Por que a Casa Branca quer que a Lua tenha seu próprio fuso horário

Bandeira dos EUA com a Lua ao fundo

Crédito, ISLAM DOGRU/ANADOLU VIA GETTY IMAGES

  • Author, Esme Stallard
  • Role, Repórter de Clima e Ciência da BBC News

A Casa Branca quer que a Nasa, a agência espacial americana, desenvolva um novo fuso horário para a Lua, chamado Tempo Lunar Coordenado (LTC, na sigla em inglês).

Devido à intensidade diferente do campo gravitacional na Lua, o tempo passa mais rápido lá do que na Terra — 58,7 microssegundos a cada dia.

Pode não parecer muito, mas isso pode ter um impacto significativo quando você tenta sincronizar espaçonaves.

O governo dos EUA espera que o novo horário ajude a manter coordenadas as iniciativas nacionais e privadas para chegar à Lua.

“Esta teoria fundamental da gravidade no nosso Universo tem uma consequência importante: o tempo passa de maneira diferente em diferentes lugares do Universo", explica a professora Catherine Heymans, astrônoma real da Escócia (um título honorário).

“A gravidade na Lua é um pouco mais fraca, e os relógios funcionam de forma diferente.”

O tempo é medido atualmente na Terra por centenas de relógios atômicos localizados ao redor do nosso planeta, que medem a mudança do estado de energia dos átomos para registrar o tempo em nanossegundos. Se fossem colocados na Lua, durante 50 anos estariam um segundo mais rápido.

“O tique-taque de um relógio atômico na Lua vai ter um ritmo diferente de um relógio na Terra”, afirma Kevin Coggins, alto funcionário do programa de comunicação e navegação espacial da Nasa.

“Faz sentido que quando você vai para outro corpo (celeste), como a Lua ou Marte, cada um tenha seu próprio batimento cardíaco."

Homem e mulher em frente a um relógio atômico antigo em foto em preto e branco

Crédito, BETTMANN/GETTY IMAGES

Legenda da foto, Um dos primeiros relógios atômicos 'maser', em meados da década de 1950
Pule Novo podcast investigativo: A Raposa e continue lendo
Novo podcast investigativo: A Raposa

Uma tonelada de cocaína, três brasileiros inocentes e a busca por um suspeito inglês

Episódios

Fim do Novo podcast investigativo: A Raposa

Mas a Nasa não é a única que tenta tornar o horário lunar uma realidade. A Agência Espacial Europeia (ESA, na sigla em inglês) também vem desenvolvendo há algum tempo um novo sistema de tempo.

Será necessário então haver um acordo entre os países, e um órgão de coordenação centralizado — atualmente, isso é feito pelo Escritório Internacional de Pesos e Medidas (BIPM, na sigla em francês) para o tempo na Terra.

No momento, a Estação Espacial Internacional usa o Tempo Universal Coordenado, porque está na órbita terrestre baixa. Mas o mesmo não seria adequado para a Lua.

Outro aspecto sobre o qual os países vão precisar chegar a um acordo é em relação a onde começa o novo fuso horário e até onde se estende.

Os EUA querem que o LTC esteja pronto até 2026, a tempo da sua missão tripulada à Lua.

A Artemis-3 será a primeira missão a voltar à superfície da Lua desde a Apollo 17 em 1972. Ela está programada para pousar no polo sul lunar, que se acredita conter grandes reservas de água congelada em crateras que nunca recebem luz solar.

Localizar e dirigir esta missão requer extrema precisão, a nível de nanossegundo — erros na navegação podem colocar a espaçonave em risco de entrar em órbitas erradas.

Mas a Artemis-3 é também uma de uma série de missões nacionais planejadas para a Lua, assim como empreendimentos privados. Se o tempo não for coordenado entre elas, isso pode interferir no envio de dados e na comunicação entre espaçonaves, satélites e a Terra.

Gravidade maior = tempo mais lento

Albert Einstein escrevendo fórmula em quadro negro em foto em preto e branco

Crédito, Getty Images

Legenda da foto, A relação entre gravidade e tempo é resultado da pesquisa de Albert Einstein

Como explicamos anteriormente, o tempo passa de maneira diferente em diferentes lugares do Universo.

Não existe um tempo universal comum para todos os corpos celestes, da mesma forma que a força da gravidade não é a mesma para todos.

A ideia de que o tempo é relativo vem da teoria da relatividade geral de Albert Einstein.

Ela parte do pressuposto de que onde a gravidade é mais forte, o tempo passa mais devagar.

E a gravidade é mais forte à medida que a massa de um objeto aumenta.

Por exemplo, um recipiente cheio de um material denso, como uma rocha de granito, tem mais massa e, portanto, mais força gravitacional do que o mesmo recipiente cheio de água.

No espaço, a Lua tem menos massa do que a Terra — por isso, a força gravitacional da Lua é menor do que a da Terra.

Isso explica por que uma pessoa pesa menos na Lua.

Esta gravidade mais fraca é a razão pela qual temos as famosas imagens dos astronautas da missão Apollo dando “um salto gigante para a humanidade” na superfície da Lua.

Então, quanto maior for a massa de um corpo, maior será a sua gravidade — e mais devagar o tempo vai passar.

Em Júpiter, por exemplo, o tempo passa mais devagar do que na Terra, porque a gravidade é maior.

Mas na Lua, o tempo passa mais rápido porque sua força gravitacional é menor.

O que é um fuso horário?

O tempo é dividido ao redor do globo em fusos horários usando linhas imaginárias chamadas meridianos. Eles vão do Polo Norte ao Polo Sul.

Uma destas linhas imaginárias passa por Greenwich, em Londres, no Reino Unido, que estabelece o Greenwich Mean Time, ou GMT.

Países que estão a leste do Reino Unido (como o Japão) estão à frente deste horário base — e países que estão a oeste (como o Brasil) estão atrás.

O Brasil tem mais de um fuso, mas o que é seguido na maior parte do país é o fuso horário de Brasília, equivalente a menos 3 horas do horário em Greenwich, ou seja, é -3 GMT.

Isso significa que quando são 8h da manhã no Brasil, são 11h da manhã em Londres (a não ser que seja horário de verão em algum dos países).