É curioso reparar como foi pouco explorada na ficção a resposta mais icônica àquela temida pergunta que as crianças fazem: “De onde vêm os bebês?”. No cinema, a lenda em torno do pássaro chegou a ser utilizada no curta da Pixar “Parcialmente Nublado” (2009), mas só agora é aproveitada em todo seu potencial na animação da Warner “Cegonhas – A História que Não te Contaram” (2016).
E faz isso de uma forma eficiente, pois o longa dirigido por Nicholas Stoller e Doug Sweetland consegue aliar a folclórica e ingênua narrativa popular ao cotidiano familiar, além de trazer elementos e discussões contemporâneos.
Exemplo é a sátira à vida corporativa com a rotina de escritório empregada às cegonhas, que, na trama, deixaram de “fabricar” bebês humanos para se dedicar ao serviço de entregas de produtos da “Lojadaesquina.com”, o site de vendas virtual que criaram.
Entre os animais, está o veloz Junior (Andy Samberg no original/Klebber Toledo na versão nacional), que, com o típico perfil de funcionário do mês, está prestes a ser promovido para a chefia da empresa. Para ganhar o alto cargo, no entanto, precisa antes demitir a Órfã Tulipa (Katie Crown/Tess Amorim), uma neném que, por causa do comportamento obsessivo de uma cegonha, não foi entregue ao seu lar e cresceu junto com os pássaros.
Apesar de sua boa vontade, a garota gera muitos problemas na linha de produção e o principal deles é colocar a máquina de bebês para funcionar com a carta de um menino que deseja um irmão para brincar com ele.
A linda menininha de cabelos rosa que foi fabricada por engano, porém, precisa ser entregue secretamente por Junior e Tulipa. O colorido capilar, aliás, reforça a mensagem de diversidade, especialmente no que diz respeito ao conceito de família, implícita durante o filme e declarada rapidamente em um flash de imagens no final, com casais inter-raciais, homossexuais, mães e pais solteiros, esperando sua encomenda.
O discurso progressista é até surpreendente em uma produção deste tipo, ainda que sem o teor crítico possível dentro de seu material, se comparado com outras do gênero. Mesmo assim, questiona a necessidade de ser chefe, pontuando-a como resultado de uma imposição social e não um desejo pessoal do protagonista.
Contudo, esse não era o principal objeto de atenção da direção de Stoller e de Sweetland. Seguindo os caminhos da concorrente Disney, o longa da Warner traz o curta-metragem “O Mestre”, que é um aperitivo do “The Lego Ningajo Movie” que estreia no próximo ano.
A dublagem brasileira mantém o texto dinâmico, com Klebber e Tess estreando bem na função, enquanto Marco Luque é mais irregular, talvez pela construção um tanto aleatória de seu personagem, o meio Pombo Luke (voz de Stephen Kramer Glickman, na cópia legendada).
Isso também explica a escolha por uma “câmera nervosa” que corre rapidamente pelos planos animados, aumentando o clima de ação. Mas “Cegonhas” traz também uma trilha pop indie para os mais jovens, com Jason Derulo, Vance Joy e uma inédita do The Lumineers, além da fofura da bebê, que tem apelo universal – a menos que você seja uma criança que nem possa imaginar seus pais encomendando um irmão ou irmã com eles.
(Por Nayara Reynaud, do Cineweb)