Adolescente brasileiro morre em meio a bombardeios de Israel contra Hezbollah no Líbano

Explosão em meio a casas e morros no Líbano

Crédito, ATEF SAFADI/EPA-EFE/REX/Shutterstock

Legenda da foto, Bombardeio no sul do Líbano em foto de segunda-feira (23)

Um adolescente de 15 anos com nacionalidade brasileira morreu em meio as bombardeios no Líbano.

Ali Kamal Abdallah foi vítima de bombardeios no Vale do Bekaa, um dos principais alvos dos bombardeios israelenses que começaram na segunda-feira (23/09), informou o Itamaraty. O pai dele, que era paraguaio, também morreu.

"O menor e seu pai, de nacionalidade paraguaia, foram atingidos por explosão como resultado dos intensos bombardeios aéreos israelenses na região, na segunda-feira. A Embaixada do Brasil em Beirute está prestando assistência aos familiares do menor", afirma nota do Itamaraty divulgada nesta quinta-feira (26/9).

"Ao solidarizar-se com a família, o governo brasileiro reitera sua condenação, nos mais fortes termos, aos contínuos ataques aéreos israelenses contra zonas civis densamente povoadas no Líbano e renova seu apelo às partes envolvidas para que cessem imediatamente as hostilidades."

Os dois morreram na cidade de Kelya, em ataques ocorridos na segunda-feira (23/9). A família do adolescente vive em Foz do Iguaçu (PR).

Em entrevista para a TV RPC, do Paraná, a irmã do jovem diz que ele e o pai foram para o Líbano para trabalhar em uma pequena fábrica familiar de produtos de limpeza.

Hanan Abdallah disse que a família morou por mais de dez anos em Foz do Iguaçu e voltou para o Líbano há cerca de quatro anos. Ela conta que outro irmão de 16 anos também ficou ferido no ataque. Esse jovem e outra irmã — que não estava no local atacado — estão viajando para o Brasil.

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Mais de 600 pessoas já morreram em todo o Líbano desde segunda-feira, quando Israel começou uma intensa campanha com bombardeios contra o Hezbollah, organização muçulmana xiita com grande influência política e o maior poderio armado dentro do Líbano.

De acordo com as Nações Unidas, 90.000 pessoas já precisaram deixar suas casas no país, fugindo do conflito. O êxodo ocorre do sul do Líbano, onde está a fronteira com Israel, em direção ao norte.

A escalada da tensão teve início na semana passada, quando ocorreram explosões de pagers e walkie-talkies usados pelo Hezbollah. As explosões de pagers ocorreram por dois dias seguidos no Líbano, matando ao menos 39 pessoas e deixando mais de 2 mil feridos.

Nesta quarta-feira (25/09), Herzi Halevi, chefe do exército israelense , disse que os bombardeios iniciados na segunda-feira são uma preparação para uma possível entrada de tropas por terra.

"Vocês ouvem os jatos acima; estamos atacando o dia todo. Isso é tanto para preparar o terreno para sua possível entrada quanto para continuar degradando o Hezbollah", disse Halevi às tropas.

"Hoje, o Hezbollah expandiu seu alcance de fogo e, mais tarde, eles receberão uma resposta muito forte. Preparem-se."

Na noite de segunda-feira, o Itamaraty publicou uma nota na qual condenou, "nos mais fortes termos, os contínuos ataques aéreos israelenses contra áreas civis" no Líbano.

"Também deplora declarações de autoridades israelenses em favor de operações militares e da ocupação de parte do território libanês", disse a nota em nome do governo brasileiro, que pediu "às partes envolvidas" a interrupção dos ataques e da "preocupante escalada de tensões".

Foto à noite mostra pistas repletas de carro

Crédito, EPA

Legenda da foto, Bombardeios estão levando a êxodo em massa no Líbano

O Itamaraty assegurou que a Embaixada do Brasil em Beirute está em contato permanente com a comunidade brasileira, prestando "assistência e fornecendo as orientações devidas".

"Reitera-se a recomendação aos brasileiros para deixarem a área conflagrada", disse o governo brasileiro.

O assessor especial da Presidência do Brasil, Celso Amorim, afirmou na segunda-feira que o Itamaraty estava trabalhando para uma possível retirada dos brasileiros do Líbano, dado o contexto de ataques aéreos de Israel ao país.

Pela contagem mais recente do Itamaraty, cerca de 21 mil cidadãos brasileiros vivem no território libanês.

À BBC News Brasil, o Itamaraty esclareceu que "ainda não se sabe se a operação será necessária, nem quanto custaria ou quantos brasileiros estariam interessados".

Amorim afirmou que a situação é "tremendamente revoltante e perigosa, porque ali [há] o risco de uma guerra total em um lugar em que tem muitos brasileiros".

"Aquelas coisas colocadas [pagers e walkie-talkies explosivos]... De repente pode explodir na mão de uma criança brasileira que esteja lá. Muito perigoso", complementou o ex-chanceler, em referência aos dispositivos de comunicação do Hezbollah que teriam sido explodidos remotamente em uma ação de Israel.

Celso Amorim afirmou ainda que o histórico para retirada de brasileiros da área não é favorável.

"Em 2006, eu fui até o Líbano naquela ocasião, mas deu muito trabalho de evacuar os brasileiros."

"Tenho certeza que o Itamaraty já esta planejando alguma coisa nesse sentido. Mas a experiência é dura. Foram 3 mil brasileiros, e hoje as rotas são mais difíceis porque a rota que ia pelo norte do Líbano, direto para a Turquia, hoje em dia não dá [para ser usada]", disse Amorim.