Quem é Marco Rubio, filho de imigrantes cubanos nomeado secretário de Estado por Trump
O presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, nomeou nesta quarta-feira (13/11) o senador Marco Rubio como secretário de Estado — tornando-o a pessoa de origem latino-americana com o cargo mais importante no governo dos Estados Unidos da história.
"Promoveremos a paz através da força", disse Rubio na rede social X ao aceitar a nomeação de Trump para liderar a política externa do país.
Rubio, 53 anos, é conhecido por sua posição linha-dura a favor de Israel e contra a China, o Irã, a Venezuela, Cuba e a Nicarágua. Além disso, é presidente da Comissão de Inteligência do Senado e membro da Comissão de Relações Exteriores.
"Ele será um grande defensor do nosso país, um verdadeiro amigo dos nossos aliados e um guerreiro feroz que não recuará diante dos nossos adversários", disse Trump ao fazer o anúncio sobre Rubio.
O senador americano de ascendência cubana é admirado por seus eleitores na Flórida, que vêem nele um homem de fortes valores tradicionais e cristãos.
Entretanto, seus críticos acusam-no de mudar seu posicionamento em questões-chave como imigração e comércio exterior para se alinhar mais com a ideologia de Donald Trump, a quem criticou duramente no passado.
Alguns analistas acreditam que a sua nomeação como secretário de Estado poderá provocar tensão em países como Cuba, Venezuela e Nicarágua, cujos governos têm estado no centro dos ataques mais ferozes de Rubio.
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"A ditadura de [Nicolás] Maduro está vivendo uma fratura interna e os seus membros sabem que o seu status quo, cheio de incompetência, não é sustentável", disse o senador republicano após as eleições de julho na Venezuela, nas quais Maduro se declarou vencedor sem apresentar todos os registros eleitorais.
Segundo a agência de notícias Reuters, a escolha de Rubio gerou preocupação entre alguns aliados de Trump que acreditam que o senador da Flórida tem uma visão de mundo contrastante com a postura mais isolacionista defendida pelos republicanos da direita radical.
Durante o primeiro mandato de Trump (2017-2021), por exemplo, Rubio apoiou um projeto de lei que tornaria mais difícil os EUA saírem da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), como desejava o presidente. O projeto exigia que dois terços do Senado ratificassem essa decisão.
Para compreender a figura de Rubio, é preciso olhar para o seu passado e por sua trajetória particular que o tornou um dos homens mais influentes da Flórida e, em breve, do mundo.
Filho de cubanos imigrantes
Rubio nasceu em Miami em 1971, filho de pais cubanos que emigraram para os EUA sem dinheiro e sem falar uma palavra em inglês.
Quando ele tinha 8 anos, sua família se mudou para Las Vegas, onde seu pai trabalhou como garçom e sua mãe limpando quartos de hotel.
Retornando à Flórida, Rubio conseguiu ingressar na universidade graças a uma bolsa esportiva e, em 1996, obteve o doutorado em Direito com honras.
Em 2000, após ter atuado em uma comissão municipal na cidade de West Miami, ele foi eleito para a Câmara dos Representantes da Flórida, da qual se tornaria presidente seis anos depois — sendo o mais jovem e o primeiro de origem hispânica a assumir a posição.
Sem dúvida, a trajetória de Rubio — que é casado com uma ex-líder de torcida do time de futebol americano Miami Dolphins, com quem tem quatro filhos — se enquadra no que muitos chamam de o “sonho americano”.
Em 2009, chegou ao Senado em Washington, o que chamou a atenção dos líderes republicanos, que viram nele uma possível reação ao sucesso esmagador de um senador novato que acabara de se tornar presidente dos EUA: Barack Obama.
Naqueles anos, com seu patriotismo e sua defesa da livre iniciativa, da liberdade individual e da redução do tamanho do governo federal, Rubio conseguiu animar a base mais conservadora do Partido Republicano.
O parlamentar se opôs ao pacote de estímulo econômico aprovado pela Casa Branca no início de 2009, bem como à reforma no acesso à saúde promovida pelo presidente Obama.
Além disso, Rubio é antiaborto, contrário a qualquer tipo de anistia para imigrantes irregulares, defensor do porte de armas para cidadãos e da abertura de novas áreas para exploração de petróleo.
'O salvador republicano'
Em 2013, Rubio apareceu na capa da revista Time com o título de "salvador republicano", em um momento em que Obama tinha conquistado grandes vitórias eleitorais.
"Rubio era um parlamentar experiente, com algum passado e relações difíceis", escreveu a colunista do Washington Post Janell Ross em 2016.
"Mas ele era bilíngue, inteligente e latino. Era um cara de quem os doadores do partido gostavam e os eleitores em geral pareciam gostar também."
Isso o levou a tentar uma candidatura presidencial para 2016, sem saber o que estava por vir.
Durante as primárias de 2015, Rubio já teve o imenso desafio de enfrentar 16 candidatos, incluindo nomes como Jeb Bush (ex-governador da Flórida e irmão do ex-presidente George W. Bush), Chris Christie (governador de Nova Jersey) e Ted Cruz (senador pelo Texas).
Mas nem Rubio nem nenhum dos seus rivais perceberam que a verdadeira ameaça às suas aspirações vinha de Donald Trump, a excêntrica estrela bilionária de reality show que captaria a atenção do público com os seus comentários vulgares e pouco ortodoxos.
Após ataques pessoais que Rubio trocou com Trump durante essas primárias, o parlamentar passou a apoiar o empresário durante sua primeira Presidência.
'Secretário de Estado adjunto para a América Latina' informal
Como secretário de Estado, a questão mais importante que Rubio terá de enfrentar, além da crise no Oriente Médio, é a guerra na Ucrânia, sobre a qual compartilha sua posição com a ala mais conservadora dos republicanos.
Rubio disse em entrevistas recentes que a Ucrânia precisa buscar um acordo negociado com a Rússia, em vez de se concentrar na retomada de todo o território que a Rússia conquistou na última década.
Ele também foi um dos 15 senadores republicanos que votaram contra um pacote de ajuda militar de US$ 95 bilhões para a Ucrânia, Israel e outros parceiros dos EUA, aprovado em abril.
Além disso, Rubio é um dos principais críticos da China no Senado, colocando empresas como TikTok e Huawei na mira dos parlamentares americanos.
Ele foi sancionado por Pequim em 2020 por sua posição em relação a Hong Kong após protestos naquele território.
Rubio também não hesitou em atacar governos de países como Venezuela, Cuba e Nicarágua.
O seu papel na política republicana em relação à América Latina tem sido tal que, durante a primeira presidência de Trump, alguns analistas referiam-se a ele como "secretário de Estado adjunto para a América Latina".
Ele foi uma das principais vozes no Congresso dos EUA durante a crise política na Venezuela em 2019 e, segundo o jornal The New York Times, "assumiu o papel de derrubar" Maduro.
Também não hesitou em criticar o abrandamento das relações do seu país com Cuba durante a presidência de Obama.
"O mundo é testemunha das múltiplas formas como o regime de Castro/Díaz-Canel serviu como fantoche da China comunista, do Irã e, mais recentemente, da Rússia", disse ele num discurso no Senado em meados de 2024.
"Os Estados Unidos têm o dever moral de defender os interesses da nossa nação e devemos continuar a defender a ordem democrática e a justiça no nosso hemisfério", acrescentou.
Também tem sido um crítico feroz do presidente da Colômbia, Gustavo Petro, e do governo de Daniel Ortega na Nicarágua, ao mesmo tempo que se aproxima de líderes de direita como Javier Milei, na Argentina, e Nayib Bukele, em El Salvador.