Boa Viagem
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Por Eduardo Maia


Passageiro passa em frente a uma tabela com preços de teste para Covid-19 no Aeroporto Intermacional de Guarulhos, em São Paulo Agência — Foto: O Globo
Passageiro passa em frente a uma tabela com preços de teste para Covid-19 no Aeroporto Intermacional de Guarulhos, em São Paulo Agência — Foto: O Globo

RIO - A pandemia mexeu com a forma como trabalhamos, consumimos, nos relacionamos e, claro, viajamos. Algumas dessas mudanças, de acordo com especialistas que atuam no setor do turismo, vieram para ficar. A notícia parece ser boa. Esta forma de viajar do “novo normal” é mais consciente, tecnológica, local e focada em experiências mais autênticas. É o que aponta Fernanda Hümmel, pesquisadora do Laboratório de Estudos de Turismo Sustentável (Lets), da Universidade de Brasília (UNB). Para ela, essas mudanças são a consolidação de algumas tendências que já engatinhavam antes de 2020, ganharam força no decorrer da pandemia e agora parecem ter se consolidado.

— Não apenas pela necessidade, como no começo, mas porque as pessoas mudaram suas visões de mundo neste período — diz. — A pandemia reforçou o movimento que já existia por viagens com maior percepção de propósito, pautada por valores mais éticos e busca de vida mais saudável.

Ela cita o aumento da procura por destinos nacionais. Num primeiro momento, esta foi a solução possível, quando as fronteiras de quase todos os países estavam fechadas. O aumento da demanda, no entanto, provocou uma melhoria na qualidade de serviços em cidades e regiões brasileiras que, por conta disso, tornaram-se ainda mais atrativas ao turista, mesmo com as viagens internacionais voltando.

— Isso é comprovado pelo público do turismo de luxo, que mesmo podendo retomar as viagens internacionais, agora encontra dentro do Brasil experiências exclusivas e de alto padrão — analisa.

Tudo em família

Turista fotografa o Dedo de Deus, cartão-postal da Serra dos Órgãos, entre Guapimirim e Teresópolis Agência — Foto: O Globo
Turista fotografa o Dedo de Deus, cartão-postal da Serra dos Órgãos, entre Guapimirim e Teresópolis Agência — Foto: O Globo

Conta a favor do turismo doméstico, além do real desvalorizado e a maior facilidade de circulação interna, a grande variedade de atrativos ao ar livre e com belezas naturais. Destinos de praia se mantiveram em alta. Mas localidades menores, nos arredores das grandes cidades, e áreas de parques naturais têm atraído mais visitantes. Principalmente em viagens em família e por períodos mais longos, outros dois hábitos que caíram no gosto dos brasileiros — segundo o Airbnb, 22% das hospedagens no país no primeiro trimestre de 2021 foram para estadas acima de 28 noites.

A pandemia acelerou o uso da tecnologia, seja para alugar uma casa, reservar um quarto de hotel ou contratar um passeio diretamente com os prestadores de serviço. Segundo Hümmel, os consumidores se tornaram também mais conscientes em relação aos preços e às condições de cancelamento ou alteração de datas.

— A flexibilidade não é mais uma tendência, mas uma obrigação. A incerteza que a pandemia pode trazer torna os viajantes mais conscientes da necessidade de poder cancelar ou adiar os planos facilmente, se necessário — afirma o country manager da Kayak no Brasil, Gustavo Vedovato.

Essa imprevisibilidade impactou o planejamento da viagem. A partir das estatísticas de buscas e compras de passagens aéreas na plataforma, Vedovato chegou à conclusão de que o brasileiro está deixando para garantir sua viagem ainda mais de última hora:

— Percebemos um aumento nas buscas por destinos próximos ou domésticos em épocas mais próximas da data da viagem, sem tanta antecedência no planejamento, e também fora da alta temporada.

Trabalho em qualquer lugar

Quarto do hotel Pullman São Paulo Ibirapuera convertido em escritório: no lugar da cama, uma mesa com cadeiras  — Foto: Divulgação
Quarto do hotel Pullman São Paulo Ibirapuera convertido em escritório: no lugar da cama, uma mesa com cadeiras — Foto: Divulgação

A “nova viagem” é contemporânea de outra herança da pandemia, o trabalho híbrido. Com a adoção mais ampla do teletrabalho, o home office tem sido extrapolado para as viagens de lazer, em quartos de hotéis ou em casas alugadas.

Essa novidade resultou em mais dois termos em inglês ao nosso vocabulário. Um deles é o bleisure (de “business” + “leisure”, viagens de negócios e lazer juntas). Algo que já existia antes da pandemia, mas que se reforçou com o declínio do turismo de negócios de uma forma geral, e o aumento da valorização de se passar mais tempo em família. O segundo diz respeito a outro lado do mesmo fenômeno: o que permite que o home office aconteça em qualquer lugar, conforme explica o diretor de sourcing da Decolar.com, Tiago Lopes:

— É o anywhere office, que permite uma frequência maior nas viagens de lazer, dado que as pessoas podem trabalhar em lugares distintos.

Essa flexibilidade do local de trabalho provocou adaptações físicas em hotéis, que transformaram quartos, salões ou até mesmo áreas ao ar livre em escritórios, espaços para coworking ou até mesmo áreas para reuniões, presenciais ou por videochamadas.

Para Hümmel, esses novos hábitos refletem a visão de mundo das gerações mais novas, como os millennials:

— Antes da pandemia, eles já demonstravam preocupações com sustentabilidade, consumo responsável e busca por bem-estar.

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