Entre “Rocky: Um lutador” (1976) e “O vencedor” (2010) há Oscars e sucessos de crítica e público suficientes para considerar filmes sobre lutadores um gênero consagrado. “Mais forte que o mundo - A história de José Aldo”, baseado na vida do ex-campeão do UFC, estreia nesta quinta-feira (15) tentando se encaixar neste panteão de produções que combinam bem a luta nos ringues com a emoção da vida dos protagonistas. Assista ao vídeo acima.
Mas, assim como Conor McGregor surpreendeu o mundo ao nocautear José Aldo em alguns segundos, o desafio enfrentado pelo longa pode se provar maior do que o esperado.
“Mais forte que o mundo” começa com ritmo mais lento, como um lutador que prefere estudar o adversário. E até que faz sentido, se considerarmos que o longa conta a história de vida de José Aldo desde antes do título na principal competição de MMA do mundo.
Para retratar as dificuldades enfrentadas pelo futuro lutador, principalmente com o pai alcoólatra que funciona ao mesmo tempo como suporte e como uma espécie de vilão, os dias em Manaus são sempre nublados e pesados.
A ideia do diretor Afonso Poyart claramente é mostrar que, para Aldo, aquela época é como um pesadelo, mas infelizmente ele acaba pesando a mão. A trilha carregada demais não reflete o que está sendo mostrado em cena e, com isso, ela acaba causando um desconforto maior que a intenção original.
Comparado a filmes que exploraram muito bem o lado emocional em suas tramas como “Rocky”, “Touro indomável” ou “Guerreiro”, outro longa de MMA que conta com um pai alcoólatra, “Mais forte que o mundo” ainda deixa a desejar.
Brigas e lutas
A coisa muda de figura quando a ação entra em cena. Poyart já havia mostrado em seu filme de estreia, “2 coelhos” (2012), sua habilidade no gênero, que parece ter se desenvolvido ainda mais após a passagem recente por Hollywood, em “Presságio de um crime” (2015).
Para muita gente o grande desafio de “Mais forte que o mundo” seriam as cenas de luta. Nesse quesito, o público pode fica tranquilo. O longa não apenas transmite bem o que acontece dentro do octógono, como também tem boas sequências de briga fora dele.
Adaptação e ficção
O diretor conta que cerca de 30% da história não corresponde à realidade da vida de José Aldo. Isso faz sentido. Toda cinebiografia precisa adaptar alguma coisa do que realmente aconteceu, seja para melhorar o ritmo, seja para não perder tempo demais com pormenores.
O que não dá pra entender direito é a escolha pela criação física de um “inimigo interno” para o lutador, um recurso parecido ao usado em “Dragão: a história de Bruce Lee” (1993). Há maneiras mais refinadas de tratar a velha questão do conflito do protagonista consigo mesmo e com seu passado.
Pelo menos José Loreto está muito bem como Aldo, mesmo sendo uns bons 15 centímetros mais alto. Quem acompanha mais a carreira do lutador pode até se incomodar, já que o ator parece umas duas categorias acima do peso-pena, mas nada que vá prejudicar o resto do público.
“Mais forte que o mundo” até faz um bom trabalho e não passa vergonha. Não chega a lutar de igual para igual com os melhores filmes do gênero, mas mostra que longas de luta brasileiros estão evoluindo. Uma derrota por pontos, mas digna de uma revanche num futuro próximo.