Francisco Wanderley Luiz: quem é o homem que morreu após explosão em frente ao STF

Francisco Wanderley Luiz

Crédito, Reprodução/YouTube

Legenda da foto, Francisco Wanderley Luiz era chaveiro no interior de Santa Catarina e concorreu a vereador com o nome de Tiü França

A Polícia Federal está investigando as explosões ocorridas na noite de quarta-feira (13/11) na Praça dos Três Poderes, em Brasília.

Duas explosões aconteceram na noite de quarta-feira (13/11) nas proximidades do Supremo Tribunal Federal (STF), em Brasília, deixando uma pessoa morta.

A PF investiga as explosões na praça dos Três Poderes como ato terrorista. Na manhã desta quinta-feira (14/11), o diretor-geral da PF Andrei Passos Rodrigues afirmou que o episódio não é um fato isolado, mas conectado com várias outras ações que já são apuradas em outras investigações.

Um boletim de ocorrência da Polícia Civil do Distrito Federal identificou o homem que morreu como Francisco Wanderley Luiz. Ele próprio lançou artefatos em direção ao STF, segundo as investigações, e depois se deitou sobre um explosivo, que foi detonado.

Wanderley Luiz também seria o dono do veículo que explodiu no Anexo IV da Câmara dos Deputados. No porta-malas do veículo, foram encontrados fogos de artifício e tijolos.

A Polícia Militar do DF informou que, ao chegar ao local, "policiais militares encontraram um indivíduo que aparentemente tirou a própria vida com um explosivo".

A área foi imediatamente isolada para uma varredura em busca de outros artefatos e "todos os principais prédios de Brasília e o aeroporto tiveram o reforço do policiamento", de acordo com a PM.

Infográfico mostra locais das explosões em Brasília
Legenda da foto, Após uma primeira explosão em estacionamento entre o STF e o Anexo IV da Câmara dos Deputados, outra explosão ocorreu na Praça dos Três Poderes (local indicado acima)
Pule Novo podcast investigativo: A Raposa e continue lendo
Novo podcast investigativo: A Raposa

Uma tonelada de cocaína, três brasileiros inocentes e a busca por um suspeito inglês

Episódios

Fim do Novo podcast investigativo: A Raposa

Segundo o jornal O Globo, um guarda do STF relatou em depoimento à Polícia Civil do Distrito Federal ter presenciado o momento em que o homem explodiu bombas na Praça dos Três Poderes, próximo a uma estátua da Justiça.

"O indivíduo trazia consigo uma mochila e estava em atitude suspeita em frente à estátua, colocou a mochila no chão, tirou um extintor, tirou uma blusa de dentro da mochila e a lançou contra a estátua. O indivíduo retirou da mochila alguns artefatos e com a aproximação dos seguranças do STF, o indivíduo abriu a camisa os advertiu para não se aproximarem", diz trecho do Boletim de Ocorrência da Polícia Civil citado pelo jornal.

Em seguida, ele teria se deitado no chão e aguardado a bomba explodir.

Imagens das câmeras de segurança do Supremo confirmam o depoimento. No vídeo, Wanderley Luiz aparece se aproximando do prédio do Supremo. Ele lança algo em direção à estátua da Justiça.

Um segurança do STF se aproxima e aborda Wanderley Luiz, que recua. Mas pouco depois, ele lança um artefato em direção ao STF. Depois, lança outro, que explode instantes depois. Em seguida, acende mais um e se deita com a cabeça sobre o explosivo, que é detonado.

Foto de homem com dados sobre sua candidatura

Crédito, Reprodução/TSE

Legenda da foto, Francisco Wanderley Luiz disputou a eleição de 2020 na cidade de Rio do Sul, em Santa Catarina, pelo Partido Liberal (PL), mas não se elegeu

Chaveiro e ex-candidato pelo PL

Francisco Wanderley Luiz tinha 59 anos e era chaveiro em Rio do Sul, cidade de 72 mil pessoas na região do Alto Vale do Itajaí, a 200 km de Florianópolis. Em 2020, ele concorreu a vereador da cidade usando o nome Tiü França, mas recebeu apenas 98 votos e não foi eleito.

Ele foi candidato pelo Partido Liberal (PL), legenda do ex-presidente Jair Bolsonaro.

Em sua declaração ao Tribunal Superior Eleitoral, ele declarou R$ 263 mil de patrimônio, além de uma moto, três carros e um prédio de dois andares em Rio do Sul.

