Aos
26 anos, o zagueiro Aderllan Santos é mais um entre muitos jogadores
desconhecidos do torcedor brasileiro. Titular da defesa do Sporting
Braga, quarto colocado no último Campeonato Português, o
pernambucano de 1,93m curte as férias em Salgueiro, no sertão
do estado, onde cresceu e pôde dar os primeiros passos no
futebol. Se no restante do país ele passa despercebido, na cidade
sertaneja é motivo de orgulho.
–
Eu queria trazer um caminhão de
camisas, porque a quantidade de pedidos é enorme. Queria
presentear todo mundo, pois muitos me conheciam antes e querem uma
camisa para pode dizer: “olha, sou amigo dele”. É uma alegria
tão grande que eles ficam, que me surpreende - declara o jogador.
O
carinho e reconhecimento que Aderllan tem em Salgueiro é fruto do
trabalho que desempenha em Portugal. A ligação com o país europeu,
onde chegou em 2010 para defender o Trofense, é tanta, que o Camisa
33 do Braga diz que se sentiria honrado em defender a seleção
lusitana.
–
Eu penso (em ser convocado). Sei que
é difícil, mas eu estou disponível para a seleção. Portugal me
deu praticamente tudo. Por que não? Já estou dando entrada no
processo de dupla cidadania. Sei que têm muitos zagueiros lá, mas
vou continuar dando sequência no meu trabalho, que a oportunidade
virá. Futuramente, eu espero sim ser chamado - assegura Aderllan.
No
Braga desde 2012, Aderllan sabe que a carreira precisa de voos mais
altos. Mesmo pensando em defender a seleção portuguesa, o
brasileiro não esconde o desejo de poder jogar em outros países da
Europa. Com a abertura da janela de transferência no futebol
europeu, o zagueiro revela que tem sido sondado por alguns clubes,
mas que a decisão ficará por conta do presidente do Braga, Antônio
Salvador.
–
O presidente rejeitou uma proposta
da Turquia, do Fenerbahçe, e eles contrataram outro zagueiro. Fiquei
sabendo, mandei uma mensagem para o presidente e ele me confirmou,
dizendo que a proposta não era boa para o clube. Coisas de
presidente, não posso fazer nada, ele já havia rejeitado outras no
ano passado. Mas as coisas estão acontecendo cedo no mercado de
transferência. O mercado abriu praticamente agora e já apareceram
duas propostas. Isso
é bom.
De
acordo com Aderllan, a vontade em deixar o Braga está ligada ao
desejo de poder viver outros desafios na carreira.
–
Não depende de mim sair do Braga,
mas eu penso em jogar em uma liga maior do que a portuguesa. A liga
Portuguesa é muito difícil de jogar, me sinto preparado se for para
sair e eu sonho em jogar por um grande clube europeu. O Braga me ajudou
bastante, mas clubes como o Milan, Arsenal, Real Madri, Barcelona,
Atlético de Madri, Valência, têm outros desafios. Eu queria me ver
nessa liga para saber como eu me sairia – revela.
início no salgueiro e chegada em Portugal
Para
chegar ao ponto de sonhar em ser chamado por uma seleção e querer
defender grandes times do futebol europeu, Aderllan teve que ralar
muito. Do início no Salgueiro, a passagem pelo Araripina e o convite
de um empresário para que tentasse a sorte em Portugal. Assim, como
ele gosta de dizer, começou uma longa história.
–
Fui um dos destaques no juniores do
Salgueiro, não pelos jogos, mas pela quantidade de gols feitos
durante o campeonato, acho que 15 em dois anos. Isso chamou a atenção
de fora, do empresário Gilberto Gaúcho, através do Uendel, outro
jogador, que me indicou para ele. Daí, comecei a ser observado nos
jogos em Recife, mas depois o empresário desapareceu. Então, fui
emprestado ao Araripina e subi de divisão com o time. Depois, voltei
para casa, o telefone tocou inesperadamente e era o empresário,
perguntando se eu estava disposto a fazer um teste em Portugal. O
Trofense ia abrir as portas para mim. Fiquei um pouco preocupado,
mas aceitei – lembra.
Quando
aceitou o convite, Aderllan pensava que demoraria um pouco para
viajar. Porém, para sua surpresa, o embarque estava marcado para
três dias após o telefonema. Os dias de testes em terras
portuguesas foram bons e o zagueiro conseguiu a aprovação do clube.
