Open-access Recomendações para elaboração, tradução, adaptação transcultural e processo de validação de testes em Fonoaudiologia

RESUMO

Objetivo  apresentar um guia com recomendações para a tradução, adaptação, elaboração e processo de validação de testes em Fonoaudiologia.

Método  as recomendações apresentadas foram baseadas em diretrizes internacionais tradicionais cujo enfoque está na elaboração, tradução, adaptação transcultural e processo de validação de testes.

Resultados  as recomendações foram compiladas em dois quadros, sendo um deles referente aos procedimentos para tradução e adaptação transcultural e o outro à obtenção de evidências de validade, confiabilidade e medidas de acurácia dos testes.

Conclusão  foi apresentado um guia com as principais recomendações para a organização e sistematização do processo de elaboração, tradução, adaptação transcultural e processo de validação de testes em Fonoaudiologia.

Descritores  Estudos de Validação; Validade dos Testes; Fonoaudiologia; Psicometria; Avaliação

ABSTRACT

Objective  to present a guide with recommendations for translation, adaptation, elaboration and process of validation of tests in Speech and Language Pathology.

Methods  the recommendations were based on international guidelines with a focus on the elaboration, translation, cross-cultural adaptation and validation process of tests.

Results  the recommendations were grouped into two Charts, one of them with procedures for translation and transcultural adaptation and the other for obtaining evidence of validity, reliability and measures of accuracy of the tests.

Conclusion  a guide with norms for the organization and systematization of the process of elaboration, translation, cross-cultural adaptation and validation process of tests in Speech and Language Pathology was created.

Keywords  Validation Studies; Validity of Tests; Speech, Language and Hearing Sciences; Psychometrics; Evaluation

INTRODUÇÃO

Na área da saúde, o adequado processo de avaliação depende da utilização de testes cujas interpretações dos resultados sejam válidas, confiáveis/precisas e equitativas. A validade refere-se à reunião de evidências que indicam se o teste realmente mensura o que propõe mensurar. Já a confiabilidade/precisão indica se o teste é reprodutível ao longo do tempo (estabilidade), se há controle dos erros de mensuração (precisão) e se o resultado do teste é dependente dos itens que o compõem (homogeneidade)(1-3). A equidade permite analisar se o teste avalia as pessoas de forma imparcial, sem permitir que aspectos não relevantes exerçam influência acentuada no desfecho e gerem desigualdades(1,4).

No Brasil, a aplicação desses princípios pela Fonoaudiologia é escassa ou executada de forma parcial, sendo ainda necessário sistematizar o percurso metodológico(5). O processo de validação não é concluído apenas com a elaboração ou tradução e adaptação de um teste. Para que isso aconteça, é necessária a utilização de diretrizes internacionais que garantam a efetiva obtenção das propriedades psicométricas ou clinimétricas do teste.

Apesar das controvérsias existentes entre algumas diretrizes(6), certos princípios metodológicos não podem ser desconsiderados. O objetivo deste manuscrito é apresentar um breve guia de recomendações para a tradução, adaptação, elaboração e processo de validação de testes em Fonoaudiologia.

MÉTODO

As recomendações aqui apresentadas foram baseadas na experiência dos autores com as mais tradicionais e utilizadas diretrizes internacionais relacionadas à elaboração, tradução, adaptação transcultural e processo de validação de testes. No caso da tradução e adaptação transcultural, foram seguidas as recomendações de Beaton et al.(7) e as diretrizes da International Test Comission (ITC)(8). No caso do processo de validação de testes, foram utilizados os princípios do Standards for Educational and Psychological Testing (SEPT)(1), diretriz proposta por três organizações norte-americanas que compila as mais sólidas e utilizadas recomendações e definições relacionadas aos aspectos psicométricos envolvidos desde a elaboração até a interpretação dos testes.

Como este manuscrito é uma nota metodológica que não envolveu coleta em seres humanos, não foi necessário submeter o estudo à apreciação de comitê de ética.

RESULTADOS

As recomendações para elaboração, tradução, adaptação transcultural e processo de validação de testes em Fonoaudiologia estão dispostas nos Quadros 100 e 200.

