O adeus de Usain Bolt: conheça os números e os segredos do fenômeno das pistas
Usain Bolt é o maior velocista de todos os tempos, sendo o único a ter vencido três vezes em Olimpíadas as provas de 100m e 200m.
O jamaicano disputa sua última grande competição, o Mundial de Atletismo 2017, em Londres, e aqui enumeramos nove razões que explicam seu status de "mito" do esporte.
1
Ele é o homem mais rápido da história. Bolt é o dono dos últimos três recordes mundiais dos 100m, e sua primeira marca foi estabelecida há nove anos.
Em maio de 2008, Bolt correu a prova em 9,74s, apenas dois centésimos mais rápido que o recorde do também jamaicano Asafa Powell. Três meses mais tarde, nas Olimpíadas de Pequim, ele baixou o tempo para 9.69s.
Mas a cereja no bolo foi no Mundial de 2009, em Berlim, quando Bolt venceu os 100m com a incrível marca de 9.58s.
O primeiro recorde mundial da prova data de 1912, quando o americano Donald Lippincott correu 10,6s nos Jogos de Estocolmo, a primeira competição disputada depois da criação da Federação Internacional de Atletismo (Iaaf) - naquela época a cronometragem era manual e não registrava centésimos. Outro americano, Jim Hines, em 1968, foi o primeiro homem a oficialmente completar a distância abaixo de 10s (9,95s).
Sendo assim, Bolt foi o primeiro ser humano a baixar o tempo de Lippincott em um segundo.
2
Ele é o mais rápido também com mais frequência. Antes do Mundial de Londres, a lista da Iaaf com os melhores tempos da história dos 100m mostra que apenas um punhado de rivais chega perto das marcas de Bolt.
Desde Jim Hines, 124 homens quebraram a barreira dos 10 segundos.
Mas apenas Bolt, os jamaicanos Yohan Blake e Asafa Powell, bem como os americanos Justin Gatlin e Tyson Gay, correram abaixo de 9.78s.
Bolt fez isso com estilo: nove vezes, mais do que qualquer outro atleta.
3
Além de 100m. Bolt é também "craque" nos 200m. Desde 1977, quando a Iaaf passou a usar a cronometragem automática, ele é o único homem a acumular os recordes mundiais das provas que venceu nas Olimpíadas de 2008, 2012 e 2016.
Nos Jogos de Pequim, por sinal, Bolt superou nos 200m a marca estabelecida 12 anos antes pelo Americano Michael Johnson. Correu em 19.30, dois centésimos mais rápido que Johnson. No ano seguinte, marcou 19.19s.
Bolt também é tetracampeão mundial e bicampeão olímpico do revezamento 4x100m.
4
Ele é incrivelmente consistente. Apesar de ter sido derrotado no Mundial de Atletismo por Gatlin nos 100m, Bolt venceu praticamente todas as corridas que disputou desde 2008.
Ele perdeu a medalha de ouro do revezamento dos Jogos de Pequim depois de um companheiro de equipe, Nesta Carter, ter sido flagrado em um exame antidoping.
Outra "mancha" no impressionante currículo de Bolt foi a desclassificação nos 100m do Mundial de Daegu (Coreia do Sul), em 2011, quando ele "queimou" a largada.
5
Poucos o derrotaram. Desde 2008, Bolt perdeu apenas uma prova de 200m - pelo compatriota Blake, durante o Campeonato Jamaicano de 2012.
Blake também venceu os 100m na mesma ocasião, apenas uma de cinco vezes em que Bolt não levou a prova em um grande evento.
Gatlin, Christian Coleman, Powell e Gay são os únicos atletas que superaram Bolt nos 100m.
6
Ele é mais rápido do que você pensa. Quando estabeleceu seu mais recente recorde mundial dos 100m, Bolt correu sua parcial mais rápida de 10m em apenas 0.81s. Isso equivale a uma velocidade de 44,5km/h - mais ou menos a mesma de um cavalo galopando.
Mas o tempo e as lesões afetaram os poderes de Bolt - ele completa 31 anos em 2017. Seus melhores tempos têm ficados mais lentos e ele compete com menos frequência. Em 2016, suas melhores marcas foram 9.81s para os 100m e 19.78s para os 200m, ambas quando venceu essas provas nas Olimpíadas do Rio. Tempos vencedores, mas lentos para os padrões do jamaicano.
7
Como bolt consegue ser tão rápido? Não há resposta simples, mas um estudo sobre Bolt publicado na revista científica Journal of Human Kinetics, constatou que a altura do velocista jamaican (1,95m) é um fator que lhe dá vantagem.
A altura costuma ser vista como um problema para velocistas na largada, pois, em teoria, pode limitar sua aceleração. Mas segundo os autores do estudo, a altura de Bolt lhe dá passadas mais largas e possibilita que ele mantenha a velocidade por mais tempo e desacelere mais lentamente que competidores mais baixos.
8
A passa de Bolt tem comprimento médio de 2,47m. Isso é 20cm maior que a maioria dos outros competidores. E ele consegue manter uma frequência alta de passadas.
Isso é algo devastador para os adversários, pois Bolt consegue ganhar terreno a cada passo. O estudo sobre a fisiologia de Bolt, por exemplo, constatou que, em 2009, ele precisou de menos de 41 passadas para bater o recorde mundial dos 100m, ao passo que os outros finalistas precisaram, em média, de quase 45.
9
Mas e a largada mais lenta para velocistas mais altos? Bolt normalmente supera esse problema.
Ele tem partida mais lenta que outros competidores - em corridas de 100m em Mundiais e Jogos Olímpicos, ele demorou em média 158 milésimos para reagir ao tiro de largada. Seus concorrentes tiveram média de 149.
Mas para o ex-atleta Michael Johnson, ex-campeão olímpico e mundial dos 200m e 400m, Bolt tem um poder de recuperação que o equipara a velocistas mais baixos. "Você percebe que, nos 30 primeiros metros, ele está parelho com os velocistas mais baixos, o que é raro", disse Johnson ao Canal Olímpico.
No Mundial de Londres, o tempo de reação de Bolt foi de 183 milésimos, 31 milésimos mais lento que a concorrência.
9.58
Mas Bolt é muito mais do que um corredor. Ele tem a famosa comemoração imitada em todo mundo e conta histórias de pescador - nos Jogos de Pequim, disse ter comido "quase mil nuggets(de frango)" durante a competição.
Prestes a se aposentar, ele ainda é um dos mais populares atletas do mundo, com um imenso número de seguidores nas mídias sociais - quase 19 milhões no Facebook, 7,1 milhões no Instagram e 4,75 millhões no Twitter.
Bolt também é um homem rico: contratos de patrocínios com empresas variando do ramo de material esportivo a uma marca de champanhe fazem com que sua receita total no biênio 2016-17 chegue a US$ 34,2 milhões (R$ 107 milhões). Segundo a revista americana de economia e negócios Forbes, Bolt é a 88ª celebridade mais bem paga do mundo.
O jamaicano tem uma fundação que doa dinheiro para projetos de caridade, incluindo a sua antiga escola, em Trelawny Parish, cidade costeira no norte da Jamaica.
A grande preocupação agora é o que fazer depois da aposentadoria. E não estamos falando de Bolt, que recentemente disse que pretende "descansar e curtir a vida do máximo possível". Quem coça a cabeça é o mundo do atletismo, prestes a perder sua maior estrela, e uma personalidade que, ao contrário de muitas outras do esporte, não teve o nome manchado por escândalos de doping.
Se há uma coisa que não pode ser medida em gráficos, trata-se de quanto o esporte sentirá saudades do carisma do jamaicano.