Durante os 30 anos do Laboratório de Pesquisa em Paleontologia da Universidade Federal do Acre (Ufac), foi possível organizar um acervo com mais de 5 mil peças. Os fósseis mais achados no Acre e que compõem o acervo são de répteis, sendo os principais de jacarés e tartarugas. O crânio do Purussauro (Purussaurus brasiliensis), um réptil pré-histórico, e o fóssil de um Jabuti-gigante, denominado cientificamente como Chelonoidis, são as peças mais famosas do laboratório.
O professor Jonas Filho, coordenador do espaço, explica que a Amazônia é resultado de variações climáticas ao longo do tempo. De acordo com ele, o local onde encontra-se o Acre era um pantanal, depois virou uma savana e agora é a floresta amazônica. "A Amazônia é resultado de variações climáticas ao longo do tempo. Esses animais não existem mais porque teve uma mudança climática que eles não suportaram", afirma. Para o professor, os fosseis contam esta história. "A paleontologia vê a vida como era no passado", afirma o professor.
O processo de escavação ocorre normalmente na época de estiagem, quando os rios baixam o nível de suas águas e é possível visualizar com mais facilidades os indícios de fósseis. "Tudo isso aqui estava enterrado. Você vai lá com picareta e escava para tirar o esqueleto, que pode estar completo ou ser um pequeno fragmento. Mesmo sendo pequeno pode dizer o tamanho e o bicho que era", conta Jonas Filho.
Purussauro (Foto: Veriana Ribeiro/G1)
O pesquisador explica que os fósseis não tem valor monetário, mas nem sempre as pessoas fazem doações das peças encontradas. "Esses materiais não tem valor monetário, é valor científico. Mas as pessoas as vezes preferem fazer uma coleção pessoal do que doar a instituição. Nós não vamos bater na porta do cidadão para pedir", afirma.
Antes da formalização do laboratório, a maioria das peças era descrita por pesquisadores estrangeiros e foi depositada em outras instituições. "O resgate desse material é muito complicado", afirma Filho.
No Acre existem diversos sítios paleontológicos, mas nenhum é tombado pelo seu valor histórico. "Eles também não estão muito acessivos ao povo. Acho que seria interessante que o governo, como fez com os geoglifos que é da área da arqueologia, preservá-los e transformar em pontos turísticos para ver como é realizado trabalho", declara.
Os espaços
Oficializado em 13 de maio de 1983, o Laboratório de Pesquisas Paleontológicas foi criado a partir das pesquisas na área que aconteciam desde o final da década de 70, realizadas pelo professor Alceu Ranzi.
O local é divido em três espaços. Quando um fóssil chega das pesquisas nos sítios palentológicos é levado para o primeiro espaço. Nele é feita a recuperação dos fósseis que foram danificados, a identificação e a datação do material. "É uma datação relativa, nós já sabemos as datas possíveis de cada região. A Ufac não tem como fazer a datação sotisficada", afirma Jonas.
(Foto: Veriana Ribeiro/G1)
Nesse espaço também ficam guardados os materiais usados na pesquisa de campo, como barracas, redes, instrumentos de pesquisa, panelas, entre outros. "O trabalho de campo pode variar de um a 40 dias, depende da área que você vai fazer a exploração", explica o professor.
Depois da recuperação e identificação, os fosseis são armazenados no segundo espaço. Atualmente o local está sendo reorganizado devido ao projeto de reestruturação da coleção. "Aqui eles são catalogados em livros de registro, que atualmente está sendo digitalizado para um banco de dados. Recentemente conseguiu um projeto que possibilitou a compra de armários apropriados", explica o paleontólogo.
O último espaço que faz parte do laboratório é a sala de exposição, onde ficam as peças mais interessantes da coleção. "É onde está o que, aparentemente, é mais interessante. O que as pessoas conseguem atender com mais facilidade, até porque quem vem muito aqui são crianças das escolas", afirma.
Museu Universitário
O Laboratório compõe o Museu Universitário de História Natural, uma estrutura que ainda não existe fisicamente, mas que foi criado legalmente em 2008 pela Ufac. Fazem parte deste museu outros laboratórios da instituição, como de zoológica e botânica.
"Se eu te convidar para visitar o museu, você vai ter que ir nessa coleção, na zoológica que está em outra sala, na botânica que é em outro bloco. Vai ter que fazer um tour pela universidade inteira", explica Jonas Filho.
Para o professor, o maior desafio é viabilizar o projeto arquitetônico. "Já existe um projeto arquitetônica, mas não tem verba. É necessário popularizar isso", afirma.