas falta fôlego. As retomadas não são eficientes e o carro demora a responder. No Rota 127 Campo de Provas, a minivan foi 3 segundos mais lenta no 0 a 100 km/h. Perdeu feio em todas as demais provas de desempenho (confira a ficha). E só foi melhor em um dos três ensaios de frenagem, ainda que, nessa comparação, o equilíbrio tenha reinado.
A suspensão na Spin ficou mais elevada, o que resulta numa posição mais alta de dirigir e que agrada. Porém, é menos confortável em comparação com o C3 Aircross. O acabamento acústico também não é um ponto forte. Na premiação, o conjunto pesa. O aspirado da Spin tem baixa manutenção e fama de durabilidade, mas fica atrás do turbo do francês. Por isso, o C3 Aircross leva a última estatueta.
E o vencedor é?
O Oscar de Autoesporte chega aos momentos finais. O Aircross se destaca com motor turbo competente, bom ajuste de suspensão, espaço razoável e preço R$ 8.400 mais baixo. Mas é insuficiente em pontos essenciais, como tecnologia e segurança. A economia cobrou seu preço. Do outro lado, a Spin é mais equipada e segura, mas carrega o velho motor 1.8. Chega o momento. A tensão está no ar. Após as considerações, o Oscar, pelo conjunto da obra, vai para a Chevrolet Spin, dona do melhor custo/benefício. Por uma pequena margem, é verdade.
Seu bolso
Chevrolet Spin Premier | Citroën C3 Aircross Shine | |
Preço | R$ 144.990 | R$ 136.590 |
Cesta de peças* | R$ 13.088 | R$ 7.820 |
5 primeiras revisões | R$ 3.500 | R$ 3.820 |
Seguro** | M: R$ 3.940 e F: R$ 3.103 | M: R$ 3.543 e F: R$ 3.496 |
Garantia | 3 anos | 3 anos |
Consumo cidade (g) | 10,5 km/l | 10,6 km/l |
Consumo estrada (g) | 13,4 km/l | 12 km/l |
*Cesta de peças: Retrovisor direito, farol direito, para-choque dianteiro, lanterna traseira direita, filtro de ar (elemento), filtro de ar do motor, jogo de quatro amortecedores, pastilhas de freio dianteiras, filtro de óleo do motor e filtro de combustível.
**Seguro: O valor é uma média entre as cotações das principais seguradoras do país com base no perfil padrão de Autoesporte, sem bônus. O levantamento foi feito pela Minuto Seguros.
Teste
Chevrolet Spin Premier | Citroën C3 Aircross Shine | |
ACELERAÇÃO | ||
0 - 100 km/h (s) | 13,6 | 10,7 |
0 - 400 m (s) | 19,1 | 17,2 |
0 - 1.000 m (s) | 35 | 31,7 |
Velocidade a 1.000 m (km/h) | 148,7 | 162,3 |
Veloc. real a 100 km/h (km/h) | 97 km/h | 95 km/h |
RETOMADA DE VELOCIDADE | ||
40 - 80 km/h (Drive) | 6,2 s | 4,6 s |
60 - 100 km/h (D) | 7,9 s | 5,7 s |
80 - 120 km/h (D) | 10,2 s | 7,4 s |
FRENAGEM | ||
100 - 0 km/h (metros) | 42,3 | 41,8 |
80 - 0 km/h (m) | 26,9 | 27,1 |
60 - 0 km/h (m) | 15,8 | 14,8 |
Dados da montadora
Chevrolet Spin Premier | Citroën C3 Aircross Shine | |
Motores | Dianteiro, transversal, 4 cilindros em linha, 1.8, 16V, aspirado, flex | Dianteiro, transv., 3 cil. em linha, 12 V, turbo, flex, injeção direta |
Cilindrada | 1.796 cm³ | 999 cm³ |
Potência | 111 cv a 5.200 rpm | 130 cv a 5.750 rpm |
Torque | 17,7 kgfm a 2.600 rpm | 20,4 kgfm a 1.750 rpm |
Velocidade Máxima | 170 km/h | 191 km/h |
Câmbio | Automático, 6 marchas, | Automático, CVT, 7 marchas simuladas |
Direção | Elétrica | Elétrica |
Suspensão | Indep., McPherson (diant.) e eixo de torção (tras.) | Indep, McPherson (diant.) e eixo de torção (tras.) |
Freios | Discos ventilados (diant.) e tambores (tras.) | Discos ventilados (diant.) e tambores (tras.) |
Pneus | 205/60 R16 | 215/60 R17 |
Tração | Dianteira | Dianteira |
Comprimento | 4,42 metros | 4,32 metros |
Largura | 1,77 m | 1,72 m |
Altura | 1,69 m | 1,67 m |
Entre-eixos | 2,62 m | 2,68 m |
Tanque | 53 litros | 47 litros |
Peso | 1.405 kg | 1.216 kg |
Porta-malas (5/7 lugares) | 533 litros / 162 l | 493 litros / 50 l |
Itens
Chevrolet Spin Premier | Citroën C3 Aircross Shine | |
Airbags | 6 | 4 |
Frenagem de emergência | Série | Não disponível |
Ar-condicionado digital | Série | Não disponível |
Android Auto/CarPlay sem fio | Série | Série |
Bancos acab. premium | Série | Série |
Painel digital | Série | Série |
Multimídia | 11" | 10" |
Partida por botão | Série | Não disponível |
Saída de ar traseira | Série | Não disponível |
Faróis de LED | Série | Não disponível |
Controlador de vel. adapt. | Não disponível | Não disponível |
Alerta de saída de faixa | Série | Não disponível |
Retrovisor elétrico | Série | Série |
Carregador por indução | Série | Não disponível |
Câmera de ré | Série | Série |
Terceira fileira removível | Não disponível | Série |
Freio de estac. elétrico | Não disponível | Não disponível |
Notas
Chevrolet Spin Premier | Citroën C3 Aircross Shine | |
CONFORTO | ||
Acabamento | 7 | 6 |
Espaço interno | 7 | 7 |
Porta-malas | 8,5 | 7 |
Ergonomia | 8 | 7 |
Equipamentos de série | 8,5 | 6 |
Equip. de segurança | 8,5 | 5 |
Subtotal | 47,5 | 38 |
DINÂMICA | ||
Motor | 6,5 | 8 |
Frenagem | 7 | 7 |
Suspensão | 8,5 | 9 |
Desempenho | 7 | 9 |
Consumo | 7 | 7 |
Câmbio | 7 | 8 |
Sensação ao volante | 7 | 8 |
Subtotal | 50 | 56 |
MERCADO | ||
Preço | 7 | 8 |
Garantia | 7 | 7 |
Seguro | 7 | 6,5 |
Revisões | 7,5 | 7 |
Preço das peças | 5,5 | 8 |
Atualidade | 8 | 8,5 |
Desvalorização | _ | _ |
Subtotal | 42 | 45 |
TOTAL | 139,5 | 139 |