1. Pular para o conteúdo
  2. Pular para o menu principal
  3. Ver mais sites da DW

Como Berlim se transforma em cidade-esponja

Anne-Sophie Brändlin
7 de agosto de 2024

Sempre que chega o verão, a capital alemã se depara com o problema da seca. Mas Berlim encontrou soluções para coletar e armazenar a água da chuva.

https://p.dw.com/p/4jB6u
Reservatório de água em construção
Um reservatório de água está sendo construído no coração de BerlimFoto: Sven Bock/Berliner Wasserbetriebe

Berlim está localizada numa região seca da Alemanha, e o abastecimento d'água é um tema que sempre volta à tona no verão. É por isso que a cidade tem adotado medidas para absorver e armazenar a água da chuva como uma esponja, liberando-a somente quando necessário.

A seguir, algumas das estratégias empregadas.

Instalações subterrâneas de armazenamento de águas residuais

A primeira medida foi a construção de imensas bacias subterrâneas de transbordamento. Elas funcionam como enormes áreas de estacionamento de águas residuais. Quando chove, a água da área ao redor é coletada na bacia e depois bombeada para uma estação de tratamento.

Nove dessas instalações já foram concluídas, inclusive uma sob o Mauerpark, um popular ponto de encontro no bairro de Prenzlauer Berg, onde ficava parte do Muro de Berlim.

Bacia de água nos subterrâneos do Mauerpark vista de dentro
Bacia de água nos subterrâneos do Mauerpark, vista de dentroFoto: Pedro Becerra/STAGEVIEW

A maior bacia de águas residuais do centro da cidade ainda está sendo construída, e terá mais do que o dobro do tamanho da que já existe no Mauerpark. Com 30 metros de profundidade, o receptáculo circular de concreto conterá quase 17 mil metros cúbicos de água da chuva quando estiver concluída em 2026 – o equivalente a sete piscinas olímpicas.

Redução de transbordamentos de esgoto

Quando chove muito e o sistema de esgoto de Berlim corre o risco de transbordar, a água excedente é armazenada nas bacias. Em seguida, é bombeada para uma usina de purificação antes de ser liberada de volta para os canais e rios de Berlim, quando a chuva cessa.

Isso evita que fezes e águas residuais sejam despejadas no rio Spree durante chuvas fortes, explica Astrid Hackenesch-Rump, porta-voz da Berliner Wasserbetriebe (BWB), empresa responsável tanto pelo abastecimento de água potável como pelo gerenciamento e tratamento de águas residuais em toda Berlim.

"O que motivou esse programa não foi apenas a conservação de recursos e a seca, mas também a prevenção de transbordamentos de esgoto combinados."

Esses transbordamentos ocorrem em sistemas de esgoto combinados, nos quais o escoamento de águas pluviais e o esgoto doméstico são coletados na mesma rede de tubulação. Esses sistemas foram originalmente projetados para transportar todas as águas residuais para uma estação de tratamento, antes de serem despejadas em corpos hídricos naturais.

Catedral de Berlim vista atrás de uma ponte e com uma gaivota voando no céu.
Berlim tem um sistema de água delicado, que arrisca facilmente transbordar quando há muita chuvaFoto: Alex Anton/Zoonar/picture alliance

No entanto, durante chuvas fortes, o volume de água que entra no sistema pode exceder sua capacidade. Quando isso acontece, o excesso, que consistindo em águas pluviais e esgoto não tratado, transborda diretamente para os rios próximos.

Cerca de 2 mil dos 10 mil quilômetros de esgotos da cidade são combinados com transbordamentos em 180 locais. Trata-se, basicamente, de aberturas no sistema de esgoto que levam ao rio Spree, explica Hackenesch-Rump.

Os cursos hídricos de Berlim também são relativamente pequenos e de movimento lento em comparação com os de outras cidades. Por exemplo um grande rio como o Reno, que atravessa diversas áreas urbanas, inclusive Colônia: com uma vazão média de 2.200 metros cúbicos por segundo, ele é capaz de se limpar sozinho.

"Em Berlim, a vazão é de menos de 10 metros cúbicos por segundo. O que quer que entre, portanto, permanece naturalmente por algum tempo. É por isso que esses transbordamentos de esgoto provocam regularmente morte de peixes e diminuição do oxigênio nas águas."

Os planejadores de recursos hídricos, porém, logo perceberam que as bacias só poderiam resolver parte do problema, pois grande parte da cidade é coberta com concreto e superfícies impermeáveis.

"Por isso não conseguimos mais atingir a meta de reduzir os transbordamentos. Em vez disso, mantivemos o status quo, ou seja; se não tivéssemos construído as bacias, a situação teria sido ainda pior."

Jardim florido em terraço urbano.
Agência de águas pluviais de Berlim orienta os planejadores urbanos sobre formas de tornar os telhados e edifícios mais verdesFoto: Andreas FranzXaver Süß

Transformando Berlim em cidade esponja

Berlim já construiu na maior parte de seus espaços abertos, cujos solos antes seriam capazes de absorver a água da chuva. Assim, quando chove muito, em vez de ser sugada pelo solo e pelas plantas, a água escorre pelo concreto ou asfalto e pode acabar se misturando ao esgoto.

"Um por cento a mais de vedação resulta num aumento de 3% nos transbordamentos", explica Hackenesch-Rump. Por isso, o Senado de Berlim e a operadora BWB fundaram uma "agência de águas pluviais". Esta orienta os planejadores urbanos sobre como tornar os telhados e edifícios mais verdes, e apresenta ideias inovadoras para coletar e armazenar a água da chuva para que ela não se misture com o esgoto.

A cidade de Berlim aprovou uma lei estipulando que só uma pequena quantidade de água da chuva em propriedades de novos edifícios pode fluir para o sistema de esgoto. O restante deve evaporar ou infiltrar-se no solo.

Exemplo: um novo bloco de apartamentos foi construído com um grande lago que coleta a água da chuva. As plantas adjacentes ajudam a purificar a água, que pode então ser usada para irrigação.

Medidas ecológicas como essa também ajudam a manter as temperaturas mais baixas e protegem contra enchentes repentinas. "Para resolver a crise da água, é necessário disposição de pensar além dos limites da imaginação, mesmo que seja só pensar além da linha da própria propriedade", conclui Astrid Hackenesch-Rump.

Contra clima extremo, Hamburgo quer se tornar cidade-esponja