Caseu Affleck leva o Oscar de melhor ator por 'Manchester à beira-mar' — Foto: Lucy Nicholson/Reuters
Casey Affleck levou o Oscar de melhor ator neste domingo (26), pelo drama “Manchester à beira-mar”. Pelo segundo ano seguido, o Oscar na categoria foi para um cara de 41 anos que nunca tinha levado a estatueta. Mas o "virgem de 41 anos" de 2017 é bem diferente de 2016. Leonardo DiCaprio já era uma megaestrela, com carreira consistente e consagrada. Casey é bem menos conhecido, com carreira irregular e uma polêmica: a acusação de abuso sexual da qual foi alvo em 2010.
5 fatos sobre Casey Affleck
- Irmão caçula de Ben Affleck e, assim com ele, amigão de Matt Damon
- 1º filme aos 13 anos: o drama 'Lemon Sky', estrelado por Kevin Bacon
- Indicado a Oscar 2008 de coadjuvante por 'Assassinato de Jesse James'
- Acusado de abuso sexual ao dirigir documentário 'Eu ainda estou aqui'
- Tem 2 filhos com ex-mulher Summer Phoenix, irmã de Joaquin e River
Parece que o jogo virou
O “irmão de Ben Affleck” tem agora um prêmio de atuação que Ben nunca levou (venceu apenas pelo roteiro de “Gênio indomável” e pela produção de "Argo”).
A atuação arrebatadora em "Manchester à beira-mar" também rendeu Globo de Ouro e Bafta. É o ponto alto da carreira de início precoce ("Lemon sky", 1988), revelação positiva ("Gênio indomável", 1997), escolhas erradas ("200 cigarros", 1999, e "Alucinação", 2001), elogios da crítica ("Medo da verdade" e "O Assassinato de Jesse James pelo Covarde Robert Ford", pelo qual foi indicado ao Oscar de coadjuvante, mas não levou, de 2007) e desastre na direção ("Ainda estou aqui" de 2010).
Casey Affleck em 'O assassinato de Jesse James pelo covarde Robert Ford' (2007) — Foto: Divulgação
Quem ia imaginar que o cara que fez uma ponta em "American pie" (1999) e um papel secundário em "American Pie 2: A segunda vez é ainda melhor" conseguiria algo tão melhor? Afinal, outra franquia na qual atuou, a de "Onze homens e um segredo" (2001), é marcada pelos cartazes que destacavam a longa lista das estrelas no elenco. O nome dele nunca estava lá nessa lista principal.
Entre altos e baixos, o pior momento foi quando resolveu dirigir e produzir "Eu ainda estou aqui". Anunciado como um documentário sobre o amigo Joaquin Phoenix, chamou atenção pelas entrevistas e aparições bizarras do ator na época do lançamento. Depois, eles revelaram que estavam "trollando" o resto do mundo. Joaquin só estava interpretando um personagem, o mesmo do filme. Difícil dizer o que foi mais criticado: a estratégia de marketing ou o próprio filme.
Casey Affleck em 'American pie' — Foto: Divulgação
Acusado de assédio sexual
Mas a pior consequência de "Eu ainda estou aqui" para Casey Affleck foram acusações de assédio sexual durante a produção do filme. A produtora Amanda White abriu um processo pedindo US$ 2 milhões e a diretora de fotografia Magdalena Górka processou em US$ 2,25 milhões. As ações não chegaram a ser julgadas. Foram feitos acordos extrajudiciais que não tiveram valores divulgados.
Amanda diz que ele a assediou e constrangeu várias vezes, como quando agarrou-a com força pelo braço após ela negar ir para seu quarto de hotel, trancou-a fora do quarto dela, incentivou outro homem a tirar a roupa na sua frente e referiu-se a mulheres como "vacas". Magdalena disse ter sofrido assédios constantes por Casey e outros homens da equipe. Em uma ocasião, ela diz que, enquanto dormia, o diretor se deitou na sua cama só de cueca e camiseta, com hálito de álcool.
Casey Affleck filma Joaquin Phoenix em 'Eu ainda estou aqui' — Foto: Divulgação
Mesmo já resolvido nos acordos com as mulheres, o caso chamou atenção após a indicação. Ainda mais porque, no começo do ano, o filme "O nascimento de uma nação", então cotado ao Oscar, viu suas chances diminuírem. O diretor e ator Nate Parker e o roteirista Jean McGianni Celestin foram acusados de estuprar juntos uma mulher em 1999. Celestin foi condenado e Parker, absolvido. A mulher se suicidou em 2012.
O caso redescoberto de estupro atrapalhou a divulgação de "O nascimento de uma nação" e matou chances de Oscar, diz a mídia de Hollywood. Nate nem foi indicado. Por que o mesmo não ocorreu com Casey Affleck? A pergunta é comum em redes sociais. Alguns apontam racismo, pois Nate e Celestin são negros. Outros alegam que o caso Casey, de assédio, é menos grave que um estupro seguido de suicídio. Nate também deu declarações homofóbicas, o que piorou sua imagem.
À beira de Manchester
Caleb Casey McGuire Affleck-Bold nasceu em Falmouth, nos EUA, em 1975. A cidade litorânea fica em Massachusetts, mesmo estado nos EUA onde está Manchester-By-The-Sea, lar do filme pelo qual ficaria conhecido. Ele e o irmão Ben cresceram em Cambridge, onde a mãe morava após se separar do pai dos meninos, que sofria de alcoolismo.
A mãe incentivava Ben e Casey a irem ao teatro e arrumava trabalhos de atuação para eles por meio de uma amiga diretora de elenco. Casey entrou em "Lemon sky" já em 1988. Aos 18, ele se mudou para Los Angeles para se aventurar no cinema, junto com Ben e um amigo deles, Matt Damon.
Da esquerda: Ben Affleck, Matt Damon, Casey Affleck e Cole Hauser em 'Gênio indomável' — Foto: Divulgação
Seu primeiro papel lá foi em "Um sonho sem limite", de Gus Van Sant. Ben e Matt também fizeram teste, mas não passaram. Aproveitando o contato, Casey levou para Van Sant um roteiro escrito por seu irmão e pelo amigo. Era "Gênio indomável", que transformou Ben Affleck e Matt Damon em estrelas. Casey, que estava no filme, mas com menos destaque e sem crédito de roteirista.
Retribuição
Quase vinte anos depois, foi Matt Damon quem fez lobby por um projeto que seria estrelado por Casey. Matt queria que Kenneth Lonergan escrevesse o roteiro de um filme para ele dirigir e estrelar, sobre um homem que volta para sua cidade para cuidar de um parente após uma morte. Ele teve a ideia geral da história que viraria "Manchester à beira-mar" junto com John Krasinski (o Jim de "The office").
Só que Damon não tinha agenda para dirigir nem atuar. Ele e Krasinski viraram apenas produtores. Kenneth assumiu roteiro e direção. O papel principal caiu no colo de Casey. Os elogios ao filme em 2016 foram a parte boa de um ano que também teve notícias ruins. O ator anunciou a separação de Summer Phoenix, com quem tem dois filhos. Na carona do sucesso, a acusação de assédio voltou à mídia. Mas, ao "New York Times", disse: "O caso já foi resolvido, para o bem de todos".
Jessica Chastain e Casey Affleck no futuro distópico de 'Interestelar' — Foto: Divulgação
Christian Bale e Casey Affleck em cena de 'Tudo por justiça' — Foto: Divulgação