19/11/2013 18h24 - Atualizado em 19/11/2013 18h24

Em crise, Ulbra paga salários em parcelas de menos de R$ 40 no RS

Com atraso de um mês, último vencimento foi repassado em cinco vezes.
Universidade admite não saber quando situação será regularizada.

Estêvão PiresDo G1 RS

Extrato de funcionário mostra sequência de depósitos que impõe drama financeiro (Foto: Cátia Moraes / Divulgação)Extrato de funcionário mostra sequência de depósitos feitos em outubro (Foto: Cátia Moraes / Divulgação)

Em crise financeira, a Universidade Luterana do Brasil (Ulbra) atrasou ainda mais o salário de funcionários e professores nas últimas seis semanas, no Rio Grande do Sul. O vencimento de setembro, que deveria ter sido repassado em outubro, terminou de ser pago somente neste mês e foi dividido em cinco parcelas. O drama é ainda maior: sem dinheiro suficiente em caixa, a instituição admite não ter previsões sobre quando irá ter capacidade para pagar os vencimentos integrais.

O G1 teve acesso a extratos de funcionários mostrando que a universidade pagou menos de 10% do total do salário referente ao mês de outubro em um depósito efetuado na semana passada. “Há alguns dias, meu marido ganhou R$ 40 em um espaço de uma semana. O pior é que não sabemos qual será o valor de cada parcela. Como saber se poderemos pagar as contas em dia?”, desabafou a dona de casa Catia Moraes, que preferiu não divulgar o nome do marido, funcionário no Campus de Canoas, na Região Metropolitana de Porto Alegre.

A intensificação da crise foi antecedida por uma decisão da Justiça do Trabalho, baseada em uma ação impetrada pelo Sindicato dos Professores do Ensino Privado do Rio Grande do Sul (Sinpro-RS) com o apoio da Reitoria, que bloqueou as contas da Ulbra. Após a intervenção, a universidade passou a ser obrigada a destinar o dinheiro em caixa prioritariamente aos funcionários e ao corpo docente. Porém, como a instituição tem dívidas com fornecedores, não há recursos para pagar em dia ou em parcela única.

A Ulbra, que garante estar determinada a solucionar as dificuldades com a liberação de crédito bancário, confirmou a piora na incidência de atrasos. No dia 9, a universidade realizou o vestibular de verão, o que traz otimismo à reitoria. “Tivemos acréscimo de 15% nas inscrições em relação ao ano passado. O momento vai melhorar com o ingresso de novos alunos”, relativizou o pró-reitor de Planejamento e Administração, Romeu Forneck.

Cofres vazios

Ulbra (Foto: Reprodução/TV Globo)Universidade aposta em novas matrículas para
regularizar situação (Foto: Reprodução/TV Globo)

De acordo com Forneck, a decisão da Justiça do Trabalho foi apoiado pela Ulbra porque anula outros bloqueios judiciais que favoreciam fornecedores, e prejudicavam ainda mais o repasse dos salários.

“Chegamos a ter um bloqueio mensal de R$ 17 milhões cobrados por fornecedores, enquanto a folha de pagamento mensal é de R$ 12 milhões. Ou seja, o que estava inviável, passou a ser possível”, avaliou. O pró-reitor, porém, admite não saber prever em quantas vezes o salário de outubro será pago. “Nossa meta é que cada parcela nao seja inferior a 10% do total.”

Durante o primeiro semestre deste ano, a Ulbra chegou a pagar em dia, mas em duas parcelas, respeitando um acordo selado no final de 2012 pela Justiça. Em agosto, a decisão passou a ser descumprida e começaram os atrasos, o que provocou no uma paralisação de 24 horas. A situação neste mês, no entanto, é considerada pior.

“A reitoria alegou que este é o período quando há historicamente inadimplência. Mas os professores continuam empenhados.Todos sabem que a crise ocorre há muito tempo, mas a compreensão de que para a superação da crise é necessário o funcionamento dela. A Ulbra seguira os débitos se ela continuar funcionando”, minimizou o diretor do Sinpro-RS, Marcos Fuhr.

Investigações na Ulbra
Segundo a Polícia Federal (PF), a crise na Ulbra tem origem em fraudes apuradas pela Operação Kollector em 2010. Na ocasião, 11 pessoas foram investigadas, entre elas, o ex-reitor Ruben Eugen Becker. Por decisão da Comunidade Luterana Evangélica (Celsp), Becker foi afastado do comando da universidade. A crise também provocou o fechamento de hospitais que eram mantidos pela Ulbra e elevou a dificuldade do Sistema Único de Saúde em absorver a demanda de pacientes na Região Metropolitana.

O inquérito identificou crimes de estelionato, fraude, formação de quadrilha e lavagem de dinheiro. A verba desviada da universidade passaria de R$ 63 milhões. A gestão de Becker é criticada pela atual Reitoria, que ainda espera receber de volta, via Justiça, parte dos valores fraudados.

Procurado pelo G1, o advogado do ex-reitor, Geraldo Oliveira, rebate qualquer relação de Becker com o desvio de valores. "Meu cliente é inocente. Passaram-se quatro anos e meio de investigações, foram à Europa, a países da América do Sul e nada foi localizado. Instituições republicanas foram usadas em uma ação truculenta”, sustenta.

O Ministério Público Federal (MPF) informou a existência de uma representação criminal baseada no inquérito da Operação Kollector. A Justiça Federal, por sua vez, apontou que, mais de três anos depois, o MPF ainda não ofereceu denúncia contra os investigados e por isso não existem réus ou processo sobre o caso.

Desencadeada no ano passado, outra operação da PF atingiu a atual gestão na Reitoria da Ulbra. Na ocasião, cinco pessoas foram indiciadas por falsidade ideológica em um inquérito que apurou irregularidades nos cursos de Ensino à Distância (EAD).

Funcionários têm sido surpreendidos com emails que indicam qual percentual do salário será pago (Foto: Cátia Moraes / Divulgação)Funcionários recebem e-mails com percentual de salário que será pago (Foto: Arquivo Pessoal/G1)

 

 

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