Biden autoriza Ucrânia a usar mísseis de longo alcance dos EUA para atacar Rússia
O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, deu sinal verde para que a Ucrânia use mísseis de longo alcance fornecidos pelos EUA para atacar a Rússia, confirmou uma fonte oficial à CBS News, parceira americana da BBC, neste domingo (17/11).
Ainda não há uma confirmação formal da Casa Branca ou do Pentágono sobre essa medida. Biden está em viagem ao Brasil – neste domingo, pousou em Manaus, no Amazonas, antes de seguir para a cúpula do G20 no Rio de Janeiro.
A decisão de autorizar o uso dos mísseis ATACMS (Sistema de Mísseis Táticos do Exército, na sigla em inglês) representaria uma grande mudança na política dos EUA em relação à guerra.
Ela também permitiria que o Reino Unido e a França possam conceder à Ucrânia permissão para usar os potentes mísseis Storm Shadow.
O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, vem pedindo há meses que essas restrições ao uso de mísseis de longo alcance sejam levantadas, permitindo que a Ucrânia ataque alvos dentro da Rússia.
A notícia sobre a autorização americana ocorre logo após o intenso ataque Rússia contra a infraestrutura de energia da Ucrânia neste domingo.
Zelensky, em declaração neste domingo, não confirmou nem negou se os EUA haviam concedido permissão para usar as armas.
O presidente ucraniano afirmou em vídeo que apresentou um "plano de vitória" aos aliados, que inclui "capacidade de longo alcance para nosso exército".
"Ataques não são realizados com palavras. Essas coisas não são anunciadas. Os mísseis falarão por si mesmos", disse.
A Rússia ainda não se manifestou, mas o presidente Vladimir Putin já havia se pronunciado antes sobre essa possibilidade.
Em setembro, Putin alertou o Ocidente sobre a permissão de que a Ucrânia utilizasse mísseis de longo alcance para atingir território russo.
Ele afirmou que Moscou consideraria isso como uma "participação direta" dos países da Otan (a aliança militar Organização do Tratado do Atlântico Norte) na guerra da Ucrânia, dizendo que isso "mudaria substancialmente a própria essência, a natureza do conflito".
"Isso significará que os países da Otan, os EUA e os estados europeus estão lutando contra a Rússia", declarou o líder do Kremlin.
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O MGM-140 Army Tactical Missile System, ou ATACMS, é fabricado pela Lockheed Martin, fabricante de produtos aeroespaciais e militares.
Esses mísseis têm um alcance de até 300 km e são difíceis de interceptar devido à sua alta velocidade.
Os EUA enviaram essas armas como parte de um pacote de apoio, e elas já foram usadas pelo menos uma vez para atingir alvos russos na Crimeia ocupada. Elas são uma das armas mais potentes fornecidas à Ucrânia até agora.
Os americanos têm sido o maior fornecedor de armas para a Ucrânia desde o início do conflito.
Entre fevereiro de 2022 e o final de junho de 2024, o país entregou ou comprometeu-se a fornecer armas e equipamentos no valor de US$ 55,5 bilhões (R$ 318 bilhões), de acordo com o Instituto Kiel para a Economia Mundial, uma organização de pesquisa alemã.
Os ATACMS permitem que a Ucrânia ataque mais profundamente em áreas controladas pela Rússia, mirando bases, instalações de armazenamento e centros logísticos.
A Rússia já declarou anteriormente que esse armamento "não mudará fundamentalmente o desfecho" da guerra, mas Putin alertou os EUA contra seu uso em território russo.
Em setembro, já havia fortes indícios de que os Estados Unidos e o Reino Unido estariam prontos para suspender suas restrições ao uso de mísseis de longo alcance pela Ucrânia contra alvos dentro da Rússia.
Logo após o anúncio da autorização, o ministro das Relações Exteriores da Polônia, Radoslaw Sikorski, declarou que a decisão de Biden acontece após a entrada de tropas da Coreia do Norte na guerra.
Em outubro, a agência de espionagem da Coreia do Sul afirmou que a Coreia do Norte enviou tropas para lutar com a Rússia na Ucrânia — uma alegação que surgiu depois que Zelensky disse acreditar que 10 mil soldados norte-coreanos poderiam se juntar à guerra.
Oficiais dos EUA informaram à agência de notícias Reuters em 4 de novembro que tropas norte-coreanas estavam envolvidas em combates na região de Kursk, na Rússia, que fica perto da fronteira com a Ucrânia.
Na própria Coreia do Norte, foi anunciado nesta semana que o líder Kim Jong-un assinou um decreto ratificando um tratado de defesa mútua com a Rússia.
'Importância não pode ser subestimada'
Para o correspondente de diplomacia da BBC, Paul Adams, que se encontra em Dnipro, na Ucrânia, este é "um momento significativo na guerra".
Ele conversou com Serhii Kuzan, presidente do centro de pesquisa ucraniano Security and Co-operation Centre, com sede em Kiev.
"Esta é uma decisão muito importante para nós", disse Kuzan "Não é algo que vá mudar o curso da guerra, mas acho que tornará nossas forças mais equilibradas."
Kuzan afirmou que a decisão veio no momento certo para conter o início esperado de uma grande ofensiva por tropas russas e norte-coreanas, planejada para expulsar as forças ucranianas da região de Kursk, controlada pela Rússia.
Espera-se que essa ofensiva comece em poucos dias.
"É por isso que essa decisão chega na hora certa. Restam dois dias", disse ele, acrescentando que muito dependerá da quantidade de mísseis já fornecidos à Ucrânia e se os EUA compartilharão informações de inteligência para que os mísseis sejam usados com máxima eficácia.