Suas páginas no Facebook e no Instagram foram removidas.

Entre as mensagens publicadas, havia críticas ao STF.

“Tudo o que já foi feito para obtermos melhorias em nosso País e nada deu resultados!!! É hora de mudarmos os caminhos e ações!!! Onde está o grande problema? No judiciário(STF).”

Ele também havia deixado mensagens radicais com ameaças de uso de violência — afirmando ter colocado bombas na casa de um jornalista e políticos. "Polícia Federal, vocês têm 72 horas para desarmar a bomba que está na casa dos comunistas de merda", escreveu.

Wanderley Luiz
Legenda da foto, Wanderley Luiz fez várias postagens com bandeiras do Brasil e também críticas ao Supremo e determinados políticos. Ele era filiado ao PL, partido de Bolsonaro

Em uma das postagens, ele aparece dentro do STF, com a mensagem: "Deixaram a raposa entrar no galinheiro (chiqueiro) ou não sabem o tamanho das presas ou é burrice mesmo. Provérbios 16:18 (A soberba precede a queda)."

Uma terceira mensagem traz outras ameaças: "Cuidado ao abrir gavetas, armário, estantes, depósito de matérias etc. Início 17h48 horas do dia 13/11/2024… O jogo acaba dia 16/11/2024. Boa sorte!!!”

A Polícia Federal informou que foram acionados policiais do Comando de Operações Táticas (COT), do Grupo de Pronta-Intervenção da Superintendência Regional da PF no Distrito Federal, peritos e o Grupo Antibombas da instituição.

"Não é fato isolado"

O diretor-geral da Polícia Federal, Andrei Rodrigues, afirmou que "grupos extremistas estão ativos".

Rodrigues disse que o episódio "não é fato isolado" e está "conectado com várias outras ações que a PF tem investigado no período recente".

Um inquérito policial foi instaurado, sob sigilo, e as autoridades trabalham com a hipótese de atentado contra o Estado Democrático de Direito e atos terroristas, segundo a PF. O caso também será investigado pelo Supremo Tribunal Federal (STF).

"Determinei instauração de inquérito policial, que foi inicialmente feito aqui na superintendência da Polícia Federal, e encaminhamento à Suprema Corte, em razão das hipóteses criminais de atos que atentam contra o estado democrático de direito e também de atos terroristas."

Rodrigues disse que "há indícios de um planejamento de longo prazo".

A ocorrência na capital acontece às vésperas da Cúpula do G20 no Rio de Janeiro (RJ), marcada para as próximas segunda (18/11) e terça-feira (19/11). O G20 reúne as 19 maiores economias do mundo, União Europeia e União Africana.

Entre as lideranças mundiais presentes estarão o norte-americano Joe Biden e o chinês Xi Jinping.

Crescente preocupação com segurança do STF

A segurança do STF tem sido uma preocupação frequentemente apontada pelo órgão e por seus ministros desde o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), que em diversas ocasiões ameaçou descumprir decisões da corte e destratou ministros, em especial Alexandre de Moraes, que vem conduzindo inquéritos que têm como alvo propagadores de notícias falsas e milícias digitais.

Em protestos bolsonaristas, cartazes e manifestantes muitas vezes pediam o fechamento do STF.

Em 8 de janeiro de 2023, a situação culminou com a invasão e vandalização de prédios na Praça dos Três Poderes por parte de apoiadores de Bolsonaro, que havia sido derrotado na eleição do ano anterior. O STF foi um dos prédios mais destruídos nos ataques.

Moraes já tinha sido ameaçado de morte por pelo menos dois homens, que foram presos em 2021.

O ministro afirma também ter sido hostilizado junto com a família no aeroporto de Roma, na Itália, em 2023. Um casal e o genro, acusados de xingar Moraes, estão respondendo pelo caso na Justiça.

Em novembro de 2022, após a derrota de Bolsonaro nas eleições, o ministro Luís Roberto Barroso foi abordado de forma hostil por brasileiros nos Estados Unidos. A um deles, que questionava a confiabilidade do sistema eleitoral, Barroso respondeu com a frase "perdeu, mané, não amola", que ganhou as manchetes.

A Corte tem uma Secretaria de Segurança e policiais próprios, que atuam nas dependências do STF e acompanham os ministros em viagens ou em suas próprias casas. A segurança deles foi reforçada nos últimos anos.

