O ímpeto do pequeno Jack de criar um universo rico no confinamento de um quarto, em seus primeiros cinco anos de vida, pode ser comparado ao poder do diretor Lenny Abrahamson de criar um filme de tanto impacto em uma produção relativamente simples. Ambos trabalham com restrições - de espaço, no caso do personagem; de orçamento, no caso do diretor. O resultado é muito maior do que se poderia esperar. Clique acima para ver o trailer.
"O quarto de Jack" foi indicado a melhor filme no Oscar 2016, com orçamento dez vezes menor do que concorrentes como "O regresso" e "Mad Max: Estrada da fúria". É o "primo pobre" da família de indicados junto com "Brooklin" (curiosamente, ambas coproduções entre Canadá, Irlanda e Reino Unido).
Brie Larson, que interpreta a mãe de Jack, foi indicada ao Oscar e é a mais bem cotada. O filme também rendeu indicações de direção e roteiro adaptado.
O drama é baseado em um romance da irlandesa Emma Donnoghue e adaptado pela própria autora. Ele tem duas partes: a primeira, fortemente contraindicada a pessoas com claustrofobia, mostra o período em que mãe e filho ficaram sequestrados dentro de um quarto. Ela foi presa e estuprada ao longo de sete anos. Neste período nasceu o filho Jack, que viveu durante cinco anos no quarto, sem conhecer ou entender o mundo que existia do lado de fora.
O olhar sobre a tragédia do ator mirim Jacob Tremblay - que não entrou na lista de indicados ao Oscar, mas poderia - é de partir o coração, entre a relação afetiva com cada objeto do tenebroso quarto e o contato amedrontado com o enorme resto do mundo.
Este medo surge quando eles passam para a segunda e maior parte, do lado de fora do quarto, ao conseguirem escapar. Após o alívio da fuga, descobre-se que viver a liberdade não seria tão fácil.
Brie Larson mostra com precisão o desespero para tentar armar um plano de fuga e depois a desestrutura emocional de alguém que, ao ser sequestrada, era também uma criança, filha de uma família que também tinha seus problemas.
Em nenhum momento o filme apela para a violência explícita contra as vítimas, nem foca só na pena entre os vários sentimentos que os dois inspiram. O espaço restrito deu conta de toda a beleza e complexidade da relação entre mãe e filho.