Quadro 1
Procedimentos para tradução e adaptação transcultural de testes
Quadro 2
Procedimentos para obtenção de evidências de validade, confiabilidade e medidas de acurácia dos testes

DISCUSSÃO

A elaboração, tradução, adaptação transcultural e processo de validação são procedimentos metodológicos necessários para garantir que as interpretações dos resultados de um teste são válidas e confiáveis. No Brasil, esses procedimentos têm sido reproduzidos com frequência pela Fonoaudiologia, porém nem sempre com o imprescindível rigor científico preconizado pelas diretrizes internacionais.

No caso da tradução e adaptação transcultural, existem cerca de 30 diretrizes, mas nenhum consenso que aponte um único padrão de referência(6). Recomendações propostas nos anos 1990 e atualizadas no ano 2000 são as mais disseminadas na literatura internacional(7). Aqui foram seguidas estas recomendações, além das diretrizes da International Test Comission Guidelines (ITC)(8).

Já o SEPT(10) existe desde a década de 1950 e especifica, além da confiabilidade/precisão e equidade, cinco fontes de evidência de validade, baseadas em: conteúdo, processos de resposta, estrutura interna, relação com outras variáveis e consequências do teste. Na área da saúde, as propostas do Scientific Advisory Commitee of the Medical Outcomes Trust (SAC)(10) e do Consensus-based Standards for the Selection of Health Measurement Instruments (COSMIN)(11) são referenciadas com frequência e também podem ser consultadas. Contudo, vale ressaltar que essas duas diretrizes baseiam-se em conceitos psicométricos já não recomendados pelo SEPT desde a edição de 1999, ou seja, são propostas que merecem ser analisadas com parcimônia, especialmente em virtude do marco conceitual.

CONCLUSÃO

Foram apresentadas as principais recomendações para a organização e sistematização do processo de elaboração, tradução, adaptação transcultural e processo de validação de testes em Fonoaudiologia. Recomendamos a leitura mais aprofundada sobre cada um dos procedimentos aqui mencionados, mas esperamos que essas diretrizes auxiliem a condução de futuras pesquisas na área e possam ajudar o fonoaudiólogo a selecionar de forma mais criteriosa os testes que reúnem as melhores evidências para avaliar um determinado desfecho.

  • Trabalho realizado no Departamento de Fonoaudiologia, Universidade Federal da Paraíba – UFPB - João Pessoa (PB), Brasil.
  • Fonte de financiamento: nada a declarar.

REFERÊNCIAS

  • 1 AERA: American Educational Research Association, APA: American Psychological Association, NCME: National Council on Measurement in Education. Standards for educational and psychological testing. New York: AERA; 2014.
  • 2 Streiner DL, Norman GL. Health measurement scales: a practical guide to their development and use. 4th ed. New York: Oxford University Press; 2008.
  • 3 Abad FJ, Olea J, Ponsonda V, Garcia C. Measurement in social sciences and health. Madrid: Sintesis; 2011.
  • 4 Espelt A, Viladrich C, Doval E, Aliaga J, García-Rueda R, Tárrega S. Uso equitativo de tests en ciencias de la salud. Gac Sanit. 2014;28(5):408-10. PMid:24928357. http://dx.doi.org/10.1016/j.gaceta.2014.05.001
    » http://dx.doi.org/10.1016/j.gaceta.2014.05.001
  • 5 Gurgel LG, Kaiser V, Reppold TZ. A busca de evidências de validade no desenvolvimento de instrumentos em Fonoaudiologia: revisão sistemática. Audiol Commun Res. 2015;20(4):371-83. http://dx.doi.org/10.1590/2317-6431-2015-1600
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  • 8 Muñiz J, Elosua P, Hambleton RK. Directrices para la traducción y adaptación de los tests: segunda edición. Psicothema. 2013;25(2):151-7. PMid:23628527.
  • 9 Polit DF, Beck CT. The content validity index: are you sure you know what’s being reprted? Critique and recommendations. Res Nurs Health. 2006;29(5):489-97. PMid:16977646. http://dx.doi.org/10.1002/nur.20147
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  • 11 Mokkink LB, Terwee CB, Patrick DL, Alonso J, Stratford PW, Knol DL, et al. The COSMIN study reached international consensus on taxonomy, terminology, and definitions of measurement properties for health-related patient-reported outcomes. J Clin Epidemiol. 2010;63(7):737-45. PMid:20494804. http://dx.doi.org/10.1016/j.jclinepi.2010.02.006
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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    2017

Histórico

  • Recebido
    25 Out 2016
  • Aceito
    07 Nov 2016
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