- Atualizado em

Da oficina para a pista, skatista dribla dificuldades consertando motocicletas

Desmotivado, Yann Jyh Wu, 38 anos, quase deixou o esporte. Necessidade fez atleta
se reinventar, abrir oficina em Manguinhos-RJ e resgatar sua paixão pelo "carrinho"

Por Rio de Janeiro

Se a realidade do Skate no Brasil - assim como de várias outras modalidades - ainda não oferece condições para seus praticantes viverem e se dedicarem exclusivamente ao esporte, quem sonha e exerce a profissão precisa se desdobrar para conciliar a paixão com afazeres rentáveis. Esta semana contamos a história de Douglas "Ugry", que trabalha na cozinha de um restaurante no Centro pela manhã e vai direto para alguma pista da cidade. Hoje você conhecerá Yann Jyh Wu, 38, que estudou por conta própria tudo sobre mecânica e customização de motos e abriu uma oficina onde mora, em Manguinhos, onde trabalha todos os dias de 10h às 18h, para poder manter acesa a chama do skate em sua vida - que quase se apagou. O Eu Atleta conheceu estes dois personagens emblemáticos no primeiro fim de semana dos Jogos Cariocas de Verão e traz suas histórias para inspirar outras pessoas. 

Yan Jy Wun em ação nos Jogos Cariocas de Verão (Foto: Eu atleta)Yan Jy Wun em ação nos Jogos Cariocas de Verão (Foto: Eu atleta)



O ronco dos motores na "Ofichina" e o trabalho árduo de um mecânico todo tatuado não revelam de imediato a paixão visceral de Yann Jyh Wu pelo skate (o nome Ofichina é em alusão ao seu nome e traços chineses). Por um longo período de total desmotivação com o esporte e limitado por lesões, o skate praticamente perdeu espaço no seu cotidiano - mas não em sua cabeça. 

+ Muito astral, espírito esportivo e calor: Jogos Cariocas de Verão agitam o Rio

- Pratiquei skate durante boa parte da minha vida no intuito de evoluir e conquistar espaço no esporte. Essa motivação foi se perdendo justamente quando me profissionalizei. A necessidade financeira, os custos e os raros eventos me fizeram parar por quase 8 anos - conta Yan, que entre 1998 e 2002 esteve entre os melhores skatistas amadores do Brasil, com títulos, patrocínios e fotos estampadas em capas de revistas especializadas. 

Yan Jy Wun em sua oficina, em Manguinhos (Foto: Arquivo pessoal)Yan Jy Wun em sua oficina, em Manguinhos (Foto: Arquivo pessoal)

Com a crise do dólar em 2009, as empresas apoiadoras desfizeram suas equipes e fizeram Yann se reinventar. 

- A crise foi o ponto de partida para uma nova fase na minha vida. Sempre gostei de motos, e passei a estudar por conta própria tudo sobre elas. Virei mecânico, customizador, aprendi a preparar motos para manobras e abri uma oficina especializada, a Ofichina. O skate foi perdendo pouco a pouco a magia na minha vida. O que antes era todo dia, passou a ser 4 vezes por mês, depois uma vez por mês, até eu me machucar em 2015. Voltei a praticar, mas como vinha me arrastando em dores, não sentia a mesma felicidade de antes - explicou.

Yan empina moto customizada por ele (Foto: Arquivo pessoal)Yan empina moto customizada por ele (Foto: Victor Alves)

Até que, em um "sonho perfeito", Yann viu-se andando de skate sem as dificuldades físicas que o atormentavam. Deste dia em diante, sai todos os dias da oficina para resgatar sua principal identidade numa pista que fica próxima de Manguinhos, construída pela Rio Ramp Design, empresa que tem arquitetado pistas por toda cidade e, por isso, investido no surgimento de talentos. 

- Se é para ficar sobre essas rodinhas novamente, que seja para voltar no nível de antes. Tenho praticado todos os dias. Fico lá, muitas vezes, até depois da meia noite. Quero agitar as competições nas categorias para adolescentes maiores de 35 - Brinca Yann. - Agradeço imensamente à equipe Rio Ramp Design pela pista de Manguinhos. Graças a ela resgatei minha principal paixão. Virou meu outro "QG", junto com a minha casa e oficina, e espero que se torne o principal - vibra Yann com a alegria de garoto.

Yan Jy Wun na pista próxima à oficina, em Manguinhos (Foto: Arquivo pessoal)Yan Jy Wun na pista próxima à oficina, em Manguinhos (Foto: Isac Dias)

A praia da Barra da Tijuca e a Praça Duó são o palco da 3ª edição dos Jogos Cariocas de Verão. O evento celebra a vocação da cidade para as atividades ao ar livre e a vida saudável, marcas registradas do verão. Os Jogos receberão até 50 mil pessoas, que irão prestigiar os 5 mil atletas profissionais e amadores de 11 modalidades esportivas: surfe, skate street, corrida de rua, basquete 3×3, bodyboard, bodysurf, natação no mar, stand-up paddle, futevôlei, vôlei de praia e beach tennis. Sem contar uma extensa programação musical no palco Sons do Verão. Neste sábado e domingo, as atividades dos Jogos voltam com tudo para agitar mar, areia e o concreto da praça Duó, na altura do posto 3 da praia da Barra.