–
Voltei ao Brasil para resolver
algumas pendências com o Salgueiro. Resolvi, consegui minha
liberação e retornei para Portugal – conta.
O
início no Trofense não foi dos mais animadores. O zagueiro quebrou
o pé e pensou que a sua trajetória no futebol europeu seria
interrompida. No entanto, o clube decidiu apostar no futebol do
pernambucano. Durante o tratamento, ele passou por uma cirurgia tendo
que tirar um osso da costela para fazer um enxerto no lugar
machucado.
Recuperado
da lesão, após quase um ano sem jogar, Aderllan voltou a ter
problemas. Desta vez, o que quase encerrou sua passagem pelo
Trofense foi a indisciplina. Seduzido por uma proposta informal de
retorno ao futebol brasileiro, o jogador abandonou o clube português
e veio ao Brasil.
–
Cheguei no Brasil e não era nada do
que eu pensava. Fiquei três meses em casa. O clube exigia que eu
pagasse uma multa rescisória, por ter fugido de lá tendo contrato.
Sem
clube e sem dinheiro para pagar a multa, Aderllan ligou para os
dirigentes do Trofense, dizendo que estava arrependido e faria
qualquer coisa para voltar a jogar. Mais uma vez, o time decidiu
apostar no potencial do zagueiro. Como punição, Aderllan teve que
pagar uma multa de seis mil euros e ficou o restante da temporada sem
atuar.
–
O meu salário na época não dava
para pagar. Recebia só para comer e o resto era descontado. Tinha
que investir na minha carreira. Fiz a m… agora tinha que assumir.
Eu e minha esposa ficamos quase um ano sem dinheiro – recorda.
Braga e a grande chance da carreira
Com
fama de indisciplinado, após o episódio da fuga, o brasileiro
percebeu que teria que mostrar todo seu potencial na temporada
seguinte. E foi isso que aconteceu. Jogando bem, o zagueiro despertou
o interesse do Braga, sendo contratado pelo clube.
–
Me concentrei, fiz a temporada toda,
mesmo com as dificuldades do clube, que chegou a ficar três meses e
meio sem pagar salários. Mas eu estava preparado para essas coisas,
porque já tinha ficado praticamente um ano sem receber. Me
destaquei, fiz seis gols, acabei como um dos destaques da segunda
liga (equivalente a segunda divisão no Brasil) e fui contratado pelo
Braga.
Quando
chegou para defender a equipe B do Braga, Aderllan viveu uma situação
parecida com que tinha passado no antigo clube. Uma lesão na coxa
fez com que ele ficasse quatro meses longe dos gramados.
–
Tudo isso aconteceu em menos de dois
anos. Aí pensei: de novo? Mas eu já conhecia o final da história e
sabia que terminaria com sucesso.
E
o sucesso veio com a ajuda do destino. Recuperado e atuando pelo time
B, Aderllan viu a grande chance da carreira surgir no time principal.
Com cinco zagueiros machucados, ele terminou sendo a alternativa da
comissão técnica para um jogo contra o Marítimo.
–
Naquela desconfiança eles mês
chamaram. Pensavam que ia ser só aquele jogo e eu voltaria para o
time B. Mas eu só queria uma brecha.
Ser conhecido no brasil
Aderllan
soube aproveitar a brecha que teve. Em 88 jogos pelo time principal,
o zagueiro marcou dez gol e conseguiu ser campeão da Taça da Liga
Portuguesa, na temporada 2012/2013. O jogador sabe que o bom
rendimento faz com que aumente o nível das cobranças.
–
Tento cada dia ser melhor do que
ontem. Quero aprender com tudo, vejo vídeo de outros zagueiros, para
ver o que tem para aprender. Como já fui apontado por uma revista de
Portugal entre os onze melhores da temporada, sei que tenho que ser
melhor cada dia mais porque a cobrança vem e vai ser mais forte – afirma.
Com
a carreira no Brasil se resumindo apenas ao Salgueiro e Araripina, o
defensor espera um dia poder ser conhecido no próprio país.
Torcedor do São Paulo, sonha defender o clube. Segundo Aderllan,
por pouco o sonho não virou realidade.
–
Tenho vontade de jogar no São
Paulo, mas não depende de mim. O São Paulo mandou um olheiro me ver
no jogo do Braga para tentar a contratação. Mas o presidente não
quis vender. Eles poderiam pagar, se não me engano, cinco milhões
de dólares, mas o clube queria dez e não houve negócio. Esperar
mais uma vez. É sinal que eles estão atentos – destaca.