Nova Iguaçu, Rio de
Janeiro. Cinco horas da manhã. O despertador acorda Douglas Leonardo Marques, o
Ugry, para a batalha. Ele tem que chegar na cozinha do restaurante-café que
trabalha, no Centro da cidade, às 6h, para começar a preparar as especialidades da casa,
que vão ser servidas aos clientes lá pelo meio do dia. De peito aberto para o
batente, lá vai ele com a sua mochila nas costas pegar o ônibus. Um item completa
o figurino enquanto aguarda no ponto e chama atenção dos outros trabalhadores:
o skate. Depois do "boom" do almoço, de tarde, ele vai arrumar a cozinha e se
permitir fazer o que mais gosta: dar uma volta de skate em alguma pista da
cidade, suar e voltar pra casa de cuca fresca. Muitas das vezes, na própria
praça Duó, onde o Eu Atleta o encontrou momentos antes da sua estreia nos Jogos
Cariocas de Verão deste ano.
- O skate é um
esporte inclusivo. Não existe localismo. Todo mundo vai de uma pista para outra
e é bem recebido. Os skatistas vibram com as manobras dos outros, mesmo nas
competições. Um desses amigos que fiz no skate que me convidou para um teste na
cozinha do restaurante. Acabei descobrindo esse meu outro lado, que me
despertou também para a culinária – explica Ugry que, além de competir, muitas
vezes é juiz da CBSk (Confederação Brasileira de Skate).
A fissura pelo
esporte começou em 88, aos 9 anos, quando pegou um skate velho do seu primo
para brincar. Ainda moleque, fazia questão de observar os mais velhos
radicalizando na primeira pista da América latina, lá mesmo em Nova Iguaçu. A
pista – e a outra geração – encheram os olhos do garoto que, desde então, tem o
“carrinho” como elemento fundamental do seu cotidiano, da sua história e do seu
propósito de vida.
A paixão de Ugry (o apelido nasceu e pegou quando ele, ainda adolescente, escreveu errado o nome
de uma famosa marca de skate em seu boné) “contaminou” naturalmente sua filha,
Leticia Ramos, de 22 anos, que divide a emoção do esporte com o pai e ainda
registra, em fotografias, as aventuras dos dois pelas pistas da cidade.
- Isso pra mim não
tem preço. Nunca forcei a barra para a Leticia andar, e ela passou a amar o skate
como eu. Eu não preciso me afastar dela pra fazer o que eu mais gosto. O skate
literalmente nos une, e ainda ganho de presente fotos fantásticas – explicou orgulhoso.
Ugry já trabalhou
nas principais fábricas de shapes (a “tábua” do skate) do Brasil e sabe tudo
sobre a montagem e o mecanismo do skate.
Seu sonho é um dia poder viver do e
para o esporte, ter a sua própria fábrica e “linha de montagem” da matéria
prima do esporte, que costuma ser cara.
- Existe um
movimento gigante do skate no Rio e no Brasil. Mas o esporte carece de
investimento e principalmente de espaço nas grandes mídias, que dá visibilidade
e faz toda engrenagem funcionar. Os eventos profissionais são custosos, por
isso temos poucos. Ver toda essa turma andando de skate aqui hoje (sábado) só
reforça tudo isso. Tomara que a gente possa ter mais e mais iniciativas como os
Jogos Cariocas de Verão para fomentar o esporte.
A praia da Barra da Tijuca e a Praça Duó são o palco da 3ª edição do Oi Jogos Cariocas de Verão. O evento celebra a vocação da cidade para as atividades ao ar livre e a vida saudável, marcas registradas do verão. Os Jogos receberão até 50 mil pessoas, que irão prestigiar os 5 mil atletas profissionais e amadores de 11 modalidades esportivas: surfe, skate street, corrida de rua, basquete 3×3, bodyboard, bodysurf, natação no mar, stand-up paddle, futevôlei, vôlei de praia e beach tennis. Sem contar uma extensa programação musical no palco Sons do Verão.