O presidente mundial da Audi, Rupert Stadler, confirmou, em encontro realizado com a presidente Dilma Rousseff nesta terça-feira (17), que a montadora alemã vai retomar a produção de automóveis no Paraná, na fábrica da Volkswagen, em São José dos Pinhais, cidade da região metropolitana de Curitiba. O anúncio ocorreu no Palácio do Planalto, em Brasília, onde Stadler confirmou também que a produção será retomada com a fabricação dos carros A3 Sedan e o utilitário esportivo Q3.
Esperava-se, inicialmente, que o A3 hatch também virasse um produto nacional -- o modelo compartilha a mesma plataforma do Golf 7 e já foi fabricado por aqui entre 1999 e 2006. Contudo, a decisão de não incluí-lo no pacote brasileiro pode ter como causa o fato de que os hatches médios iriam ocupar faixas de preços semelhantes (dependendo das versões) e poderiam provocar o chamado "canibalismo" dentro do mesmo grupo.
Stadler disse, em pronunciamento, que a montadora fará, na unidade paranaense, investimentos de aproximadamente R$ 500 milhões até 2016. A volta da empresa ao estado deverá gerar 300 empregos, e a expectativa é de que a Audi cresça 170% no mercado de automóveis brasileiro nos próximos sete anos.
Ele declarou também que considera o mercado de luxo no Brasil pequeno, mas que acredita que a Audi vai crescer junto com a expansão econômica do país.
Também estiveram presentes no encontro a ministra-chefe da Casa Civil, Gleisi Hoffmann; e o ministro de Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Fernando Pimentel, que lembrou a importância do programa Inovar-Auto, do governo federal, no qual a negociação foi inserida. O programa concede benefícios no pagamento de Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) para empresas que estimularem e investirem em pesquisa e desenvolvimento dentro do Brasil.
De acordo com o ministro, o governo atuou nas condições macroeconômicas para trazer a Audi novamente ao Brasil, mas não influenciou na indicação dos locais onde a fábrica poderia ser instalada. "Não indicamos estados e cidades. Fazemos só o ambiente", disse Pimentel.
A estratégia do governo federal em pressionar as montadoras a nacionalizar seu produtos, em troca de benefícios tributários que refletem num preço final menor, vem surtindo efeito. Em dois anos, BMW, Chery, Fiat, Honda, JAC Motors, Mercedes-Benz, Nissan, Toyota e agora Audi anunciaram novas fábricas no Brasil. A Jaguar Land Rover deverá ser a décima da lista. Só a chinesa Chery promete investimento de 1 bilhão em sua unidade de Camaçari (BA); enquanto a alemã BMW injetará R$ 600 milhões em Araquari (SC).
A Audi informou que ainda não sabe quando custarão no Brasil os carros Q3 e A3 Sedan. Atualmente, o preço do A3 1.4 é de R$ 94.900, enquanto o modelo A3 1.8 chega a R$ 123.900. Já o Q3 2.0 está tabelado em R$ 130.950.
Questionado sobre os incentivos fornecidos pelo governo do Paraná para a volta da montadora, o presidente mundial da Audi disse que não iria falar sobre o assunto.
Parceria alemã teve sucesso e erros A volta da produção dos hatches médios A3 e Golf no Paraná deve reeditar uma parceria de sucesso, e também de erros na época, entre Volkswagen e Audi no Brasil. As duas fabricantes se uniram em 1999 e construíram a fábrica de São José dos Pinhais para abrigar a linha de produção dos dois carros. A aposta era tida como certa pela aliança alemã, uma vez que os modelos, mesmo importados, tinham boa aceitação pelo consumidor brasileiro. Nacionalizá-los permitiria oferecer volume de produção e preço mais competitivo. Sem contar o atrativo do câmbio daquele período, cuja paridade estabelecida pelo governo federal era de um para um entre real e dólar.
E as duas marcas trilharam a mesma estrada nos primeiros anos de compartilhamento da planta. Aqui eram produzidas a quarta geração do Golf e a primeira do A3, com bons desempenhos nas vendas. Destaque maior para o hatch da Volkswagen, que por diversas vezes fechava o mês na liderança do segmento em número de emplacamentos.
Apesar de não acompanhar a performance de loja do irmão de plataforma, o A3 ainda era o objeto de desejo de muitos jovens de classe média em busca de status. Chegou a ser o carro do ano no Brasil em 2000.
Mas, com o tempo, essa imagem foi se desgastando e de "carro de playboy" ele virou a vedete do movimento tuning, com direito à suspensão rebaixada, rodas "cromadas" e acessórios pra lá de chamativos. Era o começo do fim para o A3, que viria a ocorrer em 2006, já com a cotação do dólar não mais vantajosa.
Na época, o então diretor de Vendas no Brasil, Peter Englschall, admitiu que houve um erro nas projeções feitas sobre o crescimento do mercado brasileiro de automóveis. "A fábrica precisava de uma produção de 20 mil unidades por ano para ser rentável para a Audi e para os fornecedores", disse ele dias antes de encerrar a linha no Paraná.
Os números, na verdade, nunca chegaram perto disso. Em 2001, seu melhor ano no país, a Audi fabricou 13.700 carros. Depois disso, a curva inverteu. Fechou 2005 com 4.475 unidades e no ano do encerramento produziu menos 2 mil modelos do A3.
A partir dali, o hatch passou a vir da Alemanha cobrando a pesada tributação para importados. No caso da Volks, a estratégia de manter o Golf em produção até hoje, porém sem acompanhar as evoluções do modelo europeu, custou a briga pela liderança entre os hatches médios. Desde 2007, o carro ostenta um visual abrasileirado da quarta geração e atualmente emplaca cerca de 800 unidades/mês.