"Até pouco tempo atrás, os ministros do Supremo Tribunal Federal circulavam em agendas pessoais e até institucionais inteiramente sós. Infelizmente, nos últimos anos, fomentou-se um tipo de agressividade e de hostilidade que passaram a exigir o reforço da segurança em todas as situações. As autoridades públicas de todos os poderes circulam com esse tipo de proteção seja em eventos privados, seja em eventos públicos", escreveu o presidente do STF, Luís Roberto Barroso, em nota de junho.

Bolsonaro e Alexandre de Moraes se manifestam

Pule Twitter post
Aceita conteúdo do Twitter?

Este item inclui conteúdo extraído do Twitter. Pedimos sua autorização antes que algo seja carregado, pois eles podem estar utilizando cookies e outras tecnologias. Você pode consultar a política de uso de cookies e os termos de privacidade do Twitter antes de concordar. Para acessar o conteúdo clique em "aceitar e continuar".

Alerta: A BBC não se responsabiliza pelo conteúdo de sites externos

Final de Twitter post

Em seu perfil no X, o ex-presidente Jair Bolsonaro disse que lamenta e repudia qualquer ato de violência.

"Apesar de configurar um fato isolado, e ao que tudo indica causado por perturbações na saúde mental da pessoa que, infelizmente, acabou falecendo, é um acontecimento que nos deve levar à reflexão", escreveu.

Na postagem, o ex-presidente afirma ainda que "passou da hora" de o Brasil voltar a cultivar um ambiente adequado para que as diferentes ideias "possam se confrontar pacificamente".

"A defesa da democracia e da liberdade não será consequente enquanto não se restaurar no nosso país a possibilidade de diálogo entre todas as forças da nação", disse.

"E as instituições têm um papel fundamental na construção desse diálogo e desse ambiente de união. Por isso, apelo a todas as correntes políticas e aos líderes das instituições nacionais para que, neste momento de tragédia, deem os passos necessários para avançar na pacificação nacional."

Já o ministro Alexandre de Moraes afirmou que as explosões "não são um fato isolado", mas sim resultado do "extremismo" e do clima de ódio que se instalou no país.

"Não podemos ignorar o que ocorreu ontem. E o Ministério Público é uma instituição muito importante, vem fazendo um trabalho muito importante no combate a esse extremismo que lamentavelmente nasceu e cresceu no Brasil em tempos atuais. Nós precisamos continuar combatendo isso", disse o ministro ao abrir uma aula magna no Conselho Nacional do Ministério Público.

"O que ocorreu ontem não é um fato isolado do contexto. [...] O contexto é um contexto que se iniciou lá atrás, quando o famoso gabinete do ódio começou a destilar discurso de ódio contra as instituições, contra o Supremo Tribunal Federal, principalmente. Contra a autonomia do Judiciário, contra os ministros do Supremo e as famílias de cada ministro", completou Moraes.

O ministro deve assumir a relatoria das investigações sobre o ataque promovido por Wanderley Luiz, por ser o relator dos inquéritos que investigam as invasões de 8 de janeiro de 2023 ao STF, Planalto e Congresso Nacional.

Repercussões do caso

O ministro da Justiça e Segurança Pública, Ricardo Lewandowski, afirmou que "a Polícia Federal está trabalhando com rigor para elucidar, com celeridade, a motivação das explosões na Praça dos Três Poderes, em frente ao Supremo Tribunal Federal, e nos arredores do Congresso Nacional".

Rodrigo Pacheco (PSD-MG), presidente do Senado, lamentou o ocorrido e chamou a atenção para a necessidade "de garantir a segurança de parlamentares, servidores, colaboradores e visitantes, bem como a integridade do patrimônio público".

Já Arthur Lira (PP-AL), presidente da Câmara dos Deputados, manifestou "total repúdio a qualquer ato de violência".

Ibaneis Rocha (MDB), governador do DF que está de licença oficial, classificou o episódio como "grave" e garantiu que "todas as unidades de segurança e de inteligência do Governo do Distrito Federal estão orientadas a agir com rigor e celeridade para identificar o autor ou autores, bem como a motivação para esses ataques".

O STF divulgou uma nota sobre o ocorrido: "Ao final da sessão do STF desta quarta-feira (13), dois fortes estrondos foram ouvidos e os ministros foram retirados do prédio em segurança. Os servidores e colaboradores do edifício-sede foram retirados por medida de cautela. Mais informações sobre as investigações devem aguardar o desenrolar dos fatos. A Segurança do STF colabora com as autoridades policiais do DF."